Torcidas reocupam as ruas contra a extrema-direita em São Paulo

Foto: Pam Santos/Fotos Públicas

 
Neste domingo, o Brasil viu os primeiros grandes atos da esquerda após a pandemia do COVID-19 ganhar força no país. Em São Paulo, a Avenida Paulista foi o palco da mobilização contra os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.
 
Chamado por torcidas antifascistas e pela Gaviões da Fiel (maior organizada do Corinthians), o protesto não registrou incidentes graves mesmo entre adeptos de clubes com rivalidade histórica. Com o “Fora, Bolsonaro” como eixo central, a manifestação também obteve adesão de ativistas não ligados ao futebol.
 
O ato reuniu centenas de pessoas (segundo a organização do ato, chegou a mil) no vão do MASP. Ao mesmo tempo e também na Avenida Paulista (mas em frente à Fiesp), apoiadores de Bolsonaro organizaram um ato de apoio ao presidente, mas em nenhum momento o ato – mesmo com proteção da PM – parece ter superado o ato antifascista.
 
Como não poderia deixar de ser, a Polícia Militar reprimiu o ato da esquerda – neste domingo, a desculpa foi proteger militantes de direita que deliberadamente provocaram os antifascistas.
 
Por volta das 14h, uma mulher que cobria o rosto com uma bandeira dos EUA e tinha um taco de beisebol na mão, provocou os antifascistas e, como de praxe da direita, foi se esconder atrás dos policiais, que acionaram a tropa de choque – a partir daí, começou a repressão com bombas de gás.
 
Os manifestantes conseguiram resistir por mais de uma hora aos ataques da polícia, mas o ato – que estava sendo empurrado para a Rua da Consolação (em direção contrária à do ato bolsonarista) – teve que se dispersar.
 
Ainda não há outro ato confirmado pela esquerda, mas protestos como os de hoje parecem ter elementos para se repetir. O ato deste domingo foi uma resposta do povo a uma política de morte imposta por Bolsonaro, que tem radicalizado cada vez mais o discurso para sua base à medida que sua popularidade derrete.
 
Seja por doença (via COVID-19) ou por fome (pela agenda de reformas de Paulo ou pelas dificuldades impostas para obtenção do insuficiente Auxílio Emergencial), Bolsonaro parece ter como único objetivo tirar do povo brasileiro o direito a uma vida digna – algo simples, porém demais para este governo fascista.
 
Fascistas adotam símbolo ucraniano
 
Em atos, as bandeiras são uma forma eficiente e rápida de marcar uma posição – e, mesmo com dificuldades cognitivas evidentes, até os bolsonaristas foram capazes de perceber isso… o que não quer dizer que façam bom uso desse conceito.
 
Neste domingo, além de bandeiras dos EUA e do Brasil, uma tradição entre os bolsonaristas, haviam também bandeiras do estado de São Paulo, monarquistas e da cruz da Ordem de Cristo. Mas uma em particular chamou a atenção.

 

No vídeo acima, um homem com camiseta camuflada avançou sobre um manifestante com uma camiseta do Malcolm X, ameaçando agredi-lo. É possível ver ele dizer que é “veterano de guerra”. Carrega com ele uma bandeira vermelho e negra, com um brasão. Ao lado dele, outro homem carrega uma bandeira com o mesmo brasão, só que nas cores azul e amarela, da bandeira ucraniana.
 
As bandeiras estiveram presentes em um carro de som há uma semana, no ato da extrema-direita, mas como explicou o embaixador ucraniano no Brasil, Rostyslav Tronenko, é um símbolo histórico do país, e o tridente representa a Santíssima Trindade.
 
Vale lembrar que a Ucrânia passou por uma guerra civil na região leste, que teve início em 2014, e opôs diferentes setores da extrema-direita, que têm grande influência sobre o país. Hoje é governado pelo partido Servos do Povo, que não tem uma ideologia política definida. Fato é que as bandeiras do período medieval são acolhidas pela extrema-direita brasileira, que tem como uma de suas líderes a velha conhecida Sara Winter, que fala em “ucranizar o Brasil“, uma clara referência à guerra civil no país.