Há duas semanas (11/05), foi registrado o primeiro caso de covid-19 no Brejaru, bairro periférico da Palhoça (SC). No dia seguinte à confirmação, a comunidade dos bairros Brejaru, Frei Damião e da Ocupação Nova Esperança solicitou apoio técnico e político ao Grupo de Apoio às Ocupações Urbanas da Grande Florianópolis, dirigindo-se especialmente às companheiras que atuam na área da saúde e da segurança sanitária, alimentar e jurídica.
Diante do descaso das autoridades públicas, que se aprofunda no contexto de pandemia, lideranças comunicavam sua preocupação quanto às formas de proteger as famílias no território tão precário e propício ao alastramento do contágio.
São duas mil famílias abandonadas à própria sorte pelo poder público, carentes da informação necessária sobre o caso confirmado e os protocolos a serem seguidos nesta situação de urgência.
A comunidade demanda ações que garantam, de forma transparente, a elaboração e execução de protocolos necessários à segurança sanitária das pessoas envolvidas com o morador contaminado, tanto no âmbito familiar (acolhimento, confinamento, tratamento e acompanhamento) como comunitário.
Em mensagem circulada recentemente nas redes sociais, as lideranças locais e militantes da luta pelo direito à moradia denunciam que “o refúgio das ocupações urbanas como última saída construída precariamente para abrigar famílias de Sem Tetos é a falência e negação explícita dos direitos humanitários e constitucionais de proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice e ao deficiente. A existência de ocupações urbanas de Sem Tetos são a denúncia da negação da igualdade básica entre os cidadãos, configurando, política e socialmente, ato de discriminação por motivo de concentração renda, falta de renda mínima e exclusão social extrema, que nos coloca novamente de volta ao mapa internacional da fome e da miséria.”
Em conjunto, militantes e lideranças comunitárias redigiram uma carta-manifesto e um ofício foi entregue ao poder municipal na última sexta-feira (22), denunciando a falta de um plano de contenção do contágio e exigindo respostas imediatas em relação à prevenção e ao combate à covid-19, bem como medidas de reparação da vulnerabilidade social que se impõe sobre a comunidade.
A ação se amplia, ainda, com a realização de um ato seguro – seguindo protocolo sanitário, com o uso de EPIs – em defesa da vida, exigindo testes de covid-19 para a comunidade. O ato será realizado nesta terça (26) às 14h, no Brejaru (Palhoça), e contará com o apoio das ocupações urbanas de Florianópolis, partindo às 13h da Ocupação Marielle Franco. Tambores, apitos e jogral ressoarão palavras de lutas como “não ao genocídio!”, “testes covid-19 já”, e “nossas vidas importam!”
Leia aqui a carta-manifesto escrita pela comunidade e protocolada ao poder público, junto com dezenas de assinaturas de apoiadoras e apoiadores.