Durante o mês de novembro, acompanhamos mobilizações de entrevistadoras e entrevistadores dos Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) de Porto Alegre, contratados de forma terceirizada pela empresa Lazari Serviços de Gestão de Mão de Obra LTDA. A causa da luta foram os atrasos de salários, não pagamento de direitos básicos como vale-transporte, férias e rescisões.
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A batalha dessas trabalhadores e desses trabalhadores ainda não terminou. Alguns salários seguem atrasados e uma nova empresa não foi contratada para que as entrevistadoras e entrevistadores possam voltar a trabalhar.
Por isso, esses e essas terceirizadas compartilharam uma carta com a população para informar sobre a luta que é travada e como esses ataques a seus direitos impactam o atendimento à população de POA:
A precarização do trabalho e o sistema de exclusão
Foi em novembro, às vésperas do final do mandato de Marchezan, através de muita luta, que trabalhadoras e trabalhadores entrevistadores ssociais conseguiram dar um basta no longo período de descaso e desrespeito que vinham sofrendo. Mesmo empurrados para a lógica de mercado, da precarização, exclusão e da supressão de direitos, os mesmos resistiram!
A notícia: “a Lazari sumiu!”. A empresa, que até então era a responsável pelo repasse dos nossos salários, vinha há meses em descumprimento com o contrato empregatício. Em choque, os trabalhadores seguiram com as mesmas reivindicações de meses anteriores:
- Regularização do dia do pagamento e repasses de salários atrasados, os quais os últimos dois meses (outubro e novembro) não recebemos;
- Pagamento do ⅓ de férias e do vale-transporte;
- Pagamento das rescisões dos trabalhadores que foram desligados da empresa.
Além disso, com a Covid-19, os trabalhadores tiveram que arcar do próprio salário com os EPIs (Equipamento de Proteção Individual) para garantirem o mínimo de segurança nos locais de trabalho, por, no mínimo, um mês e meio, sendo que diversos trabalhadores foram infectados por Coronavírus nos CRAS.
Como se não bastasse todo cenário nefasto, em setembro muitos trabalhadores foram contaminados pelo vírus e já passávamos do 15º dia do mês e nada de receber nossos salários. Nos vimos na metade do mês sem nossos salários, sem ter direito do mínimo que seria a cesta básica disponibilizada pelos CRAS, pelo fato de executarmos nosso serviço dentro de uma política da Assistência Social.
Desesperados, os trabalhadores se deslocarem até a sede da Lazari no município de Montenegro, em mais de uma oportunidade, e encontraram tudo fechado. Telefonemas não eram mais atendidos, e-mails não eram respondidos e todos esses movimentos sendo notificados à gestão da FASC. O proprietário da Lazari, Tiago Feron, foi notificado a prestar declaração, mas nunca foi encontrado.
Nesse mesmo período, Marchezan reiterava que o trabalho da Assistência Social era essencial para a cidade de Porto Alegre.
A indignação dos trabalhadores só aumentava: “Até quando seremos desrespeitados, humilhados, violentados pelo Estado?”. Nenhuma resposta.
Cansados de tantas incertezas, da falta de respostas para suas questões que já não eram novas e percorrendo um ano de muita exploração, com condições de trabalho cada vez mais precárias, a busca foi pelo fortalecimento enquanto trabalhadores na garantia dos seus direitos!
Mesmo com a falta de posicionamento do Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional (SENALBA), mas com a solidariedade do Conselho de Representantes Sindicais (CORES FASC) e Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (SIMPA), mostramos que a solidariedade de classe é necessária e potente e que só através da nossa luta conseguimos garantir o que é nosso por direito. Mostramos ainda que a terceirização só precariza as relações de trabalho, diminui nossos direitos trabalhistas e desmonta as políticas públicas.
Com tudo que vivemos, avaliamos que a força para tal movimento se potencializou com a nossa união e o colapso tão anunciado pelos trabalhadores do Cadastro Único aconteceu. Os 55 trabalhadores ficaram sem emprego, sem salário porque os irresponsáveis da empresa Lazari desapareceram.
A denúncia existia há tempos, mas não havia mobilização efetiva contra o descaso da Lazari e da gestão da FASC. Não houve uma preocupação, de fato, com os trabalhadores mais precarizados da Assistência Social de Porto Alegre, na sua grande maioria mulheres, e que exercem um papel essencial para a população trabalhadora de Porto Alegre.
Nossa classe vem sentindo na pele os ataques dos governos e patrões e ainda temos que ouvir que deveríamos “agradecer por ter um trabalho” ou ainda “cuidem bem as reclamações, pois há mais motivos para agradecer do que reclamar”.
Pois bem, demos o recado, fizemos luta! Por necessidade, cruzamos os braços e dissemos BASTA!
Fomos para a frente da FASC, reivindicamos melhores condições de trabalho e na luta conseguimos garantir o que é nosso direito de fato, nossos salários, a possibilidade de garantia dos nossos empregos e uma nova empresa que ao menos cumpra com o mínimo dos direitos trabalhistas.
Seguimos acompanhando cada trabalhador na luta por seus direitos e na busca por seu emprego. E não aceitaremos perseguição de nenhum tipo!
Cabe registrar que tudo isso foi possível porque nos unimos em um período tão difícil para a classe trabalhadora. Vivemos na prática a importância da unidade na luta, da solidariedade de classe e da força que temos! Seguiremos unidos, mobilizados e atentos contra qualquer descaso às trabalhadoras e trabalhadores da FASC, terceirizados e concursados, contra os ataques de qualquer governo que ouse arrancar qualquer direito da nossa classe!