Alegrete em Luta – 3 meses após as enchentes no RS

Foto de capa: reunião de moradoras e moradores nos idos de outubro de 2023

Repórter Popular RS
Passado mais de três  meses após as grandes enchentes e inundações no RS, cidades como Alegrete na fronteira oeste do Estado ainda não alcançaram a prometida e mínima dignidade para dezenas de famílias e pessoas atingidas diretamente pela força das águas. 
Em um cenário agravado pela crise climática, em uma das regiões em que seu Bioma é brutamente destruído pelo Agronegócio dia após dia, acumulasse retratos de descaso e falta de planejamento urbano que dê conta de um modelo de cidade capaz de mitigar os impactos de eventos naturais extremos, dos quais, infelizmente, estaremos condicionados a viver. Neste contexto são os e as mais pobres, que vivem nas áreas de riscos e periferias, os primeiros a serem impactados drasticamente. 
Em Alegrete, no inicio do mês de Maio, assim como, em centenas de outras cidades gaúchas, as cheias e falta de planejamento urbano para escoamento de águas fizeram com que muitas pessoas e famílias tivessem que abandonar suas casas por conta das fortes chuvas. 
O Repórter Popular tem acompanhado o caso da Comissão de Luta de Bairros atingidos em Alegrete RS e aqui fazemos um breve resumo da situação da cidade e dessa luta, a partir de alguns relatos vindos de lá.
    
 Na zona leste da cidade, que sofre há anos com o tema dos alagamentos, moradores dos bairros Segabinazzi e Dr Romário tiveram mais uma vez seus lares destruídos. Esta região  não é atingida por conta da cheia do Rio Ibirapuitã, mas sim porque o sistema de esgoto e escoamento de águas não funciona, não existe ou não se mantém a manutenção destes. 
Nestas localidades, qualquer chuva que ultrapasse os 80 mm já causa estragos nas casas de dezenas de pessoas. É corriqueiro, quase que banal a triste e injusta situação em que vive essa vizinhança, quase que todas as casas mantém o pouco que não foi destruído pelas enxurradas “erguidos do chão”, de forma improvisada e cansativa, assim é o “novo normal”.  
Durante as enxurradas, crianças e pessoas com dificuldades de locomoção passam horas em cima de mesas ou locais altos dentro de suas próprias casas quando a chuva aperta e não da trégua. Na rua Daniel Krieguer, no bairro Dr Romário, por exemplo, são mais ou menos duas quadras inteiras alagadas, onde a agua passa da altura das janelas. Assim como no bairro vizinho Segabinazzi não é diferente, onde a água não entra nas casas, deixa as pessoas ilhadas, com problemas que agravam a saúde, como infestações de insetos, ratos, etc.  
Reunião de moradores do Segabinazzi e Dr Romário em outubro de 2023

Em um periodo de praticamente dois anos, vizinhos e vizinhas se juntaram em uma Comissão de luta e solidariedade para reivindicar do município melhorias no sistema de escoamento de águas nos bairros. 

Foram feitas diversas reuniões, assembleias, delegações até a prefeitura, protesto com fechamento de rua, debate e denuncia em rádio, em eventos da cidade onde algumas conquistas pontuais foram obtidas, como o inicio de limpeza de valos e bueiros, colocação nova tubulação em partes importantes do bairro.
Porém, o problema dos alagamentos continua, as obras pararam e a demanda por uma obra grande, construção de novas  galerias, que até então não saíram das promessas e dos papéis.
O mais curioso é que em todas as ocasiões com representantes da prefeitura, secretários de infraestrutura do município, todos eles  garantiram que recursos não faltam  e maquinário também não, mas que problema é o projeto de engenharia  que é demorado, que existe muita demanda, etc.  Uma das moradoras pergunta:
 “Quase dois anos de mobilização e um projeto de canalização e escoamento de águas não sai do papel por questões técnicas? Ou seria por vontade política e prioridades em ano eleitoral?”
“As placas de “vende-se esta casa” só aumenta em nossos bairros, junto a elas a tristeza de quem já não sabe mais o que fazer, junto com estas placas se vai à dignidade, a saúde, esperança de dias melhores, são pessoas e famílias assustadas e desamparadas na periferia de nossa cidade. 
“Cada vez que chove muito é um pavor, só queremos viver com segurança de uma casa quentinha nos dias de frio e seca nos dias de chuva. E, nem estamos pedindo muito, não é mesmo?” Expõe uma das moradoras dos bairros atingidos e integrante da Comissão de Luta.
Somasse a toda esta situação o fato de que até agora nenhuma das famílias dessas comunidades na cidade receberam quaisquer dos auxílios, tanto estaduais como federais, muita dúvida, morosidade nas informações sobre o andamento dos benefícios, entre outros fatores. Estamos falando de pessoas e grupos familiares que se enquadram nos critérios, que de fato perderam móveis, roupas, alimentos, entre muitas outras coisas dentro de suas casas alagadas. Até agora nem “volta por cima”, nem “reconstrução” chegou a nossos bairros.
A Comissão de luta dos bairros atingidos por alagamentos vai continuar organizada e mobilizada para cobrar a continuidade das obras e acordos.  
“Temos muito ainda o que fazer e lutar para garantir uma vida digna para nossas comunidades e precisamos da adesão, solidariedade, continuidade das pessoas envolvidas e apoiadores. Tem muita pauta a ser incorporada nesta peleia, por exemplo, casas abandonadas em nossa cidade dentro de projetos habitacionais, enquanto dezenas ficam em baixo d’água volta e meia“.
“É preciso lutar por uma cidade mais justa para o povo todo dia e a moradia é por onde queremos começar”. Finalizou a integrante da Comissão de Luta de Bairros atingidos em Alegrete RS.