Associação de moradores luta pela permanência de sua sede em Hortolândia (SP)

Por Coletivo de Educação Popular Flor de Maio

Após ataques da prefeitura, a SAMEST, associação de moradores em Hortolândia, na região metropolitana de Campinas (SP), se mobiliza para defender a manutenção de sua sede histórica, onde há 40 anos são realizadas atividades com a comunidade local.

No último dia 17 de junho, a poucos meses das eleições, a atual diretoria da SAMEST (Sociedade Amigos dos Bairros Pq. Santo André, Jd. Santa Amélia e Jd. Everest) foi surpreendida pela prefeitura de Hortolândia, que informou sua intenção de retirar a associação de sua sede histórica para dar lugar a uma creche privatizada, gerida por uma Organização de Sociedade Civil (OSC). A OSC, chamada Associação Educacional Maria do Carmo, é acusada de assédio moral, quebra de contrato, desvio de função, fraude de licitação, entre outros crimes, conforme constam dezenas de processos jurídicos que a instituição carrega.

No dia 12 de julho, a prefeitura de Hortolândia notificou a associação que esta deve deixar o espaço em 30 dias.

A SAMEST é uma associação histórica de moradores na cidade de Hortolândia, na qual atualmente são desenvolvidas atividades como cursinho pré-vestibular popular, aulas de libras, ballet, capoeira, encontros de narcóticos anônimos, biblioteca e horta comunitárias, cine-debates, grupo de astronomia popular, formações para educadores, entre muitas outras. Junto à diretoria, os projetos que vêm sendo realizados regularmente são organizados por diferentes grupos, como o K.R. Ballet, os Narcóticos Anônimos, o Coletivo de Educação Popular Flor de Maio, o Coletivo de Educação Popular Jacuba, entre outros, e há, ainda, uma abertura da associação para novos projetos. Além disso, no espaço da associação também são organizados festivais, feiras e festas comunitárias.

Curso de História da África realizado na SAMEST. Foto: Coletivo de Educação Popular Flor de Maio.

A retirada da associação do local é incoerente com a lei municipal de concessão que assegura seu atual uso. Isso porque essa concessão foi prorrogada pela última vez em 2010, estabelecendo que o amplo espaço é destinado ao uso da SAMEST até o ano de 2050.

Sem apresentar publicamente estudos que demonstrem a real necessidade da instalação de uma nova creche exatamente na região onde está localizado o prédio, e sem oferecer alternativas de espaços adequados, que comportem todas as atividades realizadas atualmente pela associação, o governo do prefeito Zezé Gomes (Republicanos) expulsa a entidade para fora dos três bairros aos quais está vinculada historicamente. O que chama a atenção é que em materiais publicitários da prefeitura recentemente distribuídos em todo município, prometendo fila zero para o acesso à educação infantil na cidade, os bairros em que a associação atua não estão entre os planejados para as novas creches.

Festa comunitária realizada na quadra da SAMEST. Foto: Coletivo de Educação Popular Flor de Maio.

Apesar da promessa inicial por parte da prefeitura de encontrar um lugar para a continuidade das atividades da associação, mesmo que fora dos bairros, a notificação enviada à direção da SAMEST no dia 12 de julho não apresenta quaisquer alternativas e é explícita ao afirmar que será realizada reintegração de posse do imóvel após o prazo estimado de um mês a partir dessa data.

A SAMEST tem uma luta de longa data na região. Criada no início dos anos 1980, a associação de moradores foi um dos polos de organização popular que possibilitou a emancipação da cidade de Hortolândia, antes parte de Sumaré, o que ocorreu oficialmente em 1991. Além disso, teve papel fundamental na luta pela construção de escolas e creches no bairro, sendo uma delas, inclusive, recentemente batizada em homenagem a um de seus ex-diretores. A EMEIF “Humberto de Amorim Lopes”, do Jardim Santa Amélia, fica a apenas 3 quarteirões da associação.

Incrédula com o assédio da prefeitura, no sábado 29 de junho, a comunidade se reuniu na SAMEST para debater os acontecimentos das últimas semanas. A reunião contou com cerca de cinquenta pessoas, que chegaram ao consenso de que há a necessidade de defesa deste espaço e que, embora a ampliação das creches na cidade seja, de fato, importante, não deve ser usada como pauta eleitoreira, como se apresenta nesta ação da prefeitura.

Reunião aberta na SAMEST no dia 29 de junho. Foto: SAMEST.

Moradores e educadores presentes na ocasião alertaram para as condições das atuais instalações da associação, que vão contra às diretrizes legais da Educação Infantil, o que tornaria necessário um enorme investimento no espaço para adaptá-lo à demanda de atendimento de um grande número de crianças, que, segundo a prefeitura, terão a faixa etária de 0 a 3 anos.

Membros da diretoria denunciaram, ainda, que a prefeitura não agiu conforme o combinado em uma suposta vistoria no local, que contaria com a presença de associados e de profissionais da área da educação indicados pela associação. Ao contrário do que havia sido acordado, a prefeitura realizou a vistoria fora do horário combinado, sem a presença dos membros da atual gestão da associação presentes na mesa de negociação e sem o referido corpo técnico. Essa visita é usada oficialmente pela prefeitura como justificativa para que a OSC possa ser colocada no espaço.

Outros associados também lembraram que a SAMEST vem requisitando há anos o auxílio da prefeitura para a manutenção do local, especialmente desde o período da pandemia, momento em que as principais formas de arrecadação da associação foram interrompidas, como o aluguel do salão de festas, o bazar e as festas comunitárias.

Em caso de mudança forçada ou expulsão, os moradores temem pela falta de autonomia dos projetos desenvolvidos na instituição e lamentam a forma abrupta como a gestão municipal quer interrompê-los, sem levar em conta o planejamento das atividades que vêm sendo feitas e outras já previstas para os próximos semestres. Alguns acreditam que a associação deixará de existir caso a remoção realmente ocorra.

A associação está chamando o conjunto da sociedade para se informar, discutir e apoiar essa luta. Em conformidade com seu estatuto interno, a SAMEST fez um chamado para uma assembleia geral dos associados, a ser realizada no dia 20 de julho. A assembleia será aberta, com voto restrito aos associados. Junto a isso, também está sendo impulsionado um abaixo-assinado e uma carta de apoio de organizações em defesa da manutenção da SAMEST em sua sede histórica.

Abaixo-assinado em defesa da permanência da SAMEST em sua sede.