Na noite de sábado (24) a Brigada Militar matou com 5 tiros o jovem Lucas da Silva, de 21 anos, no Condomínio Princesa Isabel, localizado no Bairro Azenha, região central de Porto Alegre. De acordo com moradores, após ser imobilizado, baleado e morto ele foi arrastado até a rua e colocado na viatura sem vida na frente de crianças. Embora a versão da Brigada Militar informe troca de tiros (o que para a visão da polícia justificaria a ação), testemunhas da comunidade negaram. Indignados e pedindo justiça, moradores bloquearam as Avenida Bento Gonçalves e Princesa Isabel com uma barricada de fogo em pneus. Em cerca de 30 minutos, o batalhão de Choque da Brigada Militar reprimiu a manifestação com bombas de gás lacrimogênio, efeito moral e bala de borracha. Uma das balas atingiu o olho de uma moradora, que corre risco de ficar com a visão prejudicada.
Diante dos acontecimentos, o Repórter Popular vem a público expressar sua posição, porque nós temos lado sim. E esse lado é o lado do povo oprimido! Não enganamos ninguém dizendo que somos neutros como as grandes mídias privadas que mandam no país. Não existe neutralidade no jornalismo. Toda notícia escolhe certas imagens, certas palavras, certos informantes e criam um discurso misturando isso tudo para passar a uma versão dos fatos. Todo jornalismo é parcial, porque parte de uma visão de mundo e oferece uma parte da realidade. Por isso, diante dos impérios de comunicação, estamos mostrando o lado da história contada pelo povo que quem sofre e luta.
Nossa cobertura do acontecimento gerou grande debate no Facebook com comentários diversos. Muitas pessoas sensibilizadas e indignadas, contribuíram para denunciar a violência policial. Mas também muitas pessoas destilando ódio aos moradores do condomínio, à vítima, ao Repórter Popular e a todo mundo que denunciasse o assassinato. Nada de novo, afinal há tempos que a internet criou a uma falsa realidade de debate e compartilhamento de informações. Notícias falsas são compartilhadas como verdadeiras. Imperam os discursos raivosos criados e veiculados por grupos políticos de direita que aparecem com suas expressões repetidas nos comentários de pessoas que sequer sabem que estão sendo usadas. A maioria dessas pessoas sequer sabe que ao ser usada, está fortalecendo idéias de ódio aos pobres e um programa político que quer acabar com os poucos direitos que temos.
Estamos diante de um projeto político no qual os poderosos ativam o medo das pessoas para continuar segregando e exterminando a população negra e pobre do país. Assim como o Assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes no Rio de Janeiro, em meio à Intervenção Federal Militar, a morte de 5 jovens por milicianos em Maricá no dia 25 de março, o assassinato de Lucas da Silva no Condomínio Princesa Isabel em Porto Alegre faz parte desse projeto racista e elitista.
A polícia do Brasil é a que mais mata no mundo, conforme a organização “Anistia Internacional”. Em geral, são homicídios de pessoas já rendidas, exatamente como contam as testemunhas do Condomínio Princesa Isabel. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, as forças policiais mataram 4.224 pessoas em 2016. Sabemos que as investigações são feitas pela própria polícia e normalmente não levam a lugar nenhum. Isto não é uma simples falha da polícia ou dos governos: é a forma de operar do Estado que mata com balas ou com cortes de verbas em políticas sociais.
Este Estado Policial de Ajuste, com seus governos pelo país, como se não bastasse cortar gastos da saúde, educação e assistência social ainda precisa matar para se manter de pé. Enquanto o Estado assassinar pelas mãos da polícia, nós iremos noticiar e denunciar. Não haverá gota de sangue do povo que não se tornará pauta de reportagem e pauta de luta, porque somos um coletivo de comunicadores que lutam e de lutadores que comunicam.
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