Não é exagero dizer que os governos estaduais e municipais, responsáveis diretos pela proteção da população, falharam em criar estratégias para prevenir a chegada e a proliferação do coronavírus entre a população em situação de rua
Thiago Fuschini*
O primeiro caso brasileiro de Covid-19 , causada pelo novo coronavírus, foi confirmado pelo Ministério da Saúde em 26 de fevereiro. Hoje, quase um mês depois, o País tem 46 mortes e 2.201 casos confirmados . Ontem, Bolsonaro fez o pronunciamento, criticado por aliados e opositores, no qual, mais uma vez, minimiza o combate à pandemia.
Neste mês passado desde a confirmação do primeiro caso local da doença, não é exagero dizer que os governos estaduais e municipais, responsáveis diretos pela proteção da população, falharam em criar estratégias para prevenir a chegada e a proliferação do coronavírus entre a população em situação de rua, uma das mais suscetíveis à contaminação.
Até agora, o que se viu e vê, é uma série de anúncios sobre iniciativas pouco detalhadas e sem data para implementação, enquanto que, na prática, os moradores de rua continuam abandonados e ignorados.
Em SP e no Rio de Janeiro, há relatos de superlotação e falta de condições mínimas de higiene de alimentos em centros de acolhida à população de rua.
A este descaso, soma-se ainda o fato de que, com o confinamento e o fechamento de comércios (inclusive bares e restaurantes, em no estado de São Paulo e em Salvador, Bahia, por exemplo), quem vive nas e das ruas vem enfrentando dificuldade para obter doações, sejam dinheiro ou alimentos, além de escassearem opções de onde conseguir refeições e realizar pequenos serviços.
Iniciativas locais
A exceção à regra são as pequenas iniciativas locais, que buscam dar auxílio e oferecer o mínimo de condições para que o Povo da Rua possa se manter até que o Estado decida finalmente tomar uma posição e agir para proteger os mais pobres entre os pobres.
Abaixo, exemplos de algumas iniciativas que devem ser conhecidas e apoiadas:
- A Pastoral do Povo da Rua de SP, coordenada pelo padre Julio Lancellotti, está coletando doações de alimentos, roupas e produtos de higiene para os moradores de rua.
- O Movimento Nacional da População de Rua realiza uma campanha no Espírito Santo para arrecadar doações. “‘Fique em casa’, mas… que casa?”, diz o chamado. O pedido é para doações de sabão e sabonete, álcool em gel, máscaras, água, sucos e alimentos não perecível para serem entregues na Casa do Cidadão, em Maruípe, Vitória, ou na Serra, por meio de contato com Mindu (telefone 99769-7797) ou Sheila (99760-5506). Também são aceitas doações em dinheiro para compra dos produtos por meio do aplicativo Picpay na conta @julio.pagotto.
- Robson César Correia de Mendonça, um ex-morador de rua e hoje Conselheiro Municipal sobre o assunto, está espalhando pelo centro da capital paulista (Praça da Sé) garrafas pet com água e sabão. Além disso, ele, que sempre distribuiu comida, também passou a entregar kits de higiene pessoal.
Apoie, incentive e divulgue outras iniciativas!
*Thiago Fuschini é jornalista, sociólogo, voluntário da Pastoral do Povo da Rua de SP e editor da página Observatório do Povo da Rua no Facebook.