Apresentação, metodologia, objetivos e princípios do ELAOPA 2025

O Repórter Popular apresenta abaixo o documento preparatório para o XV ELAOPA 2025, incluindo apresentação do encontro, contexto político, metodologia, objetivos e perguntas disparadoras para debate prévio dos movimentos sociais participantes. Ao final, acrescentamos também o material sobre princípios publicado nas redes sociais do ELAOPA 2025. A versão original do documento preparatório pode ser conferida aqui. A foto em destaque é do XIII ELAOPA 2019, realizado no Brasil.

“Do sul do mundo levantamos a resistência”.

Apresentação
O Encontro Latinoamericano de Organizações Populares Autônomas (ELAOPA) surgiu em 2003, no marco da terceira edição do Fórum Social Mundial (FSM), instância organizada como “um espaço internacional de encontro para a reflexão, o debate democrático de ideias e a procura e construção de alternativas daqueles, no mundo, que se opõem à globalização neoliberal, à dominação do capital e contra todas as formas de imperialismo”, em contraposição ao Fórum Econômico Mundial em Davos (Suíça), que se reúne desde 1971 e desempenha um papel estratégico na formulação das políticas neoliberais no mundo.

No entanto, essa instância não era representativa do mundo popular, das suas organizações e das suas lutas, fazendo necessária a organização do ELAOPA, como um espaço diferenciado dos setores empresariais, partidos políticos e ONGs, que se reuniram no FSM. Desde sua origem, o ELAOPA se apresenta com o caráter de autonomia de classe, aglutinando movimentos sociais por fora da institucionalidade estatal e até hoje esta continua sendo sua principal característica, convocando organizações sindicais, territorial-comunitárias, estudantis, socioambientais, de povos originários, de direitos humanos, feministas e todas as forças organizativas que se identifiquem com
os seguintes princípios:

1 – A construção do Poder Popular
2 – Uma perspectiva antipatriarcal e anticolonial
3 – O protagonismo popular e a ação direta
4 – A solidariedade de classe, o apoio mútuo e o internacionalismo.

Nos dias 25 e 26 de janeiro de 2025 acontece a 15ª edição do ELAOPA, na Comunidade La Bandera, em Santiago do Chile, onde esperamos a presença de organizações de todo o continente. Convidamos vocês a fazer parte deste espaço de encontro e discussão política.

Contexto do período
Durante as últimas décadas, como resultado do aprofundamento do modelo capitalista na América Latina, vivemos o recrudescimento das condições de opressão na nossa classe. Isto já não pode ser compreendido apenas com base na matriz de dominação capital-trabalho ou numa dimensão econômica clássica, pois precisa de perspectivas que permitam dar visibilidade a outras formas de representação da estrutura dominante. Assim, aparecem com força as reivindicações contra o patriarcado e o colonialismo, que se misturam com a opressão de classe, dificultando nossas possibilidades de resistência e exigindo toda nossa capacidade para enfrentá-las de forma criativa, construindo coletivamente o mundo novo que desejamos. Os atuais ciclos de mobilização que têm se desenvolvido no continente são responsáveis por isso, representando com força as lutas territoriais, por vida digna e manifestam o desconforto que atravessam nossas corporalidades por causa da dominação entrelaçada de classe-gênero-raça que nos foi imposta de forma violenta.

Para contribuir com o fluxo de acumulação de forças de nossa classe, nesta edição do ELAOPA, nos desafiamos a problematizar essas forças dominantes para identificar nitidamente os elementos que nos permitem construir repertórios de luta contra-hegemônica, dando ênfase na dominação patriarcal
e colonizadora para integrá-las à luta de classes.

Metodologia ELAOPA 2025
Os tempos atuais são complexos e muitas vezes os ventos não sopram a nosso favor, é por isso que temos que tentar construir ferramentas metodológicas que facilitem um diálogo profundo, que permitam que escutemos nossas diferenças, um diálogo fecundo e aprendizado coletivo, sempre com o horizonte inconfundível de nossos objetivos. Nesse sentido, este ELAOPA gira em torno de três grandes problemáticas:

a) o patriarcado e os processos de despatriarcalização para dentro das organizações presentes;
b) o desenvolvimento e/ou fortalecimento de experiências de poder popular e;
c) as possibilidades de acordos táticos e/ou projeções conjuntas.

Parece-nos importante sublinhar que se decidiu abordar o problema do patriarcado porque é urgente nos munir de ferramentas políticas para compreender e combatê-lo coletivamente, como um eixo de dominação que, articulado com o capitalismo, funciona como um regime de exploração e opressão inegável.

Por outro lado, a necessidade de projetar uma força social própria da classe oprimida, capaz de lutar de forma organizada e conquistar uma vida digna, alegre e plena para a grande maioria da classe trabalhadora, nos obriga a propor um caminho transversal para esse encontro, a urgente e necessária construção de um poder popular autônomo e autogestionário que, para além de nossas particularidades, se transforme num projeto coletivo de grande escala.

Por fim, será abordada a possibilidade concreta de avançar em aprendizados, caminhos e horizontes comuns que guiem nossos passos. Para isso, é urgente compartilhar experiências, enfrentar nossas contradições, expandir nossas particularidades e construir relatos coletivos transversais que acompanhem e deem mais força a nossas lutas.

Esta proposta metodológica é construída com a convicção de contribuir com um encontro alegre, horizontal e respeitoso entre companheiras/os/es diversas/os/es, que se sustenta a partir dos seguintes objetivos:

Objetivos do encontro e mesas temáticas

Objetivo geral
Problematizar e aprofundar horizontes de luta comuns, condizentes aos desafios atuais na região de Abya Yala.
Objetivos específicos
1) Posicionar o patriarcado como um eixo de dominação relevante e influente em todos os nossos níveis de luta;
2) Encontrar formas de transversalizar nossas diferentes lutas no poder popular;
3) Traçar possibilidades táticas em comum, de maneira intersetorial.

Isso será trabalhado em seis mesas temáticas, cada uma marcada pela contribuição que tem para a discussão, reflexão e concretização dos objetivos do encontro:

• Mesa territorial ou comunitária
• Mesa de servidoras/es públicos
• Mesa de trabalhadoras/es do setor privado
• Mesa memória, cultura e agitação e propaganda
• Mesa socioambiental
• Mesa de educação

Questões a se trabalhar
Durante o encontro trabalharemos as três seguintes perguntas transversais, pelo que as organizações participantes são convidadas a discutir previamente em suas coletividades, para que as intervenções no encontro reflitam posições discutidas e trabalhadas coletivamente.

1. Com base nas perspectivas, experiências e/ou problemáticas percebidas por sua organização, compreendendo que o patriarcado é um eixo de dominação que aciona o capitalismo em múltiplos níveis da vida, como se desenvolve o patriarcado e quais efeitos, consequências, atos de resistência e transformações surgem em nosso trabalho político? Considere dinâmicas internas da organização, relações entre organizações e com as comunidades com as quais trabalha.

2. Considerando o contexto geral da América Latina, além de nossas lutas locais, e entendendo o poder popular como a construção de nossa própria força organizada autônoma, como temos conseguido implementar e fortalecer experiências de exercícios de poder popular? Considere ações e dificuldades.

3. Considerando as tensões e dificuldades que existem na construção coletiva de um projeto político de e para nossa classe, como unimos nossas lutas para projetá-las de maneira articulada a curto, médio e longo prazos?

Princípios do ELAOPA

Independência e autonomia de classe
O ELAOPA promove, em todo momento, a autonomia frente aos partidos políticos, ao Estado e seus governos, às Organizações Não Governamentais (ONGs), às empresas e a todos aqueles que tentam impor suas estruturas autoritárias, alheias às nossas realidades. Somos as organizações populares as construtoras de uma alternativa contra a precarização da vida e lutamos contra todas as formas de opressão, sem depender de qualquer estrutura que vá contra as nossas condições e interesses de classe, mantendo nossa independência do Estado, do Poder Judiciário e Legislativo, e dos partidos políticos. Portanto, não buscamos disputar cargos de representação por meio de eleições parlamentares. Além disso, não queremos que ninguém ou nada defina nossas lutas, critérios, acordos ou formas de funcionamento. Os planos de luta são definidos por nós, como organizações, de maneira autônoma, sem permitir que qualquer instituição interfira.

Perspectiva de despatriarcalização e descolonização
O ELAOPA reafirma a existência do sistema de dominação capitalista, patriarcal, colonialista e racista. Por mais de 500 anos, desde a invasão europeia e o processo de diáspora africana, essas estruturas têm oprimido os povos. Hoje, os Estados e as empresas extrativistas representam uma grande ameaça ao povo e ao planeta. O avanço do neoliberalismo e do conservadorismo reforça a heteronormatividade, os papéis tradicionais de gênero e intensifica a violência do capitalismo, especialmente contra a comunidade LGBTQIA+. Após mais de 500 anos de dominação e exploração no nosso continente, ainda persiste um mecanismo ideológico de discriminação que reproduz a mesma crueldade contra milhões de seres humanos e suas terras. A escravização dos povos negros e indígenas na América Latina deixou marcas profundas nas estruturas sociais da região. A discriminação racial se manifesta em todos os setores das relações cotidianas. Entendemos que a constituição da sociedade é marcada por uma violência patriarcal, que se radicaliza cada vez mais em nossos territórios. Por isso, é fundamental que nossas organizações se empenhem em despatriarcalizar nossas ações e condutas, combatendo o machismo, o sexismo, a heteronormatividade e qualquer forma de ódio contra as mulheres e as dissidências.

Construção do poder popular e autogestão
O ELAOPA reúne organizações com o objetivo central de construir o poder popular e a autogestão. Reafirmamos a capacidade da nossa classe de construir e antecipar as condições necessárias para superar o poder da classe dominante em cada espaço de luta. O poder burguês é derrotado pelo poder popular. Ao construir o poder popular do povo desde já, estamos, assim, construindo a nova sociedade do amanhã. A sociedade dos nossos sonhos deve ser construída em cada uma das nossas lutas. Para isso, é fundamental que nossas organizações aumentem sua participação e protagonismo popular, buscando soluções coletivas e rompendo com as visões eleitorais e institucionais. Quando falamos em poder popular, queremos dizer que o povo deve ter a capacidade de resolver seus próprios problemas, sem delegar essa responsabilidade a outros.

Participação ativa e ação direta
O ELAOPA entende esses princípios como fundamentais para promover as organizações populares. Eles estão diretamente relacionados à busca de uma alternativa política construída de baixo para cima e fora do Estado e das instituições. O objetivo é que as organizações construam soluções coletivas por meio da participação e da força própria. As organizações populares não devem promover líderes populistas, nem dirigentes com concentração de poder ou que imponham suas orientações sobre o destino das lutas. As definições e decisões devem surgir do incentivo à participação de todas as pessoas envolvidas. Por isso, é fundamental que nossas organizações se estruturem em instâncias que promovam o diálogo, a autoeducação e a tomada de decisões de forma direta e coletiva. A construção de uma vida digna em nossos territórios será alcançada por meio da luta e do combate, que nos permitirá resolver diretamente os problemas, sem a necessidade de intermediários. É por meio da nossa luta e ação que conquistaremos nossas reivindicações e avanços políticos.

Solidariedade de classe, apoio mútuo e internacionalismo
O ELAOPA entende como fundamental a unidade e a solidariedade com aqueles e aquelas que lutam. O objetivo é construir uma extensa rede de organizações continentais, coordenar e alinhar elementos estratégicos e metodológicos de lutas, além de apoiar diversas iniciativas solidárias nas lutas contra a dominação que acontecem em nosso continente. Nos últimos anos, cresceu o fenômeno da imigração, o que torna necessário lutar ao lado de nossos povos irmãos contra o racismo e a discriminação. Diante do avanço de um modo de vida baseado no individualismo e no empreendedorismo, no contexto de um forte discurso de insegurança, a população é levada ao isolamento da vida social e das organizações territoriais. É fundamental incentivar a solidariedade e o apoio mútuo como pontos centrais de qualquer projeto social.

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