60 anos do golpe militar e a censura que calou Joinville

Era manhã de 1º de abril de 1964 quando o conjunto das classes oprimidas brasileiras encontrou homens fardados e tanques militares invadindo as ruas das capitais e as rodovias para impedir o suposto “perigo do comunismo”. Ali começava o golpe militar e empresarial, que uniu Estados Unidos e a burguesia brasileira. Ali teve início o sequestro, desaparecimento, tortura, censura e as incontáveis mortes que perduraram pelos 21 anos da ditadura brasileira.

Em todo regime de opressão, a resistência por meio da organização do povo pobre se faz presente, figuras protagonistas na organização e resistência contra a Ditadura Militar empresarial.

E da união deste povo, a Associação de Moradores e Amigos do Bairro Itinga (Amorabi) surge. A entidade nasce neste contexto na luta por direitos sociais como moradia, saneamento básico, saúde, educação, transporte e cultura e lazer. Momento em que os direitos humanos eram recusados pelos militares no poder. Desde então, com muita organização e luta, muito foi conquistado, desde escolas até o processo de redemocratização, mesmo que ainda dentro da perspectiva burguesa.

Para trazer mais memória ao povo resistente, a Biblioteca Comunitária Lutador Dito também surge como homenagem a um lutador do bairro Itinga. A sua trajetória de luta se encontra com a da Pastoral Operária no interior do Paraná e em Joinville ainda na década de 1980, nos últimos suspiros da maldita ditadura.

No período ditatorial, obras foram censuradas em Joinville, como os escritos de Frantz Fanon e Miraci Dereti. Fanon é mundialmente reconhecido, porém, somente nos últimos anos a sua obra foi retomada na academia, mas na militância negra sempre foi referenciada.

Dereti, entretanto, ainda é mundialmente desconhecido, inclusive localmente. Porém, no círculo do teatro sua obra teatral foi reavivada pelas mãos de Cristóvão Petry, histórico militante da Amorbi e o Abismo Teatro de Grupo. A peça “Os Palhaços”, que foi censurada na época da ditadura, pode circular anos depois nas mãos do grupo Abismo, que apresentou o texto inúmeras vezes.

Ainda que o golpe tenha tido fim, o passado repressivo e censurador ainda é presente na chamada “democracia burguesa” de Joinville. Em agosto de 2023, a cineasta Fahya Kury Cassins foi censurada por vereadores locais por conta do seu curta-metragem “Gritos do Sul”, um suspense que retrata uma família interracial sendo atacada por nazifascistas da região.

Nas últimas semanas, em várias cidades brasileiras, o livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, incluído no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) em 2022 sofreu censura.

Por conta de todo o cenário apresentado, as bibliotecas comunitárias, que atuam de maneira autônoma e independente de governos e patrões, baseadas na solidariedade, liberdade e igualdade se fazem necessária na construção das novas subjetividades. Partirmos das nossas memórias e histórias locais interpretamos e transformamos o mundo.

Pelo direito à literatura!
Construir barricada de livros!
Por memória, verdade e justiça.

Texto por: Biblioteca Comunitária Lutador Dito