Ao longo da história do cinema os filmes volta e meia estão imersos em polêmicas de tudo quanto é ordem: provocações, censura, assédio, racismo, etc. Faz parte da arte cinematográfica, como qualquer outra, se inserir no debate público enquanto forma artística e suscitar discussões. Há uma relação contígua entre arte e sociedade.
Lá nos anos 30 o filme Monstros (no original Freaks, que seria como ‘aberrações’) de Tod Browning certamente causou polêmica ao explicitar a violência a que pessoas com alguma deficiência, em geral física, eram submetidas: eram expostas em um circo, como aberrações extravagantes e exóticas. Outro filme contemporâneo que deve ter levantado debate é O nascimento de uma nação, obra a qual ainda não assisti, mas que pelo seu conteúdo racista de formação da sociedade estadunidense com presença ativa da Ku Klux Kan certamente fez os nervos se elevarem.
Nos anos 60, como é típico de vanguardas, Godard, Chabrol, Varda e companhia chocaram o público acostumado ao neorrealismo antecedente com sua vanguarda cinematográfica mundialmente conhecida como Nouvelle Vague. Isto para ficar na França, sem falar em gente como Glauber Rocha no Brasil ou Imamura no Japão, este implementando um elemento erótico nos filmes que deu o que falar.
Casos de assédio sexual e violência de gênero em geral sempre aconteceram e hoje em dia o debate está mais aflorado do que nunca. Filmes como Último tango em Paris, Dançando no escuro e outros hoje em dia são contestados pelas violências que estruturaram de alguma forma a produção das obras. Lars Von Trier, diretor de Dançando no escuro, Ninfomaníaca e Anticristo (os dois últimos com polêmicas cenas de sexo explícito), é famoso por coisas assim, tendo falado muita bobagem a respeito de sexo e gênero.
Na mesma linha o “pornô travestido de cult” (síntese de um ex colega de debates, Nilmar) “Love”, de Gaspar Noé, gerou alvoroço ao exibir seu péssimo filme, cujo objetivo execrável era, mais ou menos nas palavras do diretor, “deixar os meninos de pau duro e as meninas molhadas”. Neste caminho são os filmes de Kechiche, desde Azul é a cor mais quente, com polêmicos minutos (mais ou menos 20) de sexo explícito entre o casal lésbico (Adèle e Seydoux), e que agora está produzindo uma trilogia chamada Mektoub, que está sendo chamado de filme pornô – e provavelmente de maneira acertada.
O último filme em questão é Coringa, filme solo do famigerado vilão do Batman. Ao que parece – ainda não assisti ao filme – o debate gira em torno das imagens fortes que o filme traz e a discussão que suscita, sobre bullying, por exemplo. Havia quem pregasse a censura ao filme por um suposto “incentivo” à violência. É óbvio que o filme, assim como qualquer arte, como disse acima, traz questões tensivas das nossas sociedades e a boa obra de arte é justamente a que propõe perguntas, não a que pretensamente as responde. É sempre de se ponderar a forma como a crítica aparece, muitas vezes soando como fetiche da violência (exemplos: Doze anos de escravidão, Irreversível, Jogos Mortais), mas o debate é sempre o mais importante, significando que há coisas que se precisa falar. Mesmo que supostamente o filme fizesse apologia (como Nascimento de uma nação ou os filmes nazistas) sou a favor de que não os censuremos, mas sim os assistamos para entender melhor o lado radical da nossa sociedade a qual é preciso combater.
As críticas e os debates são sempre bem vindos. A censura só interessa a quem tem medo de questionamentos.
Rodrigo Mendes