Na última segunda-feira, 02 de outubro de 2023, em leilão ocorrido na Secretaria Municipal de Administração do Patrimônio, a Empresa de Transporte Coletivo Viamão LTDA apresentou proposta de compra da CARRIS,empresa pública de transporte coletivo de Porto Alegre.
Fundada por autorização de Dom Pedro II em 1872, é a empresa de ônibus mais antiga do Brasil e já foi considerada a melhor do país em várias ocasiões. A privatização retira do poder público uma das últimas empresas estatais de transporte urbano em atividade e um recurso importante no sistema de mobilidade urbana de Porto Alegre – quando as empresas privadas não conseguem operar linhas ou quando falham nas suas obrigações, o caráter público da CARRIS e sua qualidade historicamente superior foram o ‘plano b’ do povo trabalhador que depende de coletivos para ir e vir.
Apresentando o valor mínimo exigido pela Prefeitura Municipal (sob gestão de Sebastião Melo), R$109 milhões de reais, a empresa de Viamão está prestes a fechar a compra desta empresa pública, restam apenas análise dos documentos apresentados. Este valor será pago em 121 parcelas!
Enquanto as rodoviárias e rodoviários lutam nas garegens e no cotidiano de trabalho, a prefeitura avança para o desmonte do sistema de transporte. Desde a gestão de Nelson Marchezan Junior (PSDB), os ataques aos direitos e o discurso de “prejuízo” e “alto custo” do transporte tem dado a tona das ações. Primeiro, a Prefeitura retirou gratuidades dos idosos e idosas de 60 a 64 anos e o meio-passe estudantil, atualmente restrito a poucos estudantes e com um processo burocrático para conseguir o direito.
Agora, a privatização da CARRIS é a continuação deste processo.
A categoria de trabalhadoras e trabalhadores da CARRIS fez uma mobilização anterior à esse processo, e segue em luta, tentando reverter uma situação que se encaminha para o desfecho da privatização.
LUTA DE TRABALHADORAS E TRABALHADORES DA CARRIS
Na última terça-feira, 26/09, em votação por assembléia do Sindicato de Trabalhadores em Empresas de Transporte, os trabalhadores/as encaminharam GREVE GERAL em protesto e contra a privatização da empresa CARRIS, companhia pública que opera 20 linhas de ônibus em Porto Alegre. Os trabalhadores entregaram ao Centro Integrado de Comando de Porto Alegre a notificação oficial do movimento grevista, a começar na segunda-feira (02 de outubro), data do começo do processo de venda da empresa, e segue por tempo indeterminado. Antes disso haviam feito um ato público de apoio à CARRIS (21/09/2023, conforme foto de capa da matéria)
Um dos delegados deste sindicato, afirma que trabalhadores tem enfrentado questões de saúde mental importantes: alguns se sentem culpados pela precarização, pelo sucateamento, além de apontarem inúmeras dificuldades que ocorrem desde 2005 – onibus quebrados, falta de peças para reparo, contratos precários de trabalho, muitos problemas com os ônibus em operação (relatos dão conta de falhas quase diariamente na liha T11), denúncias de que faltam mecânicos e de que houve abolição de cargos importantes na condução da empresa, ocupados por Cargos de Confiança (CC’s) do Prefeito Sebastião Melo para sucatear a empresa.
Além disso, A. diz que muitos rodoviários não tem confiança no sindicato, que está burocratizado e fez pouca mobilização contra as precarizações recentes, parecendo estar alheio à grave situação que se encontra a categoria e fazendo poucos chamados e nenhuma luta unfiicada pela manutenção dos e das cobradoras e contra a entrega da empresa para empresários que vão operar pela lógica do lucro em cima de um direito do povo.
Uma questão que o sindicato também protesta, é a recente alteração que algumas linhas adotam sobre a função de cobrador e de motorista. As pessoas passageiras de todo o sistema de ônibus em Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo e outras regiões, podem perceber que motoristas, em meio ao trabalho estressante de atenção, deslocamento e paradas em cidades muito movimentadas, precisam agora além disso cobrar as passsagens. No caso da Carris, segundo relato de trabalhadores, 89 pessoas foram contratadas no registro de dupla função, como motoristas e cobradores ao mesmo tempo; alguns antigos assinaram acordos para dirigir e cobrar; e outros se recusam a assinar e seguem lutando pela manutenção dos cobradores e cobradoras.
Há um risco sério de demissão em massa em caso de a privatização se concretizar. O sindicato, junto da prefeitura, negocia um tempo de estabilidade que varia entre propostas de 8 a 10 meses depois do início da privatização, mas passado o tempo acordado a projeção é de uma onda de demissões e mais precarização do trabalho.
Nesta segunda (02/10/2023), rodoviárias e rodoviários, junto de estudantes e movimentos sociais deram início à greve, em piquete instalado na porta da Garagem da CARRIS, no bairro Partenon. O sindicato, que parece colaborar mais com a prefeitura do que com os trabalhadores que representa, fez acordos de manutenção de 60% da frota e de não ter impedimento para a saída dos onibus das garagens, o que descaracterizou e enfraqueceu a greve.
One comment
Comments are closed.