Prefeito Adriano Bornschein Silva (Novo) ataca a Cidade Cultural Antárctica de Joinville

Vinte e quatro anos atrás, a cidade era governada pelo prefeito com um toque de megalomania, Luiz Henrique da Silveira, do MDB. Na ocasião, com carta branca da ACIJ (Associação Empresarial de Joinville) e sem nenhuma consulta prévia com trabalhadoras, trabalhadores culturais e associações artísticas, decidiu transformar a cidade em sua “renascença”, ao menos era o que ele escrevia, domingo sim, domingo não, em sua coluna no jornal A Notícia. Eis que, por R$ 2,1 milhões, comprou a antiga cervejaria Antárctica, localizada na Rua XV de Novembro, no Centro, para transformá-la em um espaço cultural, e declarou aquele ano como o “ano do teatro” na cidade.

Por mais de duas décadas de luta, organização, resistência, avanços e retrocessos, fluxos e reflexos, erros internos e externos, a classe trabalhadoras do setor manteve de pé a Cidade Cultural Antárctica. Em especial, a atuação da AAPLAJ (Associação dos Artistas Plásticos de Joinville) e da AJOTE (Associação Joinvilense de Teatro), que fez da arte um direito humano.

Cidadela sendo ocupada pede arte (Fabrício Porto)

Em 2025, sexto ano na vida na cidade sendo governada por Adriano Bornschein Silva (NOVO), viver aqui é estar sob ataque diário. Trata-se de uma ofensiva neoliberal implacável. Tornou-se um chavão afirmar que “o NOVO não tem nada de novo” ou algo do tipo. Em Joinville, o partido de cor laranja e vocabulário recheado de palavras em inglês se tornou o abrigo da nova geração da classe dominante da ACIJ. Agora, no segundo mandato, com uma expressiva votação para prefeito e ampla coligação, o partido detém domínio na Câmara de Vereadores.

O ataque da vez é a Cidade Cultural Antárctica, cuja privatização tem como principais pessoas interessadas aquelas que são ignorados por Adriano Bornschein. Nossa visão se torna clara à medida que ele busca higienizar a região central, dedicando-a à elite cultural e pautando um recorte eurocêntrico, em que a branquitude e o dinheiro são a tônica em detrimento dos projetos coletivos das pessoas trabalhadoras da cultura. Se há vinte e quatro anos tivemos o “renascimento” imposto goela abaixo, agora é a vez do neoliberalismo.

Leia na íntegra a carta da AAPLAJ:

Carta aberta à comunidade:
A Associação de Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ) é uma das mais destacadas instâncias de organização da classe artística de Santa Catarina e, hoje, com 42 anos de atividade, representa mais de 80 artistas da pintura, da fotografia, da gravura, da escultura, da performance, da colagem e da instalação. É uma instituição de reconhecida utilidade pública para o município, espaço de encontro e realização de projetos coletivos listado desde 2024 como Ponto de Cultura pelo Ministério da Cultura (MinC).

A AAPLAJ oferece uma intensa programação, com atividades gratuitas que vão desde as exposições de seus artistas associados até cursos abertos à comunidade, passando por feiras, oficinas, mostras de filmes, rodas de conversa e palestras, cumprindo um papel imprescindível para a promoção da cultura, na ausência de editais e de outras iniciativas públicas para a divulgação da arte como a Coletiva de Artistas de Joinville e o Salão dos Novos. Os galpões que a associação ocupa na Antarctica há mais de duas décadas são visitados regularmente por um público anual de 8 a 10 mil pessoas e, junto com a Associação Joinvilense de Teatro (Ajote), mantêm em funcionamento um conjunto de prédios que legalmente deve ser dedicado à arte e à cultura.

Entretanto, está em andamento um projeto para entregar a Cidadela Cultural Antarctica à iniciativa privada, obrigando Ajote e AAPLAJ a abandonarem espaços que vêm há anos recebendo manutenção, melhorias e investimentos destas associações para que se mantenham funcionais, seguros e à altura das demandas da comunidade por artes visuais, teatro e outras manifestações culturais. Desde 2023 a AAPLAJ vem requerendo formalmente – e sem sucesso – acesso às informações do processo de concessão e uma participação ativa no Protocolo de Manifestações de Intenções (PMI), estudo que está sendo elaborado para definir novos usos e finalidades da Antarctica.

O processo, todavia, se acelera sem abertura para a participação das associações. Ao fim de 2024, a AAPLAJ foi comunicada da necessidade de sair dos galpões que hoje ocupa graças à concessão pública de uso. De início, a prefeitura sugeriu que a mudança poderia ser feita para um de dois imóveis que, infelizmente, não atendem às exigências de acessibilidade para comunidade, tampouco às necessidades mínimas de espaço e de estrutura para as atividades dos artistas.

As negociações seguem e gradativamente envolvem outros setores da comunidade como a Câmara de Vereadores e a imprensa, mas os prazos para resolução do despejo da AAPLAJ seguem indefinidos e o futuro da Antarctica como estrutura dedicada à cultura continua incerto. A AAPLAJ continuará lutando para que a cultura seja priorizada no município, reafirmando seu compromisso com a arte como direito indispensável para formação humana e social.

Contamos com o apoio de toda comunidade que nos acompanha e prestigia no esforço para que a AAPLAJ receba um local adequado para a sua instalação e continue sendo um importante instrumento cultural em nosso município.

*A coluna Vivo Na Cidade é uma iniciativa do militante Mk, de Joinville/SC, com atuação na luta comunitária. O objetivo da coluna é relatar aspectos da luta popular na cidade, passando por questões políticas, econômicas e culturais.

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