No último domingo (23), uma reportagem do programa Fantástico, falou de supostas vendas de casas feitas por assentados do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Embora o MST admita que pode existir esta prática, o próprio movimento se coloca contra isto, e a própria matéria da Rede Globo admite que lideranças de assentamentos já denunciaram situações semelhantes.
Para o movimento, a Globo usou alguns casos isolados de irregularidades (segundo o Ministério Público, há cerca de 50 investigações) para atacar mais de meio milhão de famílias que hoje são beneficiadas pela Reforma Agrária.
Também chama atenção que a Globo mobilizou esforços e colocou recursos para produzir esta reportagem que generaliza e criminaliza o MST, mas nunca repetiu o empenho para mostrar como é a vida na maioria dos assentamentos. Abaixo, segue nota escrita por moradores do Assentamento Santa Rita de Cássia II, do Rio Grande do Sul, que foi citado na matéria do Fantástico:
Nota oficial do Assentamento Santa Rita de Cássia II
O assentamento Santa Rita de Cassia II, localizado no Município de Nova Santa Rita – RS, Brasil, No dia 21 de abril de 2004, várias famílias Sem Terra, organizadas pelo MST, oriundas de muitas regiões do estado do RS, ocuparam a antiga fazenda montepio, uma área improdutiva, para reivindicar que a antiga fazenda viesse a cumprir a função social da terra.
Foi um tempo difícil de luta e organização, mas como acontece em todo o Brasil que 90% dos assentamentos são criados quando há ocupação da terra, portanto aqui não foi diferente , foi a organização das famílias que garantiu a conquista e acesso a terra.
Após conquistar a terra teríamos muitos outros desafios, entre eles produzir alimentos agroecológicos. Em nosso assentamento, se produziu mais de 500 hectares de arroz orgânico na safra 2018-2019, as famílias assentadas estão presentes em mais de 42 pontos de feiras agroecológicas espalhadas pela região metropolitana de Porto Alegre, o assentamento é um território que cumpre a função social de produzir alimentos saudáveis, assim como de preservar as matas, a água, o cuidado com os animais e, principalmente, o cuidado com as pessoas.
Vivemos num ambiente saudável, por aqui praticamente não se vê violência entre as pessoas, as famílias tem moradia, ninguém passa fome, temos acesso a saúde, educação, nossas crianças estão estudando, nossos jovens estão estudando e trabalhando.
Somos um assentamento de pessoas simples, mas alegres com nossas conquistas. Somos um povo trabalhador, que trabalha para viver bem, não para explorar uns aos outros.
Por motivos que desconhecemos, neste último domingo (23/06/19), em reportagem exibida pela Rede Globo, no programa Fantástico, aparece nosso assentamento, o qual é insinuado que não estamos cumprindo com a função social da terra. Tal reportagem jogou as famílias assentadas perante a opinião pública de nosso Município, Estado e país, como se este assentamento não esteja cumprindo com sua função social.
Diante disso, questionamos: qual o real interesse em publicar esse tipo de reportagem? Será que querem nosso assentamento para exploração de mineração? Será que querem para fazer especulação imobiliária? Será que querem a terra para envenenar as pessoas, a água e o ar? Ou será que não aceitam que os mais pobres vivam com dignidade?
Em nosso assentamento não tem crise, nos alimentamos bem, temos moradia, cuidamos da saúde, cuidamos das crianças, dos idosos, estudamos e trabalhamos . Vivemos de uma forma simples, mas com muita qualidade de vida.
Dessa forma nos orgulhamos de nossa luta, de nossa história, o que fizemos até agora foi muito, a ponto de mudar nossas vidas para melhor e para sempre.
