Mesmo com linhas sendo cortadas e os intervalos de espera aumentando cada vez mais, as tarifas só aumentam.
O final do ano de 2020 trouxe uma surpresa nada agradável para os moradores da região metropolitana do Estado do Rio de Janeiro: os serviços de transporte público de trem e de barca terão aumento de suas tarifas, mesmo que durante a pandemia o serviço só tenha piorado, com linhas sendo cortadas e os intervalos de espera aumentando em ambos os meios de transporte.
Barcas
Nos serviços de barcas, a concessionária CCR, que cobra as maiores tarifas de transporte público de todo o Estado do Rio, desde o começo da pandemia simplesmente deixou de operar a estação de Charitas, em Niterói. A estação de Cocotá, na Ilha do Governador, esteve também inoperante do começo da pandemia até o mês de junho, quando voltou a operar, mas com apenas 3 barcas por dia e apenas em dias úteis.
A linha mais movimentada das barcas, Praça XV – Arariboia (também em Niterói), segue funcionando, mas com intervalos de 1 hora entre cada barca fora da hora do rush, além de estar fechando mais cedo, às 21h ao invés das 23h. Já a linha Praça XV – Paquetá, que é a única forma dos moradores da ilha de Paquetá, localizada no meio da Baía de Guanabara, sair e chegar em suas casas, está operando com intervalos de 1h:30min em todo o momento. Já os itinerários de acesso a Ilha Grande, localizada no município de Angra dos Reis, sem outro acesso que não as barcas, e também operada pela CCR, também teve horários reduzidos e está limitado a moradores da Ilha.
A partir de fevereiro de 2021, pela Deliberação nº 1162 de 28/12/2020, da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes do Estado do Rio de Janeiro (Agetransp), as tarifas da linha Praça XV – Arariboia, da linha de Paquetá e da linha de Cocotá aumentarão de R$6,50 para R$6,90. Já a tarifa da linha Praça XV – Charitas (se ela um dia retornar) aumentará de R$18,20 para R$21,40
Trens
Já o serviço de trens, operado pela concessionária Supervia, é o transporte público com a maior área de abrangência do Estado do Rio, com as linhas atendendo a 12 municípios da região metropolitana, com a maior parte na capital. Sempre foi perceptível que, quanto mais na periferia, especialmente fora do município do Rio, pior é o serviço da Supervia. Com a pandemia não foi diferente. Desde abril até setembro deste ano, ficaram simplesmente inoperantes os ramais Guapimirim e Vila Inhomirim, ficando sem acesso ao serviço de trens os municípios de Magé, Guapimirim, além de parte de Duque de Caxias. Atualmente, tanto estes ramais quanto todos os outros seguem operando com menos trens e consequentes intervalos maiores de espera.
Outro fato de extrema relevância para os usuários da Supervia, sobretudo os moradores da Zona Oeste — maior e mais populosa região do município do Rio — foi a interligação dos ramais de Deodoro e Santa Cruz, a partir de junho. Com isso, o trem expresso que levava para a Zona Oeste deixou de existir, e dois ramais que já eram cheios foram juntados em um só. Em que pesem as cínicas promessas da Supervia de que, apesar da junção, seriam oferecidos mais trens para compensar a demora e superlotação, o resultado foi uma maior demora de viagem e os trens estarem, inacreditavelmente, ainda mais cheios.
A partir de fevereiro de 2021, pela Deliberação nº 1161 de 28/12/2020 da Agetransp, a tarifa dos trens subirá de R$4,70 para R$5,90, um aumento de mais de 25% do preço anterior.
É dada mais importância aos lucros milionários das concessionárias do que à vida do povo
Tanto estes enormes aumentos, quanto todas as demais medidas de precarização do serviço durante a pandemia citadas aqui, tiveram como justificativa os danos econômicos que a pandemia teria causado nas concessionárias. Foi esse o argumento utilizado por elas e reproduzido pela Agetransp e pelo governo do Estado. Contudo, é completamente ignorado o fato de que tais consequências econômicas também têm atingido, e com muito mais força, os trabalhadores que utilizam tais transportes, e que apesar disso precisarão pagar mais tarifas.
Além disso, e ainda mais importante, as concessionárias e o poder público ignoram que o transporte público lotado é um enorme vetor de contaminação do Coronavírus, e corte de linhas e maiores intervalos entre trens e barcas significam necessariamente trens e barcas mais lotadas, levando a um ainda maior grau de contaminação entre os usuários.
Porém, assim como, ao longo da pandemia, a última prioridade dos governantes e dos grandes empresários tem sido a vida da população, sobretudo os mais pobres; os lucros milionários das controladoras das concessionárias de transporte público — no caso, o gigantesco Grupo CCR, controladora das barcas; e o Consórcio Mitsui, um dos maiores conglomerados empresariais do Japão e controladora da Supervia — , tais lucros milionários, para o poder público, valem mais do que a vida e do que a subsistência do povo trabalhador, que depende dos péssimos serviços de transporte prestados para ir e voltar do trabalho.
Texto: Movimento de Organização de Base – Rio de Janeiro
“o poder emana do povo”…
Será?!?!?!🤷😠🤷😠🤷😠🤣🤣🤣