Cipla: tomada e controle operário. No 14 de janeiro de 2002, eu era um peão na produção da Cipla, empresa de plástico colada no Bairro Floresta. No portão da fábrica, qual era o papo? Os atrasos de salário, fundo de garantia, décimo terceiro e férias. A diretoria do Sindicato dos Plásticos estava imóvel.
Ao chegar no setor de produção da fábrica, perto do horário da 5 da manhã, um operário do turno noturno e vestido com uma camiseta de Trash declarou “Ei guriada, nada de ligar máquina alguma. Todas estão paradas. É greve!”. Eu já tinha respeito pelo cara vestir camisetas do Kreator e Slayer. Com a palavra de ordem o respeito aumentou. O operário thrasher era o Reca.
Os três dias seguintes foram de uma pauleira sem tamanho. Eu e outros 79 operários fomos demitidos. Porém, a greve espontânea gerou um sentimento de revolta e a necessidade de organização.
Depois, a Cipla foi tomada pela classe operária e por cinco anos administrada por uma comissão de trabalhadoras e trabalhadores, entre eles estava o operário thrasher Reca.
Cipla: tomada e controle operário
O sonho operário da Cipla durou até a invasão pela maldita polícia federal em pleno governo Lula, em 2007. Na ocasião, Reca foi demitido.
Desde aquele verão de 2002, sempre que encontrava o Reca nos zarcos, terminais, na loja do Daniel e na Rock total, o papo era sobre discos de thrash, DRI e quanto as bandas tinham forte conteúdo revolucionário e as nossas memórias operárias.
Acabei de saber do falecimento do Rogério.
Que terra será leve e o universo toque um metal em vinil.