Entenda algumas nomenclaturas do cinema

Qualquer assunto, tema, objeto possui sua nomenclatura técnica, muitas vezes restrita aos entendidos e entendidas. Na arte não é diferente, cada uma na sua, as diferentes formas artísticas têm seus nomes, conceitos, etc., utilizados na composição e análise das mesmas. Por exemplo: a rubrica no teatro é aquele texto que vai antes do diálogo e serve para indicar algumas coisas da cena, como posição de objetos, sentimentos que os personagens devem encarnar, cenário, etc.

Pois bem, vamos a um curto glossário sobre o cinema, para que você maneje melhor esses nomes e possa também, quiçá, aguçar sua visão sobre a sétima arte, pois – digo por experiência própria – é muito interessante olhar um filme e entender o procedimento por trás.

Plano-sequência: quando gravamos uma sequência inteira, uma cena, sem cortes, chamamos esta técnica de plano-sequência. Filmes são compostos por cenas encaixadas uma após a outra. Em geral são gravadas com várias câmeras em diferentes enquadramentos e depois são cortadas e montadas na narrativa fílmica. Quando não há esses cortes, temos o plano-sequência. Filmes que utilizaram a técnica de maneira maior: Festim diabólico (1948) de Alfred Hitchcock, que fez vários e camuflou os cortes, para dar a ideia de uma filme inteiro em plano-sequência – o mesmo procedimento de Alejandro Iñárritu utilizou em Birdman, filme de 2014 vencedor do Oscar de melhor filme; Arca russa (2002) de Alexandr Sokurov, filme inteiramente filmado em plano-sequência, numa encenação incrível e num feito enorme da sétima arte; o diretor Paul Thomas Anderson filmou dessa forma em muitos dos seus bons filmes, assim como Scorsese, Alfonso Cuarón, etc.

Plongée: as cenas dos filmes sempre têm um enquadramento, que é a posição da câmera em relação à captação da imagem. Existem vários tipos de enquadramentos que falaremos neste e em outros textos – a ideia é fazer uns 3 textos nesse estilo, em sequência –, e o plongée é um deles, e se caracteriza pela captura da cena de cima para baixo. É um enquadramento que muitas vezes é usado para demonstrar imageticamente a inferioridade de um personagem, mostrando-o menor. O Expressionismo Alemão foi rei de utilizar este e seu contrário, o contra-plongée, pra gerar distinções e criar o clima do filme. Filmes que utilizaram: como disse, muitos do Expressionismo Alemão, e me ocorre, em especial, M, o vampiro de Dusseldorf (1931) de Fritz Lang, que usa isso muito bem para intensificar a tensão e a violência que o filme aborda com muita inteligência.

Contra-plongée: o último conceito abordado nesse texto é o oposto do de cima, trata-se do enquadramento de baixo para cima. Ele dá sentido de superioridade do personagem filmado, e foi muito usado novamente no Expressionismo alemão para dar o contraste entre figuras do filme através do uso da câmera. O contra-plongée também é usado algumas vezes para dar uma noção de plano fechado, uma sensação de claustrofobia quando filmado em lugares fechados e quando o enquadramento abarca o teto. Filmes que utilizaram: Tarantino se tornou icônico por isso, seja na cena do porta-mala em Cães de aluguel (1992), na cena da caixa luminosa em Pulp Fiction (1994), ou nos caça-nazistas de Bastardos Inglórios (2009); quem gostava muito desse enquadramento era o mestre Stanley Kubrick, e podemos observar isto em muitos dos seus filmes – lembro aqui de O iluminado (1980), em que vemos de maneira alternada uma aula de plongée e contra-plongée na cena da escadaria, quando Jack começa a enlouquecer.

Na próxima semana vamos tratar de outros nomes, como som diegético, locação, pós-produção, entre outros.

Rodrigo Mendes