Por Repórter Popular SC
A comunidade universitária da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) se prepara para a retomada completa das atividades presenciais, prevista para acontecer em 18 de abril. Após dois anos de atividades remotas, devido às necessárias restrições sanitárias da pandemia de covid-19, a estrutura que garante a permanência de estudantes na universidade torna-se ainda mais fundamental. As diferentes condições de sobrevivência durante esse período remoto se acentuaram, assim como a precarização das possibilidades de alimentação, moradia, estudo e pesquisa.
Diante desse cenário, estudantes da Associação de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos (APG) da UFSC passaram a questionar a Administração Central sobre as condições práticas para o retorno das atividades presenciais. A indignação crescente das estudantes tem relação também com a situação daquelas pessoas que já estão realizando atividades presenciais mesmo antes do retorno completo, como é o caso de trabalhadoras terceirizadas, servidores técnico-administrativos, estudantes que têm pesquisas ou disciplinas laboratoriais e estudantes do Colégio de Aplicação. Além disso, mesmo com as atividades remotas, muitas estudantes continuaram morando em Florianópolis e tendo que enfrentar a constante alta nos preços dos alimentos e moradia.
A importância das estruturas que auxiliam a permanência estudantil na universidade fica evidente nessa situação. A existência do Restaurante Universitário (RU) poderia garantir alimentação digna, mantendo o valor de R$ 1,50 que era cobrado até o fechamento do serviço, enquanto a Biblioteca Universitária (BU) poderia oferecer um local adequado para estudos. Mas por que essas estruturas se encontram ainda fechadas, quando há pessoas precisando delas com urgência? Essa foi a questão central levantada pela APG, que, com apoio do Sindicato de Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina (SINTUFSC) e do Diretório Central dos Estudantes (DCE) iniciou uma campanha pela reabertura imediata do restaurante universitário.
Durante o mês de fevereiro, a APG publicou diferentes materiais com o objetivo de provocar discussões sobre a necessidade urgente de reabertura do RU e da BU. A movimentação culminou com o Dia de Mobilização em Defesa da Universidade, que aconteceu em 7 de março. A entidade estudantil convocou a comunidade universitária para estar em frente à Reitoria desde as 9 horas, com atividades que envolveram produção de cartazes, roda de conversa sobre os desafios da atual conjuntura e uma audiência pública com o reitor. Além do café da manhã para iniciar as atividades, houve alimentação gratuita para quem esteve na mobilização ao longo do dia e mais de 100 estudantes participaram do ato.
A audiência pública com a Reitoria foi um momento controverso. Estiveram presentes, além do reitor Ubaldo Balthazar, o chefe de gabinete Áureo Mafra, o pró-reitor de assuntos estudantis Pedro Manique e o secretário de planejamento e orçamento Fernando Richartz. Enquanto estudantes apresentavam suas questões, reivindicações e relatos das difíceis condições de sobrevivência na ausência do restaurante universitário, a reitoria se esquivou de respostas objetivas. Em lugar de apresentar um plano concreto para a reabertura imediata do RU e da BU, o que se ouviu foi uma extensa exposição sobre dificuldades de gestão durante a pandemia e burocracias de contratos e licitações. Em termos práticos, a única coisa que apresentada foi a informação de que o restaurante universitário estará aberto a partir da próxima segunda-feira, 14 de março, para a entrega diária de 700 marmitas apenas para estudantes de pós-graduação.
Esse resultado está longe de ser o objetivo da luta travada pelo movimento estudantil, já que a quantidade de estudantes de graduação é muito maior que a de estudantes de pós-graduação, e ainda ficarão sem acesso imediato ao RU trabalhadoras terceirizadas, estudantes do Colégio de Aplicação, e servidoras da universidade. Além disso, a APG levantou dados que indicam que há mais de 2.000 estudantes em Florianópolis precisando do restaurante universitário, o que torna a quantidade de 700 marmitas por dia absolutamente abaixo da necessária. A entidade coletou mais de 900 relatos sobre a situação das estudantes na ausência do RU e todo esse material se tornou uma manifestação visual colada nas paredes da reitoria, mantido o anonimato das histórias.
Se a Administração Central pensou que enfraqueceria o movimento estudantil com concessões parciais e desiguais, se enganou. As estudantes não estão satisfeitas com a parca solução apresentada. Ao final da audiência pública, firmou-se um compromisso de novo encontro com a reitoria, marcado para 18 de março. Nesse dia, a exigência é de que a administração central apresente uma avaliação sobre os primeiros cinco dias de distribuição das marmitas, junto de um plano para ampliação do número de refeições distribuídas que não seja pensado apenas para estudantes de pós-graduação.
O dia de mobilização em defesa da universidade foi apenas o primeiro passo de muitos que daremos rumo à garantia de condições para o retorno presencial. O esforço agora será para informar toda a comunidade universitária sobre a entrega das marmitas no RU. Essa informação precisa chegar ao maior número de pessoas possível, para que todas e todos se mobilizem contra a exclusão ao acesso da alimentação fornecida por meio do RU. A luta continua e não deixaremos ninguém para trás: a comunidade universitária precisa se unir para enfrentar essa situação urgente.