“Sindicato não é profissão”: entrevista sobre eleições sindicais dos Correios no RS

Em agosto de 2021, trabalhadores e trabalhadoras dos Correios fizeram uma greve, organizada pelos sindicatos de todo país, com boa adesão, durante a pandemia. Muitas lutas pela defesa de direitos foram feitas ao longo dos últimos anos e, com os servidores dos Correios, não foi diferente.

Uma das categorias do serviço público federal mais atingidas por governos, é também uma das mais ativas e resistentes na hora de defender o posto de trabalho contra a destruição da empresa que os governos e os patrões promovem.

Nos dias 21, 22 e 23 de fevereiro, o Sindicato de Trabalhadores/as dos Correios do Rio Grande do Sul (SINTECT-RS) terá sua eleição. É um momento para decidir sobre a concepção de sindicato, democracia de base e quem formará a nova coordenação. É o que percebemos em uma entrevista com um operador de Triagem e Transbordo na unidade da Avenida Sertório, Zona Norte de Porto Alegre. Ele é integrante da Chapa 2 – Luta pela Base, que é oposição à atual direção do sindicato.

A conjuntura dos Correios no país

Repórter Popular (RP): A privatização do serviço é um desejo antigo do Governo Bolsonaro e de seu ministro Paulo Guedes, mas também de todos que impuseram políticas neoliberais antes. Como está essa situação atualmente?

A pauta de privatizar os Correios vem de muitos anos. Quando entrei na empresa, em 1997, o sindicato já lutava contra a privatização, mas ela tomou mais força. O sucateamento da última década reforça isso, principalmente com a falta de concurso público desde 2011. Na época, o Governo PT, que dizia estar a favor dos trabalhadores, estava mais preocupado em se manter no poder perseguia muitos lutadores populares – e nós também fomos vítimas disso. Atualmente, com esse governo genocida, o ataque aos trabalhadores é mais forte e a privatização bate na realidade de uma categoria sofrida, mas que na maioria sempre lutou pelas suas conquistas.

RP: Em 2021, saíram muitas notícias de que os Correios dão lucro e não prejuízo e que os ganhos foram os maiores da década. Mas também sabemos que o movimento sindical dos correios, que as lutas e as greves dos últimos anos, denunciaram um plano de sucateamento da empresa, de assédio sobre funcionárias e funcionários, corte de direitos, falta de pessoal para os serviços, etc… Mais uma vez, a pergunta: porque é importante defender os Correios como uma empresa pública?

Com certeza! Não só os correios, mas todas as empresas públicas. Os Correios sempre deram lucro e repassam para o país. E nunca foi ao contrário. Apesar das mentiras das direções da empresa, que inventa justificativas para não atender a categoria. Nunca abriram as contas da empresa para o povo saber a verdadeira realidade financeira e, nesses últimos anos, sofremos fortes ataques e perdas de direitos históricos no movimento dos trabalhadores dos Correios.

Eleições do Sindicato de Trabalhadores/as dos Correios

RP: O SINTECT-RS é um sindicato grande e que organiza várias regiões do estado, certo? Está filiado a alguma central sindical, como a CUT, por exemplo? Há muitos sindicalizados no estado?

Nosso sindicato tem a base de quase todo estado do Rio Grande do Sul, só não contempla a região de Santa Maria, que é outro sindicato. O SINTECT gaúcho não é filiado à CUT e nem a nenhuma central. Nossa federação nacional (Fentect – Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares) é filiada à CUT. O nível de sindicalização diminuiu muito, pois muitos dos trabalhadores e trabalhadoras que se aposentaram saíram dos quadros da empresa com pedidos de demissão voluntária.

Como não tivemos mais concursos desde 2011, essas vagas não foram repostas. Para a votação nas eleições do sindicato, há um prazo de alguns meses de filiação e os aposentados que saíram da empresa e eram filiados ao sindicato também têm direito a voto.

RP: Duas chapas se apresentaram para essa eleição, uma que continua a atual direção e a chapa 2, pela oposição, que marca sua atitude pela independência da classe trabalhadora. Pode nos caracterizar brevemente essa disputa? Também nos interessa saber qual é a crítica e a insatisfação com a atual direção sindical. Fale um pouco sobre quem integra a chapa 2.

A disputa sindical sempre foi algo positivo para nossa categoria, pois sabemos as posições de todos. Era até mais democrático quando a direção era proporcional e todas as correntes tinham voz no sindicato, mas esta proporcionalidade foi derrubada pela atual direção do sindicato, que após voltar como direção de chapa única, manteve a proporcionalidade só no conselho fiscal. Esta mesma direção que está concorrendo pela chapa 1 acabou, novamente, fazendo uma proporção, mas dentro da chapa deles, com a corrente do PSTU e algumas do PT.

Hoje em dia, a categoria cobra muito a ausência do sindicato nas bases – ou seja, junto das trabalhadoras e dos trabalhadores nas lutas do dia a dia. Mesmo o sindicato sendo proibido, neste atual governo, de entrar nas dependências da empresa, o mesmo poderia estar na entrada das agências e unidades de triagem. Essa é uma das muitas coisas que a categoria cobra da atual direção.

Sindicato não é partido, nem governo e nem profissão.

A chapa 2 pretende fazer uma luta mais direta contra a privatização, pela presença do sindicato nas portas das unidades e lutar pela recuperação dos direitos perdidos. Não somos uma chapa ligada a nenhum partido político e nossa composição é, principalmente, de trabalhadoras e trabalhadores independentes, do Movimento Revolucionário Socialista (MRS) e de libertários.

Terceirização

RP: Para finalizar, vamos falar e um problema cada vez mais recorrente nos serviços públicos – e que foi acentuado com o plano de Reforma Administrativa, proposta por Bolsonaro e por Paulo Guedes. Como pode ser feita a luta contra a terceirização nos Correios? E como é possível organizar, junto ao sindicato, os trabalhadores e as trabalhadoras terceirizados/as, que são o setor mais precário da empresa e o mais frágil na defesa dos direitos da classe trabalhadora?

As trabalhadoras e trabalhadores terceirizados nos correios são muito explorados pelas empresas que tem contrato com os Correios. Muitas vezes, salários são atrasados e benefícios não são pagos. É uma luta que tem que ter apoio do sindicato, que também precisa defendê-los. Temos que lutar por novos concursos públicos para aumentar o número de servidores – e não aumentar a contratação de terceirizados.