Esses dias, conversando com um amigo, falamos da diferença entre as artes e de como elas trabalham, umas mais, outras menos, com a sugestão na recepção de uma obra. Dizendo de outra forma: de como é bom ver um filme ou ler um romance e aquela obra não te dizer tudo, deixar espaços, lacunas, dar sugestões não explicitando tudo, e aí entra a mente atenta da/o espectador/a para preencher e dar sentido à obra, ou com nossa imaginação, ou com uma interpretação a partir do que foi visto/lido.
Esta coluna é sobre cinema, mas antes, para fins comparativos, é legal perceber que na literatura o poder da sugestão é, em princípio, maior, pois quando lemos somos obrigados a imaginar aquelas cenas que estão sendo narradas. A mesma coisa com a música, mas de maneira mais abstrata, imaginamos a partir da sugestão da sequência de acordes, etc. Em artes imagéticas, como o cinema e o teatro, a coisa é mais embaixo, embora haja muita coisa boa que não mostra tudo na cara do receptor, mas sugere a partir do encadeamento de cenas.
Eu, como um apreciador da sétima arte, não gosto de ver um filme que explica tudo, mostra tudo. Assim não tem graça. Mas deixa que avisar um negócio: isto não significa que todos os filmes devam ser assim para serem bons. Não. Mas estou apresentando uma sensação como telespectador, algo que mais me agrada, portanto, pessoal, subjetivo. Até poderíamos entrar em questão de ser bom ou ruim, mas isto é assunto para outro texto.
Penso que o filme que não te mostra tudo respeita mais quem está vendo, porque não pressupõe uma incapacidade de entendimento, pelo contrário, conta com o receptor para completar o sentido, digamos assim. Há diretores que falaram diretamente neste assunto, como Ingmar Bergman, pra mim senão o maior, um dos maiores realizadores da história do cinema, que num making of, em conversa com sua parceira de sempre, Liv Ullmann, dizia, em resposta a uma pergunta dela, que “jamais devemos ajudar o público”. O que queria dizer? Que o ideal de filme para ele é aquele que não entrega o seu sentido de bandeja, mas que pelo contrário se arma numa estrutura difícil, complexa, hermética muitas vezes, e espera ser decifrado.
Outro caso – e certamente não é coincidência que seja pupilo de Bergman – é o de Andrei Tarkovski, diretor russo, autor de obras notáveis e em geral herméticas, como O espelho (1975) e Stalker (1979). Ele comentou certa feita que não gostou muito da montagem final de O espelho, porque “mostrou demais” para o espectador. E para quem viu o filme sabe que isso não existe, é um longa dificílimo, hermético, etc. Mas para o gosto do seu diretor, estava explícito demais.
Há outros casos que daria para citar aqui, como os filmes vanguardistas dos anos 60, os longas de Stanley Kubrick, Paul Thomas Anderson, uma gama enorme de filmes japoneses, as películas de Apichatpong Weerasethakul, Abbas Kiarostami, enfim. A lista é grande e o objetivo deste texto foi levantar uma lebre para um aspecto pequeno porém interessante das artes em geral, o cinema em particular.
Rodrigo Mendes