Orestes faz jus à sua posição de documentário ficcional e, influenciado possivelmente pelo grande documentarista Eduardo Coutinho e por Jorge Furtado, compõem um documentário interessantíssimo. O lance do filme é fazer um paralelo entre a violência no Brasil desde os tempos da Ditadura Militar nos anos 60 aos dias atuais, tendo como referência para a metáfora o personagem grego.
Usando como base a tragédia grega de Ésquilo sobre um parricídio (assassinato do pai), Rodrigo Siqueira estabelece uma analogia atemporal com a Grécia Clássica. E é de se preocupar que uma peça com mais de 2500 anos de história dialogue com nossa vida cotidiana. Essa suspensão da história que vemos cotidianamente hoje em dia é um sinal perigoso do avanço reacionário a que o diretor coloca como inimigo.
O diretor aponta também para a mídia como instituição-chave para alienação (e que foi essencial para que o golpe militar acontecesse). A mulher (a que usa uma camiseta estampada “Justiça é o que se pede!”) compactua com a pena de morte, por exemplo, e o interessante é que Siqueira mantém isso no filme. Essa contradição certamente tem como causa o discurso de ódio propagado pelas mídias e, hoje em dia, disseminada com força pela internet. A narrativa, por não ser totalmente linear, cria um ambiente confuso onde o que prevalece é a aflição.
Repleto de entrevistas que evidenciam a crueldade dos militares, o filme surge como uma crítica veemente aos métodos importados dos EUA e usados em larga escala a partir 1964. Junto a isso, uma trilha sonora interessante pontuando o filme com altas notas de quando em quando e uma direção segura do diretor, faz com que Orestes seja mais um dos bons documentários que o Brasil vem produzidos nos últimos tempos, um longa que merece atenção.
Rodrigo Mendes