Nota de opinião da Resistência Popular Comunitária / Porto Alegre
Somos nós, os de baixo que carregamos a cidade nas nossas costas, Somos nós, que trabalhamos sem parar, que pagamos o ônibus lotado para voltar para casa e enfrentamos o preço de viver.
Ao subir o morro para casa, você já se deparou com prédios de luxo? Todos cercados, com carros nos estacionamentos e segurança 24 horas. Já olhou pela janela depois de um dia de trabalho, preso no engarrafamento e se indignou com as cobranças do patrão? Entre um cochilo e outro no ônibus, já sonhou com uma vida digna?
Em meio a pandemia, as aulas encerraram, a criançada tá em casa, os bicos diminuíram e as bocas aumentaram. Já não se pode montar a banquinha no centro, a empresa faz rodízio de horário, as corridas de aplicativo diminuíram, as encomendas não tem mais demanda… Geral tá com as contas atrasadas e a conta no vermelho.
Mas calma, nem tudo é finado… Em meio a precarização da vida, também temos carnavais! Com a escola da comunidade ensinando que a solidariedade entre vizinho move montanhas, move morros! Vemos na solidariedade, trabalhadoras autônomas fortalecendo e divulgando o trabalho de outros trabalhadores autônomos.
Em meio ao alto custo dos alimentos temos ações de solidariedade a garantir uma cesta básica para famílias se erguerem em dias de grande peleia. Desde sempre, foi o apoio mútuo entre vizinhos que constitui lares, ajudando a pregar desde os primeiros pregos a última tábua. Não apenas emprestando uma xícara sal, mas chamando para fazer o almoço todos juntos.
Com esse vírus solto no ar, a saída é coletiva, cuidando de si, dos seus e dos outros, prevenindo-se e evitando a proliferação do mesmo através do cuidado coletivo. Nas comunidades os perrengues diários potencializam o contagio com falta de água, saneamento básico, moradias precárias e grande aglomeração de pessoas.
Problemas que só podem ser solucionados com a auto-organização das comunidades, fazendo a política do dia a dia. Não a política dos gabinetes, a política feita do povo para povo, com o pé no barro. Independente de plaboy engravatado que aparece de quatro em quatro anos para fazer palanque. A política que estamos falando é organizada pelos de baixo, com as assembleias de moradores, os clubes de mães, com crianças a brincar e estudar nas bibliotecas comunitárias, nos cursinhos populares, as coisas que saem no jornal do bairro e não nos grandes veículos de mídia! São ações culturais que fortalecem aqueles que ali constituem suas vidas.
Que nesses dias difíceis nos esforcemos ao máximo para estar se guardando dentro de casa, saindo se preciso para o essencial reforçando a higiene e cuidado com sigo mesmo e com os nossos para que assim, quando passar tudo isso (e vai passar) que o encontro entre vizinhos seja um grande café comunitário. Que não falte comida na mesa, que todos se vejam ombro a ombro, cada morador trazendo consigo uma semente para plantar e criar raízes na luta popular. Assim, à sombra dessa árvore, nos encontraremos novamente para organizar, lutar e conquistar uma vida digna!
NA LUTA POR VIDA DIGNA!