“Todo mundo perde muito”! Leia o depoimento de Douglas Reis sobre o Queermuseu

“O cancelamento da exposição Queermuseu foi mais uma oportunidade perdida”. Assim começa o texto de Douglas Reis, que é publicitário, gay, Drag Queen e ativista LGBT+, sobre o episódio deste final de semana envolvendo o cancelamento arbitrário da exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira.

Douglas havia visitado a exposição no Santander Cultural antes dos ataques proferidos por grupos católicos e pelo Movimento Brasil Livre – MBL começarem a fazer barulho nas redes sociais. A notícia do cancelamento trouxe surpresa e revolta. À pedido do Repórter Popular, Douglas escreveu um depoimento em que afirma que esse ato unilateral é prejudicial para toda a população. “Não são só as pessoas LGBT+ que perdem. Todo mundo perde muito”.

Em seu depoimento, Douglas também critica o Santander e sua decisão de cancelar a exposição, tirando qualquer possibilidade de diálogo possível.”O Santander deu um passo à frente. Depois deu dois passos atrás. Resolveu recuar. Resolveu se desculpar”.

 

Leia o depoimento na íntegra:

O cancelamento da exposição Queermuseu foi mais uma oportunidade perdida. A arte abstrai o literal e essa é uma forma saudável de iniciar um debate acerca de qualquer temática. Com a diversidade não precisava ser diferente. Mas parece que um grande número de pessoas não está disposto a refletir sobre os seus privilégios e considerar realidades distintas da sua. Realidades de pessoas que são assassinadas por terem um comportamento fora do padrão.

Isso é muito sério: ser privado do direito de viver por não corresponder a um padrão de comportamento. “Ou você leva a vida como eu acho que deve levar, ou eu te tiro ela”.

Sobre o ocorrido: os coitados pediram o fim da exposição com o argumento de que o conteúdo seria impróprio. Hahaha. Essa história de bancar o politicamente correto para destilar preconceitos já é bem velha, gente. Ninguém acredita mais nisso não.

Essa exposição poderia sido um passo para que cada vez menos pessoas fossem covardemente assassinadas. Vocês não eram os defensores da vida? Que vida é essa que só tem valor se couber na caixinha de vocês?

O Santander deu um passo à frente. Depois deu dois passos atrás. Resolveu recuar. Resolveu se desculpar. Por medo? Não. Medo é o que a população LGBT+ sente quando sai na rua.

Esse pedido de desculpas não me representa. Se alguém deve desculpas aqui, é quem sequer teve a dignidade de dedicar um minuto do seu dia a entender como debater a diversidade é importante. E não devem desculpas a mim, devem a si próprios. Não pensem que esse é um pedido para que tenham empatia, longe disso.

Se dispor a refletir sobre diversidade teria sido um ato de autopiedade. Conhecer a diversidade é conhecer mais sobre vocês mesmos. É entender mais sobre si próprio, aprender a se aceitar. Aprender a se amar. Não são só as pessoas LGBT+ que perdem. Todo mundo perde muito. Perde a oportunidade de entender que dentro de cada um dos nossos umbigos egoístas há muito mais cor do que podemos enxergar.

Sobre essa exposição: ela é só mais uma. Uma pena que vá acabar. Mas a diversidade não vai. Ela está em todos os lados e ela não vai evaporar porque um grupo de pessoas privilegiadas resolveu bater o pé. Vamos enaltecer a cultura LGBT+. Vamos enaltecer a cultura não-branca. Vamos dar voz a quem sempre foi silenciado. Se não for no museu, que seja na rua. Mas que seja.

– Douglas Reis