Por Repórter Popular – SC
Após a primeira semana da retomada parcial do funcionamento do Restaurante Universitário (RU) da UFSC, que tem atendido apenas estudantes da pós-graduação, o movimento estudantil realizou uma segunda audiência pública com a reitoria. Trata-se da continuidade da mobilização por condições concretas e seguras para o retorno total das atividades presenciais na universidade, previsto para acontecer daqui a um mês, em 18 de abril. A mobilização foi iniciada pela Associação de Pós-Graduandas/os (APG) em fevereiro e, a partir de então, tomou grandes proporções, com a participação de Centros Acadêmicos, Diretório Central dos Estudantes (DCE) e sindicato dos técnicos administrativos em educação (SINTUFSC).
A reabertura do RU para a pós-graduação foi uma importante conquista da mobilização estudantil, mas a luta continuou, já que grande parte da comunidade universitária, como estudantes de graduação e trabalhadoras terceirizadas, permaneceu sem acesso ao serviço. Essa foi uma das demandas centrais apresentadas na audiência pública que aconteceu ontem (18), a partir das 14h, em frente ao hall da reitoria da UFSC. Estudantes questionaram a administração central sobre temas fundamentais de acesso e permanência na universidade, que se intensificaram a partir da pandemia, mas que também retomam lutas já travadas historicamente pelo movimento estudantil.
Estiveram presentes nessa segunda audiência pública o reitor Ubaldo Balthazar, o chefe de gabinete Áureo Mafra e o pró-reitor de assuntos estudantis Pedro Manique, e a dinâmica do espaço permitiu que estudantes trouxessem diretamente seus questionamentos e indignações. Mais uma vez, as respostas dadas pela administração central eximiram-se da ação imediata, a despeito da urgência que a situação precária da comunidade universitária precisa. O RU tardará ainda 15 dias para voltar a atender estudantes da graduação, o restaurante do Centro de Ciências Agrárias (CCA) conta com a possibilidade de ser reaberto a partir de 18 de abril (ainda!), os restaurantes universitários de outros campi, como Joinville e Blumenau, seguem fechados, mesmo já estando com licitações finalizadas e contratos assinados.
Em meio às controversas explicações oferecidas pela administração central, é fato que a reabertura do RU para a graduação a partir de 4 de abril é uma conquista importante da continuidade e pressão do movimento estudantil. Além disso, na próxima segunda-feira, 21 de março, estudantes do Colégio de Aplicação também poderão se alimentar pelo serviço de marmitas do RU. No dia 17 de março, os espaços de estudos individuais e alguns espaços de estudos coletivos foram reabertos na biblioteca universitária (BU). São conquistas grandes para o movimento das estudantes, ainda que permaneçam distantes da urgência imposta pelas condições da realidade. As falas de quem esteve presente na audiência pública vieram a reforçar os mais de 900 relatos de estudantes, colhidos pela APG, que denunciam a precarização das condições de vida.
Somadas a estas, há muitas outras questões colocadas pela ausência de um plano concreto e transparente para o retorno das atividades presenciais da UFSC. Um exemplo é a falta de bebedouros pelo campus central, uma vez que os modelos antigos não são mais permitidos por razões de segurança sanitária, e os bebedouros novos ainda não estão instalados. A distribuição de máscaras estará restrita aos estudantes cadastrados junto à pró-reitoria de assuntos estudantis (PRAE), excluindo estudantes de pós-graduação dessa possibilidade, uma vez que a PRAE atende exclusivamente a estudantes da graduação. Estudantes seguem sem poder acessar o acervo da BU, algo que torna a dinâmica de estudos na biblioteca bastante diferente do usual.
Se as respostas dadas pela administração central sugerem que estão se debruçando sobre o plano para o retorno presencial desde o ano passado, por que esses e outros problemas ainda existem, faltando apenas um mês para que a comunidade universitária em peso volte a ocupar os espaços do campus central da UFSC? Essa indignação coletiva segue como motor da luta estudantil, que não aceitará continuar sem condições mínimas para uma vida digna. As conquistas parciais desse momento, assim como a história, demonstram que é necessário pressionar aqueles que controlam os recursos da universidade, para garantir o mínimo imprescindível, como alimentação e moradia. E, após dois anos de ausências e desencontros, a resistência por direitos precisa estar mais forte do que nunca.
É evidente que as desiguais condições de assistência e permanência na universidade pública se acentuaram com as crises resultantes da pandemia de covid-19. As respostas que a comunidade universitária precisa e que o movimento estudantil exige não devem se dar também de maneira desigual. Essa situação não enfraquecerá a mobilização das estudantes, pois seguiremos em luta e sem aceitar nenhum direito a menos.