Criado no meio do mês de março de 2020 o Grupo de Ajudas Mútuas Vila Silva, em Sapucaia do Sul, no estado do Rio Grande do Sul, tem mobilizado a vizinhança do bairro e demais moradores das cercanias a partir dos mais diversos atos de solidariedade em meio à crise da Covid-19, o novo coronavírus. Tendo em vista as medidas de isolamento, tomadas como forma de evitar a proliferação do vírus, se viu necessária a criação de um espaço de sociabilidade online que suprisse demandas básicas do dia a dia.
Com o objetivo de reunir moradores e moradoras do bairro Silva e arredores via aplicativo Whatsapp, o Grupo de Ajudas Mútuas Vila Silva tem cumprido um papel importante ao levantar quais precisam de auxílio e quem pode auxiliar. Disseminando o espírito de solidariedade, iniciativas como essa demonstram que apenas de forma coletiva podemos responder à crise propiciada pelo vírus e acentuada pelos desmandos do presidente Bolsonaro.
Nesse curto período de tempo o grupo tem sido responsável por difundir informações confiáveis, desmentindo Fake News, denunciar práticas de abuso cometidos por empresas como demissões e não oferecimento de EPIs, levantar voluntários para auxiliar pessoas do grupo de risco (efetuando atividades de ida ao mercado, farmácia, etc) e arrecadando alimentos e móveis para quem está em uma situação mais precária.
Dois exemplos de atos propiciados pelo grupo foram a arrecadação de alimentos para um senhor e uma senhora, ambos moradores do bairro, completamente desassistidos com a falta de produtos básicos para sua subsistência. Esta última sobrevive com uma renda de R$ 80,00 por mês, enquanto o outro a partir de doações, uma vez que espera há anos sua aposentadoria. Outra ação realizada foi a arrecadação de móveis e utensílios básicos para as famílias que perderam tudo em um incêndio ocorrido no bairro Cohab, também em Sapucaia do Sul.
Tais atos, por mais humildes que sejam, demonstram a força e união dos moradores e moradoras da Vila Silva.
– Eu penso que a criação do grupo foi boa para interagir com as pessoas do bairro e meus amigos, até com pessoas que não moram no bairro e que estão participando do grupo, sendo bem positivas e colaborando. – Relata a moradora Lorena, 48 anos, uma das criadoras do grupo de WhatsApp. – Então penso que no momento que existe união, a gente se torna mais forte, fica mais forte para lutar contra qualquer problema, por mais grave que seja, a gente não se sente desvalido.
Por mais que a organização do grupo seja recente, seu impacto foi grande, como relatado por Marta, 55, dona de casa e moradora do bairro há 49 anos:
– Não demorou muito para surgir ajuda de várias pessoas com doação de alimentos, de roupas e de calçados. Foi entrando mais pessoas agregando e ajudando de todas as formas. – Conta a moradora. – Acredito que está funcionando e muito bem, todo dia aparecem pessoas oferecendo alimento ou indicando lugares onde se pode pegar. Pessoas buscando também o que estão doando. Assim como para aqueles que não podem sair, se está ajudando a fazer suas compras evitando sair de casa.
A dona de casa relata também que a ajuda se as ações de solidariedade se expandiram para além das questões ligadas diretamente ao coronavírus. Conta que o grupo se mobilizou para auxiliar na arrecadação de móveis, colchão, eletrodomésticos e roupas para uma família que havia perdido tudo num incêndio. A grande importância do grupo virutal de apoio mútuo foi ressaltada por uma unanimidade entre as pessoas entrevistadas. Mirna Chaxim, 49 anos, artesã, fala de sua experiência com o grupo:
– Quero dividir o grande apoio que o grupo me deu. Eu precisava comprar remédios pro meu marido que é do grupo de risco, tem diabete. – Conta a artesã, comovida. – Eu estava com medo de sair pra rua, e uma pessoa do bairro, sem me conhecer, se prontificou a ir na farmácia e comprou com o cartão dela o remédio que é caro! Veio até minha casa e me entregou com nota fiscal.
Atravessamos um período difícil, ainda mais para a classe trabalhadora, primeira a ser afetada pela falta de empregos, pelo alto custo de vida, pelos problemas de saneamento básico e precarização da saúde pública, que se mostra de vital importância em momentos como este. Mas esses momentos de crise e dificuldade, mais que do nunca, despertam a importância de fortalecermos nossos vínculos comunitários, estreitando relações essenciais para que possamos viver uma vida digna. Isso fica claro no relato de todas as entrevistadas citadas anteriormente, como também no de Rosane Damaceno, empresária, outra residente do bairro Silva:
– Só com o fato de estar participando no grupo comunitário, as pessoas já se sentem mais amparadas psicologicamente, por saberem que não estão sozinhas. – Destaca a empresária. – São iniciativas como esta que estão ajudando os idosos e as famílias mais necessitadas, nesse momento de muito estresse e dificuldade econômica.
Na luta por uma vida mais digna, a solidariedade e o apoio mútuo falam mais forte em resposta aos momentos de necessidade. Mesmo não podendo estar perto, continuamos sempre juntos. O Grupo de Ajudas Mútuas Vila Silva dá seu exemplo, e continuará firme enquanto for necessário, para garantir que não falte pão, água, comida, remédios, para garantir que não falte nada àqueles que necessitam.