Por Biblioteca Comunitária Lutador Dito / AMORABI
Um breve relato sobre a festa de dois anos de retomada da Biblioteca Comunitária Lutador Dito, realizada na manhã de sábado, 01/06/2024, na AMORABI, Associação de Moradores e Amigos do Bairro Itinga, em Joinville/SC.
“Mãe, me pega daqui 24 horas.”
E. (Amorabinha)
“Se depender deles, a Amorabi deve abrir por todo final de semana.”
Mãe de um Amorabinha
Retomada é uma ação inspirada nos povos indígenas, que sofrem com seus territórios roubados desde 1500 e que, desde então, lutam para retomar suas terras. A biblioteca foi iniciada no dia 18 de julho de 2018, mas nós também tivemos vidas e tempo roubados. 2020 foi o ano do começo de uma pandemia. Governos e patrões tiraram tanto da gente. A Biblioteca fechou. Em 2021, com máscaras e álcool gel reiniciaram os trabalhos, com a retomada a partir de uma mudança de sala e a reorganização dos livros e atendimentos. E nessa perspectiva de “retomada” nos inspiramos nos povos indígenas.
No dia 12 de junho de 2022, a retomada é concretizada com a abertura em nova sala, agora com homenagem ao trabalhador que moldou sua vida e suas lutas com as mãos e imaginário, o Dito.
Ao abrir todos os sábados, das nove até o meio-dia, com empréstimos de livros, atividades e oficinas das mais diversas, sempre focado no direito à cidade e os princípios norteadores dos trabalhos da educação e cultura popular. Uma retomada sem depender, de modo direto, de dinheiro público ou privado, exceto, quando um trabalhador da cultura nos procura e apresenta a contrapartida social de projeto contemplado em edital.
Ao abrirmos cada livro, virar suas páginas, rir de histórias e brincar, se somaram crianças do bairro Itinga, entre os seus 7 até 11 anos, que logo passaram a se identificar por Amorabinhas: é como se a biblioteca fosse parte integrante de quem elas são, com autonomia e independência.
É uma combinação do prédio da AMORABI e das manhãs, que ao fazer-se criança corroem as grades do Estado e rompem as tramas da sociabilidade do capitalismo. Entregue às suas necessidades, alegrias e tristezas, vão trabalhando os sentimentos, sonhos e alimentos por construir um novo mundo hoje e amanhã.
Neste primeiro dia de junho, uma manhã de sábado de frio, com chuviscos e sol tímido, reunidos em volta das pessoas, fizemos uma festa da luta popular pelo direito à literatura. Contamos e ouvimos histórias que estouram bolhas, observamos e interpretamos os seres das florestas criadas com argila pelas Amorabinhas e brincamos pelo campo de grama, entre toalhas e comidinhas gostosas socializadas por diversas mãos e corações.
Na hora de ir embora, sem choro, sem briga, mais com humor, as Amoraborinhas soltavam as suas frases para convencer os seus responsáveis a ficar por ali, enquanto os adultos, como se diz por aí, “já tinham pegado o espírito da coisa.”
A organização da atividade contou com a participação da companheira da Biblioteca Comunitária Lutador Dito e do Cursinho Popular, que integram a AMORABI, Associação de Moradores e Amigos do Bairro Itinga. Também recebeu o importante trabalho da mediadoras Isadora e Paula do @remoota.br e a atriz e palhaça Bia Alvarez.