A cidade de Maricá (RJ) confirmou mais de 11.064 casos de covid-19 com 246 óbitos (com 15 óbitos em análise) e, segundo a ferramenta Monitora Covid-19, da Fiocruz, encontra-se na 17ª posição (de 93 municípios) em número de casos no estado do Rio de Janeiro.
De dezembro a janeiro, houve um significativo aumento no número de casos e de mortes por Covid-19 na cidade. Contraditoriamente, a prefeitura autorizou o retorno das aulas nas escolas particulares em um decreto publicado em 25 de janeiro, e há indicativo de que a rede municipal retorne as aulas presencialmente em breve, causando angústia nas trabalhadoras e trabalhadores da educação na cidade. No que diz respeito à rede estadual, uma assembleia realizada em 29 de janeiro aprovou por ampla maioria a “Greve pela Vida contra retorno às atividades presenciais e pela vacina em 2021”.
Na rede municipal, educadores e educadoras realizarão, na segunda-feira (22), uma assembleia por meio do Sindicato dos Profissionais em Educação do Município de Maricá (SINEDUC) para decidir se entram ou não em greve.
A diretora do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro – Maricá (SEPE-Maricá), Jaqueline Pinto, afirma que “surpreende o fato de as pessoas pensarem que o professor é descartável”.
“Acho que as escolas não tem condição de retornar, mas precisamos criar condições para que a escolas reabram. Mas não pode reabrir colocando a vida dos profissionais e dos alunos em risco. Precisamos reabrir com segurança, mas isso só pode ser atingido com a questão da vacina”.
Alex Monteiro, diretor e coordenador de imprensa e comunicação do Sineduc, também pensa semelhante. “Apesar da escola ter um ‘um papel social insubstituível’, a direção do sindicato defende o retorno das aulas somente com vacina. Essa posição que levamos para as plenárias e acompanhamos as decisões das plenárias”.
Os sindicatos da educação do município (Sineduc, Sepe e Sinpro) decidiram agir em unidade e encaminharam uma semana de ação em defesa da vida de 22 a 27 de fevereiro. Tais ações questionam o retorno das aulas presenciais sem a vacinação da comunidade escolar, quando o país atingiu a terrível cifra de mais de 250 mil mortes. Cabe afirmar que o administrativo das escolas estaduais e municipais segue funcionando “normalmente”. Parte dos trabalhadores da educação do município, seguem nas escolas, atendendo pais e mães, realizando trabalhos internos e se expondo ao risco de contrair covid-19.
Segundo Alex Monteiro, há “muitos casos de ansiedade, depressão [na categoria], resultado do sistema de ensino remoto instalado com uso de uma plataforma que não atingiu os alunos e da fragilização do papel social do educador em meio a pandemia”.
Muitos educadores e educadoras de Maricá, vivem em outros municípios ou trabalham em outras redes e estão sendo pressionados ao retorno presencial sem qualquer indicativo de vacina. Na rede privada de educação esta pressão iniciou mais cedo. Segundo Sérgio Oliveira, membro da diretoria colegiada do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro – Niterói e Região (Sinpro – Niterói e Região), o retorno das aulas presenciais da rede privada em Maricá foi feita de maneira “muito turbulenta e sem o devido debate com a representação sindical da categoria, que é contra o retorno as aulas presenciais”. Questionado sobre a pressão dos empresários da rede privada, Oliveira afirma que “A pressão dos donos de escola sempre existiu, principalmente dos negacionistas e daqueles que colocam o lucro acima da vida, isto é, por parte daqueles que tratam a educação como mercadoria”. O diretor do Sinpro também afirma que o impacto na educação tem sido grande.
“Ampliou em muito o contágio entre as pessoas e aumentou bastante o número de profissionais com problemas de ordem emocional. Essa atitude de retorno às aulas presenciais é um absurdo e já está demonstrando o quanto agrava os problemas relacionados à crise sanitária que estamos enfrentando”.
No contexto de um governo federal que trabalhou ativamente contra a ciência e contra a vacina, o retorno das aulas presenciais sem vacina no município de Maricá flerta com atitudes negacionistas, que põem em risco não apenas os educadores, mas toda a população da cidade. Espera-se que a população e as autoridades maricaenses compreendam que a educação e a vida devem andar juntas, não separadas.
Ouça o informativo nº 1 de 2021 do Repórter Popular produzido em Maricá.
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