Ato contra Bolsonaro está entre os três maiores da história do país

De João Gabriel da Costa, professor de Ciências – Florianópolis, SC

Ainda não vi um esforço sério da mídia nem da academia em buscar representar com dados o tamanho da gigantesca onda feminista e popular que aconteceu ontem contra o candidato da extrema-direita. Juntando informações que encontrei por aí, acredito que esteja entre as três maiores mobilizações da história do país.

O dado mais impressionante é a quantidade de cidades com atos, embora as cidades pequenas estejam sendo ignoradas na maioria das análises. Levantamentos informais mostram que houve pelo menos 12 atos em Santa Catarina, um estado pequeno e com eleitorado conservador enorme (https://bit.ly/2y0Ma7t). No RS, também parte do Sul conservador, foram pelo menos 25 (https://bit.ly/2y1GwSE). A grande maioria das cidades listadas aí não aparecem em nenhuma das notícias, seja da grande mídia ou da alternativa. No Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, também houve em atos em todas as grandes cidades e dezenas de cidades pequenas de cada Estado.

Estimativas conservadoras indicam mais de 50 mil pessoas em Porto Alegre, mais de 30 mil em Florianópolis, mais de 30 mil em Curitiba, epicentro da onda conservadora. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo tiveram multidões de pelo menos 200 mil pessoas na rua. No exterior, dezenas de cidades fizeram atos em solidariedade. Por isso, uma estimativa conservadora indica que houve milhões de pessoas nas ruas, em centenas de cidades.

Não chegou ao tamanho das mobilizações de Junho de 2013, é verdade, quando a revolta contra o preço dos ônibus e a violência policial em São Paulo gerou atos simultâneos em mais de 300 cidades. Talvez também não tenha alcançado o tamanho da maior mobilização feita em defesa do impeachment, em 2016. Mas as marchas do impeachment recebiam uma cobertura imensa da mídia, que passava o dia inteiro transmitindo ao vivo os acontecimentos por todo o país e os serviços de transporte público chegaram a funcionar gratuitamente para levar as pessoas para as ruas.

Ao contrário delas, a mobilização das mulheres não tem apoio da grande mídia nem dos serviços públicos porque é um ato de rebeldia contra o sistema. Contra Bolsonaro, sim, mas na verdade contra toda a onda conservadora, ultraliberal, racista, misógina e LGBTfóbica que domina o Estado brasileiro e nossa elite. O ato das mulheres de ontem foi, sem sombra de dúvidas, uma manifestação de esquerda, contra os poderes vigentes. Não terá espaço na mídia, mas caberá a nós fazer com que ela ressoe, se multiplique e vença. Faremos registro vivo de ontem nas próximas lutas que virão, cada vez mais fortes.