Por Ana Maria Cruz.
No dia 31 de outubro do ano de 2012, na cidade de Tucano-Bahia, Pedro foi covardemente espancado, em via pública, durante uma abordagem policial de rotina. Os agressores foram indiciados em Inquérito Policial e penalizados, inclusive um deles, inconformado com a pena e com a ampla divulgação que teve o caso, decidiu processar Pedro por difamação.
Em fevereiro de 2013, Pedro realizou a I Caminhada da Paz em Tucano. Muitas abordagens violentas, covardes e despropositadas ocorreram no decorrer desse tempo, inclusive na cidade de Salvador, onde, em uma oportunidade, policiais o sequestraram na rodoviária da capital, quando Pedro retornava de Tucano, foi levado para a 1ª CIPM em Pernambués onde permaneceu sob cárcere privado das 04:00 às 09:00, fato este que foi levado ao conhecimento da Defensoria Pública. Pedro nunca se intimidou com essas covardias e suas caminhadas continuaram acontecendo, sempre com o intuito de celebrar a Paz, combater a violência policial e ao mesmo tempo solidarizar-se com o povo carente, trocando camisetas por alimentos não perecíveis e assim ao término de cada evento, dezenas de cestas básicas eram distribuídas para famílias carentes da cidade. Mas as abordagens injustificadas, violentas, desrespeitosas, continuavam ocorrendo, com o intuito apenas de humilhá-lo. Todas essas ilegalidades foram devidamente registradas no Ministério Público de Tucano, sem que nenhuma providência concreta fosse adotada para frear a sanha dos agressores. Na VI Caminhada da Paz, realizada no mês de maio de 2018, uma viatura da polícia militar apareceu no local de concentração do evento e passou por cima das faixas que encontravam-se arrumadas no circuito. Quando o cortejo alcançou a praça da cidade, a mesma viatura apareceu na frente da faixa principal, “cantando pneus” e dando “cavalo de pau” com o objetivo de provocar pânico nos participantes e dispersar a multidão, sem êxito. Depois do último evento realizado em Tucano, a VI Caminhada 2018, as abordagens agressivas aumentaram, agora, mais violentas, inclusive, uma delas realizada por guardas civis municipais (GCM) que resolveram aderir às perseguições a Pedro, que mais uma vez levou o fato ao conhecimento do Ministério Público, no fórum da cidade. Na noite do dia 26 de outubro de 2018, policiais militares, juntamente com guardas municipais invadiram a residência de Pedro, encontraram cinco pés de cannabis no quintal de sua casa e o levaram preso, para a delegacia de Euclides da Cunha onde foi autuado em flagrante por infração ao Artigo 33 da Lei 11.343/2006 (tráfico de drogas), porém, em menos de 24 horas de sua detenção, o juiz daquela comarca, ao ser comunicado da prisão e analisar as circunstâncias em que ocorreu, reconheceu a ilegalidade cometida pelos agentes por invasão de domicílio, decretou a nulidade da mesma e ainda descaracterizou o crime de tráfico para uso de substância entorpecente, Artigo 28 da Lei 11.343/2006, determinando que o mesmo fosse posto em liberdade imediatamente, fato que desagradou a um agente que nem havia participado da ação equivocada e ilegal, passando a atacá-lo com ofensas nas redes sociais. Nesse ínterim, fotos de Pedro preso, ilegalmente, dentro de sua residência, já haviam sido divulgadas em vários sites de notícias, pelo comandante da CIPE. Mas o pior estava por vir.
Na madrugada do dia 27 de dezembro de 2018, homens encapuzados arrombaram a casa de Pedro e o surpreenderam dormindo, Pedro ainda levantou-se apressadamente, vestiu a bermuda, permaneceu de pé, com as mãos na cabeça, pensando tratar-se de mais um abuso policial, mas nesse momento, Pedro foi atingido por dois tiros deflagrados por um dos assassinos e ao cair sobre a cama onde dormia, os três encapuzados descarregaram suas pistolas na cabeça de Pedro que morreu no local.
Pedro deixou um legado que nenhum assassino vai poder extinguir: A vontade, a garra, a coragem e a força de continuar sua luta pela Paz através daqueles que conviveram com ele. Esta energia arma nenhuma vai poder dissipar. A Esperança está viva assim como seus ideais de Paz, Amor, Fraternidade e de uma sociedade menos violenta.
CRONOLOGIA DOS FATOS:
* 31 de outubro de 2012 – Pedro Henrique Santos Cruz Sousa foi covardemente agredido por militares, durante uma abordagem policial. Fato registrado na delegacia de Tucano, oc. nº. 705/2012, que deu origem ao Inquérito Policial nº. 204/2012;
* 20 de agosto de 2013 – Os agressores de Pedro, um tenente e um soldado da PM são condenados por lesão corporal e abuso de autoridade, nesta mesma oportunidade, Pedro é ameaçado pelo tenente: “Isto vai lhe custar caro!”, seria esta a sua sentença de morte;
* 15 de setembro de 2014 – Pedro sofre uma abordagem injustificada, humilhante e abusiva por parte do tenente processado. Fato registrado no Ministério Público da cidade de Tucano;
*23 de abril de 2017 – Pedro é abordado, três vezes, no mesmo dia, pelo mesmo tenente. Fato registrado no Ministério Público da cidade de Tucano;
*27 de abril de 2017 – Pedro sofre duas abordagens humilhantes, desta feita por dois soldados da PM, seus futuros assassinos. Fato registrado no Ministério Público da cidade de Tucano;
*06 de maio de 2018 – Os mesmos soldados comparecem duas vezes, durante o evento VI Caminhada da Paz, a primeira, na concentração, passando com a viatura por cima das faixas e a segunda vez, durante o trajeto, dando “cavalo de pau” na frente do cortejo, assustando os participantes que vaiaram a ação. Fato registrado no Ministério Público da cidade de Tucano;
*11 de maio de 2018 – Pedro é agredido física e verbalmente em nova abordagem realizada pelos mesmos soldados, e em menos de uma hora depois, sofre outra abordagem abusiva, desta feita, por uma guarnição da CIPE. Fato registrado no Ministério Público da cidade de Tucano;
*18 de maio de 2018 – Pedro é abordado, agredido fisicamente e ameaçado de morte pelos mesmos soldados. Fato registrado no Ministério Público da cidade de Tucano;
*03 de junho de 2018 – Pedro é abordado por uma guarnição da GCM de Tucano, de forma truculenta, tem seu aparelho celular quebrado e sofre ameaças de morte. Fato registrado no Ministério Público da cidade de Tucano;
*26 de outubro de 2018 – Logo após denunciar em sua rede social invasões de domicílios praticada por PMs, Pedro teve sua casa invadida por duas guarnições, uma da CIPE e outra da GCM, sendo preso ilegalmente. Fato que foi levado ao conhecimento do Promotor de Justiça, que se negou a fazer o registro;
*27 de dezembro de 2018 – Pedro teve sua casa novamente invadida, desta vez por três homens encapuzados, que depois de lhe darem voz de prisão, o executaram a tiros. Segundo relato de testemunhas, os dois soldados contumazes em abordar Pedro, está entre os atiradores. Foi instaurado o inquérito policial de nº. 133/2018 para apurar o crime, mas até a primeira quinzena do mês de abril, os assassinos sequer haviam sido interrogados.
* Agosto de 2019 – Fomos informados que a polícia civil de Tucano indiciou dois policiais militares por homicídio qualificado, contra Pedro Henrique. O terceiro atirador continuava com a identidade ignorada, no entanto, todos eles seguem livres e impunes até a presente data: 13/02/2020.