Grupos organizam manifestação contra escala 6×1 em Porto Alegre/RS

Repórter Popular RS

No último domingo, 16 de fevereiro de 2025, cerca de 100 pessoas e grupos organizados se reuniram em frente ao supermercado da rede Zaffari na Av. Ipiranga, em Porto Alegre, em manifestação contra a escala de trabalho 6×1, reivindicando “viver mais, trabalhar menos”. O Repórter Popular acompanhou a manifestação e segue abaixo um breve relato da ação, assim como uma contextualização.

Inicialmente, a pauta dessa manifestação começa a ganhar corpo quando, em setembro de 2023, um vídeo de Rick Azevedo no TikTok viraliza, criticando a escala de trabalho 6×1, que é adotada em muitas empresas dentre elas farmácias, shoppings centers e outros setores comerciais, tele-marketing…

O vídeo chamava a atenção para a falta de tempo livre às pessoas trabalhadoras submetidas a essa escala, o baixo salário e a impossibilidade de tempo para o lazer, o prazer e a vida familiar e social. Muitas pessoas se identificaram, no universo da internet, com o chamado de Rick à revolta e ao protesto. O movimento teve uma expansão virtual importante desde então.

Após essa popularização, Rick Azevedo chegou a se eleger como vereador no Rio de Janeiro, além de que em maio de 2024 a deputada Erika Hilton inicou a discussão de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) sobre redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, com escala de 4 dias durante a semana.

Fotos da manifestação ocorrida em 15 de nov de 2024

No dia 15 de novembro de 2024 houve uma mobilização nacional em torno do tema, enquanto a proposta da PEC angariava assinaturas no Congresso Nacional. Manifestações ocorreram em todo território nacional, incluindo na cidade de Porto Alegre, que contou com cerca de 3 mil pessoas nas ruas.

Nesse contexto de mobilização, outro acontecimento engrossou o caldo do debate: as escalas de trabalho na Companhia Zaffari e Bourbon, uma das maiores redes de mercados e shoppings no Rio Grande do Sul.
Em dezembro de 2024, o portal de notícias Brasil de Fato noticiou uma série de denúncias de trabalhadores e trabalhadoras da companhia, que indicavam escalas de trabalho 10×1. Além da escala exaustiva, matérias denunciaram baixos salários, empecilhos relacionados às horas extras (pagas em Vale-Alimentação), trabalho 3 domingos seguidos e dificuldades de agilidade para o uso de banheiro pelas e pelos trabalhadores. Isso com a anuência do Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre (SINDEC) e com algumas leis atuais que permitem essa modalidade.
Na prática, tal regime é embasado nas leis atuais que garantem que, ao menos uma vez na semana, o trabalhador tem direito a uma folga. No entanto, já que certos estabelecimentos abrem todos os dias da semana, isso permite que um trabalhador folgue numa segunda-feira, por exemplo, e na próxima semana folgue na sexta-feira. Nesse caso ele vai trabalhar de terça desta semana até quinta da outra semana, totalizando 10 dias seguidos de trabalho. É sobre isso que se refere quando é mencionado escala 10×1.
No entanto, mesmo que isso se aplique nas leis vigentes, isso não quer dizer que seja justo, adequado, ou que não possa mudar. As discussões que se acenderam com a perspectiva de “viver mais, trabalhar menos”, ou da “vida além do trabalho”, parecem propor a melhoria da atual condição de vida de trabalhadores.
A Companhia Zaffari tem mencionado em reportagens da Brasil de Fato que tudo está dentro da legalidade, mas não se posiciona sobre os baixos salários e outras possibilidades de escala de trabalho. Apesar disso, menciona estar disposta a negociar com o Sindec os novos acordos de trabalho (rompidos por esse sindicato em dezembro de 2024, após denúncias), e seguirão um contexto de acordos a partir de março de 2025.
A Companhia Zaffari envolve um poderoso capital, tendo iniciativas de empreendimentos imobiliários, atacado e varejo, projetos que envolvem centenas de milhões de reais.
Manifestação ocorrida em 15 de nov. de 2024

Depois da manifestação de 15 de novembro de 2024, outros protestos ocorreram porém com menos adesão nas ruas. Diferentes grupos de partidos ou coletivos/organizações têm pautado a crítica à escala e incentivo à organização de setores de trabalhadores submetidos à essa forma de trabalho.

No dia 16 de fevereiro, uma concentração com cerca de 100 pessoas se formou no Zaffari da Avenida Ipiranga, em POA, com bandeiras e frases de protesto. Inicialmente, observamos que alguns trabalhadores em frente ao Zaffari fizeram gestos de apoio ao protesto, porém com discrição.

O grupo formou uma marcha que desceu a Rua Vicente da Fontoura em direção à Av. Ipiranga, e por um tempo se deteve nas sinaleiras fazendo cantos de protesto e circulando cartazes. As frases e cantos que circulam as críticas à essa escala, indicam um ponto interessante: com a redução de horas de trabalho no dia e ao longo da semana, além das pessoas poderem viver mais, com maior qualidade de vida, também haveria mais trabalho para outras pessoas desempregadas.

Ao final da marcha, o grupo foi andando pela Av Ipiranga e encerrou seu protesto na loja da lancheria Mc Donald’s, na Av SIlva Só. Manifestantes entraram na loja, tentaram conversar com trabalhadores do local e com consumidores ali presentes.

 

A empresa Mc Donalds também adota a escala 6×1 em sua rede pelo país. Trabalhadores do local chegaram a esboçar curiosidade, mas a gerência os afastou da parte de atendimento da loja.

 

 

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