CAMPANHA DE LUTA POR VIDA DIGNA – 2021
Editorial do Repórter Popular
Um ano desde que a pandemia se alastrou em nosso país. Nossas condições de vida, que já estavam ruins, agora beiram o insuportável.
Um ano que choramos nossos mortos, que buscamos emprego, que vemos o preço dos alimentos aumentar sem parar. Os governos e os poderosos não nos dão solução, nada é feito para evitar a morte do nosso povo, para sanar a nossa fome, para dar qualquer perspectiva de melhores condições de vida para a população.
Já está mais que claro que para os que estão no poder não interessa quantos morram. Nossas vidas são descartáveis! Para os de cima, somos mão de obra barata e apenas mais um número na contagem de mortos do dia.
Esquecem que somos nós, trabalhadoras e trabalhadores, que fazemos o mundo girar. Que é a força dos nossos corpos que produz toda a riqueza que existe no mundo. Nossa luta nunca parou, e sabemos a força que temos!
É com essa indignação e rebeldia que damos continuidade à Campanha de Luta por Vida Digna neste difícil ano de 2021. Não temos mais tempo a perder, nossa luta é urgente, desesperada e justa. EXIGIMOS VIVER!
Durante esses meses de pandemia, a Campanha de Luta por Vida Digna veio atuando em todo o território nacional com os de baixo, seguindo os princípios de solidariedade, apoio mútuo e ação direta. Enquanto povo forte e combativo, sabemos o que é necessário para superar essa crise, para defendermos nossa vida! E por isso o enfoque neste momento é na questão da SAÚDE e da RENDA.
É urgente a manutenção de um auxílio financeiro para trabalhadores e microempreendedores, que têm sofrido diretamente com o crescente desemprego, precarização de seus trabalhos e queda na renda! Seguimos pautando as dispensas remuneradas e suspensão ou negociação de aluguéis, dívidas e penas, bem como o direito à renda básica e digna de forma permanente, para garantir a sobrevivência da população, especialmente em tempos de crise.
Exigimos um plano de vacinação popular e em massa, que garanta a proteção de toda a população o quanto antes! Que o controle das vacinas seja exclusividade do SUS e que haja expansão dos investimentos em pesquisas desenvolvidas nas universidades e institutos de pesquisa públicos, que têm se mostrado essenciais para o enfrentamento da pandemia. Junto a isso demandamos medidas efetivas para conter o avanço da pandemia, que após um ano se apresenta em seu pior cenário no Brasil, e o colapso de nossos sistemas de saúde. Por fechamentos efetivos e planos de contingência eficazes, com garantia de renda para o povo e que viabilizem segurança sanitária para o funcionamento de serviços não-essenciais e para o retorno seguro de atividades em escolas e universidades.
Como trabalhadores, estudantes, desempregadas e desempregados, militantes e lutadoras e lutadores populares, jovens de periferia e do campo, gente que vive do seu trabalho e não aceita as condições horríveis que lhes são impostas, estamos organizadas e conclamamos todas as pessoas a seguirem se organizando e lutando por SAÚDE E RENDA!
QUEREMOS VIVER!
QUEREMOS VACINA URGENTE PARA O POVO E FECHAMENTO COM AUXÍLIO DIGNO!
NOSSA FORÇA MOVE O MUNDO, LUTAMOS POR VIDA DIGNA!
Campanha de Luta por Vida Digna
Março de 2021
Nossa força move o mundo: lançamento da Campanha de Luta por Vida Digna
Editorial do Repórter Popular
No dia 26 de maio de 2020, dezenas de grupos, organizações e movimentos sociais ao longo de todo o território nacional lançaram a Campanha de Luta por Vida Digna, através de uma carta-manifesto. O documento conta com 13 eixos de luta, que giram em torno de uma pauta emergencial no combate à pandemia do novo coronavírus. E pensando num horizonte pós-pandêmico, visa contribuir para o enraizamento da luta dos de baixo, segundo os princípios de solidariedade, apoio mútuo e ação direta, com o objetivo de construir um povo forte e combativo, mobilizado na luta por vida digna.
CAMPANHA DE LUTA POR VIDA DIGNA
PAUTA DE EMERGÊNCIA POPULAR CONTRA O CORONAVÍRUS
NOSSA FORÇA MOVE O MUNDO, LUTAMOS POR VIDA DIGNA!
Clique no botão “Play” para ouvir a versão em áudio-texto:
Nossa luta nunca parou. Ao redor do mundo, são os nossos braços que constroem e operam máquinas, que dirigem e entregam mercadorias, que projetam, fabricam, embalam, distribuem e vendem produtos. Nossa vida como povo sempre dependeu de estarmos na ativa, firmes e fortes, mesmo nas piores condições.
Condições que pioraram nos últimos anos. O governo, junto com os mais ricos do Brasil, flexibilizaram as leis trabalhistas (nossas garantias), precarizaram nosso trabalho (nossa dignidade), colocaram milhões na rua (nosso ganha-pão) e por fim, aos que ficaram, sobrou trabalhar quase que de graça.
Os investimentos nos serviços públicos diminuíram, fazendo a qualidade piorar. Muitas vezes nos fazendo correr atrás de convênios de saúde ruins para resolver problemas que antes eram resolvidos no postinho, ou ficar meses em uma fila da creche e ter que deixar o filho cada vez mais longe de casa. Depois de anos trabalhando e contando os dias para a aposentadoria, parece que agora nem adianta mais contar. Se temos um benefício baixíssimo do governo, outro que aparece não podemos ter. O pouco que falta é muito para quem não tem nada. Cada dia mais estamos sendo encurralados por quem não parece se importar.
Hoje, com a pandemia, a situação fica ainda mais perigosa e injusta. Ditam como essenciais atividades que mantém a vida dos mais ricos confortáveis e se não concordamos, somos dispensadas e dispensados. Não nos dão importância, nos matam ao nos deixar sem proteção trabalhando, não existe opção para quem depende de baixo salário. O deslocamento faz parte do trabalho, a aglomeração faz parte do trabalho.
Matam nossas crianças, entram em nossas vilas com tratores e em nossas casas sem permissão e continuam fazendo isso na pandemia. Parece que esse trabalho não foi interrompido, pelo contrário, estão matando mais pretas e pretos, pobres e mulheres.
Todos os dias vemos os povos indígenas exigindo que parem de matá-los também, de matar a natureza. Os indígenas dizem que a natureza revida. Nas chuvas, no frio e no calor, todos nós sentimos isso. Perdemos nossos bens, os peixes param de vir, as plantações sofrem e a noite nós pensamos: “Como podemos sobreviver mais amanhã?”. Não existe lugar em que possamos ir para resolver nossos problemas. Não existe fila que resolva.
A destruição dos nossos recursos naturais, das nossas águas e da nossa terra está na agenda dos grandes senhores do capital. Além disso, nossos povos originários e comunidades tradicionais gritam de dor e exclamam suas defesas em nome dos ancestrais caiçaras, coletores, marisqueiras e pescadores que cuidam de nossas matas, rios, lagoas, mares e terras produtivas para o povo.
Por isso, como trabalhadores, estudantes, desempregadas e desempregados, militantes e lutadoras e lutadores populares, jovens de periferia e do campo, gente que vive do seu trabalho e não aceita as condições horríveis que lhes são impostas, estamos organizadas e organizados em uma ampla campanha de luta por vida digna, contra a vida cara e violenta que nos é imposta e contra o horror da pandemia.
Nem aceitar passivamente a situação, nem deixar que o medo nos paralise: estamos em todo o país, nos organizando como pudermos para fazer ações de solidariedade, nas vilas e nas favelas. E nos colocando a serviço de quem precisa, sem nunca parar de dizer que essa crise tem culpados. Sem desistir de lutar por uma vida digna.
Diante deste cenário, nossas demandas e ações nesta campanha incluem diferentes eixos:
1) SAÚDE PÚBLICA E UNIVERSAL
Requisição dos meios particulares para ampliação do sistema público e gratuito do SUS. Testagem em massa e gratuito para trabalhadoras e trabalhadores, ampliação do número de agentes comunitários de saúde, estendendo para além da pandemia a maior atenção primária e valorização destes trabalhadores. Entre nós, valorizar e participar de ações de solidariedade organizadas em redes de apoio mútuo para conter o atual cenário de contágio do COVID-19, campanhas de distribuição de testes, máscaras de proteção facial e outros EPIs para a população e para profissionais da saúde na linha de frente no combate à pandemia. Para ajudar na produção de máscaras e distribuição às pessoas, ateliês de costura e costureiras tem feito um excelente trabalho em produzi-las e muitas vezes de forma gratuita.
2) DISPENSA REMUNERADA E RENDA SOCIAL PERMANENTE
Garantia de dispensa do trabalho nas atividades não essenciais, sem demissões e nem redução salarial. Renda básica permanente de PELO MENOS 1 salário mínimo e meio para todos os trabalhadores, principalmente o povo da economia informal, desempregadas e desempregados, trabalhadoras e trabalhadores em condições precárias na rua como de entrega e serviços. Este valor ainda está muito abaixo do valor apontado pelo DIEESE, que é mais de R$ 4 mil mensais para sustentar dignamente uma família de 4 pessoas.
3) SUSPENSÃO DE CONTAS, DÍVIDAS E PENAS
Suspender aluguéis, dívidas, empréstimos e multas. Isenção de tarifas de serviços essenciais que afetam a vida dos mais pobres. Liberação das penas dos presos no regime semi-aberto e de quem não tem julgamento. A grande maioria de presas e presos é pobre e negra, sofrendo com o encarceramento em massa que mata diariamente, humilha familiares e aprofunda o genocídio do nosso povo.
4) DIREITO A MORADIA DIGNA
Solidariedade à população em situação de rua e sem-teto! Suspensão imediata de despejos ou ordens judiciais de reintegração de posse. Fazer cumprir a função social de edifícios vazios para fim de moradia digna e amparo a todas e todos. Subsídio de hoteis próximos a hospitais para profissionais da saúde para proteção de suas famílias. Se morar é um direito, ocupar é um dever!
5) ABASTECIMENTO POPULAR
Disponibilizar mantimentos da merenda escolar para consumo em casa. Prioridade aos serviços de abastecimento e tratamento comunitários de água e esgoto, bem como fornecimento de energia elétrica, ou seja, serviço ininterrupto aos locais sem possibibilidade de armazenamento. Possibilidade de uso das cozinhas escolares para a produção de marmitas a serem distribuídas àqueles sem acesso à condições de preparo.
6) INVESTIMENTO PÚBLICO E DIVISÃO DA RIQUEZA
Aumento dos investimentos públicos para as necessidades populares de saúde, renda, abastecimento e plano de economia popular para suprir as urgências sanitárias. Taxação das grandes fortunas, dos lucros e dividendos dos grandes empresários e fim do ajuste fiscal.
7) CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO PRETO, POBRE E PERIFÉRICO
Contra as ditaduras e o poder de governar pela morte do povo. Pelo fim da criminalização e encarceramento sistemático da população preta e periférica, justificado pela falácia da guerra às drogas. A crise é permanente contra o povo preto e pobre, atingidos pela ausência de direitos, afetos e oportunidades. Vigiados pela naturalização racista da higienização social.
8) DIREITOS DOS POVOS ORIGINÁRIOS E POPULAÇÕES TRADICIONAIS
É preciso fortalecer as redes de solidariedade e apoio mútuo com indígenas, quilombolas e povos da mata e das águas, pois com o território espoliado fica prejudicada a autonomia alimentar, as práticas de cuidado e de atenção à saúde. Pela imediata demarcação das terras indígenas e titulação dos territórios quilombolas! Pelo fim do genocídio nos territórios tradicionais! Contra o aparelhamento da FUNAI pelo missionarismo neopentecostal, que busca catequizar as populações indígenas não contatadas, levando a Covid-19 e outras epidemias, como o vírus do colonialismo!
9) PARALISAÇÃO IMEDIATA DA MINERAÇÃO NO BRASIL
A mineração foi considerada atividade essencial pelo governo federal. A continuidade da extração mineral nesse modelo só importa para quem lucra em cima da exploração dos trabalhadores do setor, cujas vidas já eram colocadas em risco, em condições de extrema insalubridade antes da pandemia. Tal decisão é parte do projeto genocida neoliberal, para garantir os ganhos estratosféricos
do capital industrial e financeiro ligado à extração mineral. Essencial é a vida do povo!
10) REFORMA AGRÁRIA POPULAR E A LUTA DO CAMPESINATO
Reforma agrária já! Direito à terra e à alimentação de qualidade para todos! Com a pandemia, ficou ainda mais evidente que quem garante o abastecimento das cidades são os pequenos produtores rurais, as trabalhadoras e trabalhadores da terra. Pelo fortalecimento dos movimentos sociais do campo, linha de frente da luta pela terra. Pelo fim dos assassinatos no campo, a mando do latifúndio
e do agronegócio. A luta e a resistência campesina garantem a soberania alimentar de todo o povo em território brasileiro. Pelo fortalecimento dos vínculos e redes de apoio mútuo e solidariedade entre campo e cidade na luta por vida digna.
11) PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
O isolamento social traz para perto das mulheres seus agressores e dificilmente elas conseguem expor a situação. Além de conviver com o silêncio da violência, são sobrecarregadas com o cuidado da casa e da família, o que afeta ainda mais sua condição psicológica. São as mulheres mais pobres que ocupam a linha de frente do atendimento à saúde e que se expõem como empregadas domésticas. Saindo de suas casas todos os dias ou em isolamento social, são elas, sobretudo mulheres pretas e periféricas, que sofrem mais de perto as dores e o medo da morte. A elas também segue sendo negado o direito sobre seus corpos e de interromper de forma segura uma gestação não desejada.
12) CONTRA O DESMONTE DA EDUCAÇÃO PÚBLICA
Na luta contra qualquer corte que se apresente no orçamento ou na estrutura da educação pública. Contra os ataques aos trabalhares e trabalhadoras da educação! Pela suspensão do calendário letivo de escolas, institutos e universidade de acordo com a continuidade do isolamento social. Contra a política neoliberal de implementação do EaD ou de atividades remotas no setor da educação pública, uma vez que a realidade do povo brasileiro não permite o acesso aos recursos necessários, em especial durante a pandemia. Pelo acesso e permanência de crianças e jovens à educação básica de qualidade. Em defesa dos estudantes do povo. Pelo fim do vestibular!
13) DIREITOS DOS LGBTQIA+
As pessoas que fazem parte da comunidade LGBTQIA+ não se sentem seguras em um país onde a violência e a discriminação contra elas só aumentam. Transexuais e travestis que são ainda mais vulnerabilizadas social e economicamente por conta do preconceito e transfobia, enfrentam um grande obstáculo: a exclusão no mercado de trabalho. A discriminação e as violências psicológicas causadas pelo atendimento inadequado no sistema de saúde faz com que essas pessoas não procurem por atendimento médico, exceto em emergências. E durante a pandemia essas situações de vulnerabilidade só se agravam. Pela inclusão de pessoas trans no auxílio emergencial, pela sua ampliação para essas trabalhadoras informais invisibilizadas pelo Estado, e contra as burocracias do auxílio emergencial que não reconhecem as identidades de gênero e dificultam o acesso de pessoas com nome social. Contra a violência transfóbica e homofóbica que jovens vem sofrendo dentro de casa no isolamento e contra a discriminação do Estado e em atendimentos médicos. Pelo atendimento psicológico gratuito contra a solidão LGBTQIA+ e a favor da saúde mental. Pelo fortalecimento dos grupos de apoio e casas de acolhimento a pessoas LGBTQIA+ em vulnerabilidade durante a pandemia. Pelo direito de existir sem medo!
Assinam esta campanha:
A nível nacional:
– Amigos da Terra Brasil
– Repórter Popular
Alagoas:
– Cursinho Comunitário Quebrando a Banca (Maceió/AL)
– Mulheres Resistem – AL
– Resistência Popular
Maranhão:
– Centro de Formação Saberes Ka’apor
Mato Grosso:
– Autonomia e Luta
– Mulheres Resistem – MT
Minas Gerais:
– Movimento de Organização de Base (MG)
Pará:
– Coletivo de Mulheres em Movimento de Ananindeua (Ananindeua/PA)
– Movimento pela Soberania Popular na Mineração
– Movimento de Organização de Base
Paraná:
– Alternativa Popular (Londrina/PR)
– Baque Mulher CWB (Curitiba/PR)
– EMAU Caracol (Curitiba/PR)
– Flor do Asfalto (Curitiba/PR)
– Grávidxs Sem Auxílio (Campo Largo/PR)
– Movimento de Organização de Base (PR)
– Resistência Popular Estudantil (PR)
– Resistência Popular Sindical (PR)
Rio de Janeiro:
– Ação Comunitária da Zona Oeste (ACAZO)
– Centro de Cultura Social (Rio de Janeiro)
– Frente Internacionalista dos Sem Teto (FIST)
– Movimento de Organização de Base (MOB-RJ)
– Mulheres na Resistência
– Resistência Popular Estudantil
Rio Grande do Sul:
– ANTAR – Poder Popular e Antiespecista
– Articulação Libertária (Santa Maria)
– Ateneu Libertário A Batalha da Várzea (Porto Alegre)
– Clube de Mães da Periferia (Porto Alegre)
– COLEP (Porto Alegre)
– Coletivo Catarse (Porto Alegre)
– Coluna Vermelha (Porto Alegre)
– Dandaras – Coletivo de Mulheres Negras (Santa Maria)
– Escolinha Comunitária Elena Quinteros (Santa Maria)
– Espaço Iraímas (Alegrete)
– Grêmio Antifascista (Porto Alegre)
– Guandu – Grupo de Agroecologia (Santa Maria)
– Juventude Antifascista (Caxias do Sul)
– MOVA – Movimento Vegano Anticapitalista (Porto Alegre)
– Mutirão – Grupo de Trabalhadores da Terra
– Ocupação Vila Resistência (Santa Maria)
– Rádio Comunitária A Voz Do Morro (Porto Alegre)
– Resistência Popular
– SDV Reciclando (Porto Alegre)
– Tod@s – Coletivo Libertário da Serra Gaúcha (Caxias do Sul)
– Vila Boa Esperança (Porto Alegre)
Santa Catarina:
– AMORABI – Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Itinga (Joinville)
– Barraco RAP (Florianópolis)
– Coletiva Autônoma Estudantil – COLAE (Joinville)
– Coletivo Pintelute (Núcleos Joinville e Florianópolis)
– Coletivo Ka (Florianópolis)
– Comunidade Unida da Servidão da Jaca – COMUJA (Florianópolis)
– Feijovegan (Florianópolis)
– Grupo de Teatro Aguacero – GOTA (Florianópolis)
– Movimento Passe Livre (Joinville)
– Resistência Popular Estudantil (Florianópolis)
– Rio Vermelho Solidário (Florianópolis)
– Sinasefe Litoral (Vale do Itajaí)
– Teatro Comunitário Vermelho Riu (Florianópolis)
– Zona Norte Solidária – Batalha de Rap da Zona Norte (Florianópolis)
São Paulo:
– Ação Antifa M’Boigy (Mogi das Cruzes)
– Coletivo Hip-Hop Antifas (São Paulo)
– Comitê Apoio Mútuo Jaraguá-Taipas (São Paulo)
– CUAPI – Coletivo Urbano em Apoio aos Povos Indígenas
– Cultive Resistência
– Mova Veganismo
– Movimento Autônomo pela Educação
– Núcleo Pró Movimento de Organização de Base (Mogi das Cruzes)
– Núcleo Pró Movimento de Organização de Base Jardim Ângela (São Paulo)
– Resistência Popular Estudantil (Marília)
– Resistência Popular Estudantil (Araraquara)
– Vivência na Aldeia
26 de maio de 2020
Se o seu coletivo, movimento ou associação quiser se somar à campanha, entre em contato com o Repórter Popular pelo WhatsApp (+5551989606682), Facebook (https://www.facebook.com/reporterpop/) ou Instagram (http://www.instagram.com/@reporterpopular).
Florianópolis – SC
Porto Alegre – RS
TÁ CARO VIVER E PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO!
Editorial do Repórter Popular
Sabemos o que está acontecendo, pois sentimos no nosso dia-a-dia. Em todos os lugares temos escutado e falado sobre a mesma coisa. Nas paradas de ônibus lotadas, nossos vizinhos comentam sobre como tem sido difícil colocar em dia a dívida anotada no caderninho do mercado do bairro. É difícil admitir, mas a gente sabe: os armários da cozinha nunca estiveram tão vazios. Compramos o que precisamos e vamos economizando pra fazer durar até o final do mês.
O preço do gás, da carne e dos alimentos em geral não tem parado de aumentar e precisamos falar francamente sobre isso, pois está cada vez mais caro viver e isso tem ameaçado a dignidade de nossas famílias.
Quantas vezes precisamos pedir para uma vizinha ou familiar um pacote de massa ou uma xícara de arroz?
Quantas vezes precisamos pedir dinheiro emprestado pra correr na lotérica e evitar que a luz seja cortada?
E a passagem de ônibus? Agora está tão cara que, quando vamos duas pessoas pro mesmo lugar, acabamos chamando motoristas de aplicativos.
E todo o santo dia recebemos ligações de bancos ou lojas exigindo que a gente pague contas atrasadas, como se a gente atrasasse as contas por gosto! A verdade é que estamos todos endividados e sem crédito.
Com o preço do aluguel cada vez mais caro, a luz e água subindo todo mês, já tem vizinho se mudando pras invasões. Os movimentos sociais chamam de ocupação, por que moradia é direito de todos! Mas a verdade é que, entre pagar aluguel e colocar comida na mesa, a fome dos filhos fala mais alto. Então primeiro a gente entra no prédio ou terreno abandonado e depois descobre se é invasão ou ocupação.
E tudo isso a gente vive como se fosse um problema apenas nosso. Sentimos culpa por não saber administrar nosso dinheiro, ou vemos como uma fase ruim que nossa família está passando, mas que fazendo um extra ou trabalhando umas horinhas a mais a gente resolve. Sempre tem um jeitinho, nem que pra isso nossos filhos tenham de conciliar os estudos com um bico pra trazer um dinheirinho a mais pra casa.
Na televisão, rádios e jornais, eles querem nos fazer acreditar que esses problemas que vivemos com nossas famílias são problemas individuais, mas a verdade é que a dificuldade de cada um tem a ver com a dificuldade de todos nós. Sofremos juntos e nos querem calados.
Com frequência, recebemos denúncias sobre a falta de professores nas escolas públicas, sobre as filas que dobram a esquina nos postos de saúde e hospitais, e quando chega o verão é sempre a mesma coisa: falta da água (parece que fazem de propósito!), aumento da passagem do ônibus e falta de vaga nas creches.
Além do que pesa no nosso bolso, a violência na periferia está matando nosso povo como nunca antes na história. As balas que atingem a nossa gente, colocam o Brasil com índices de homicídio maiores do que países em guerra. Estamos falando de um genocídio, uma matança que atinge principalmente a juventude pobre e negra, e que muitas vezes é cometida pela mão da polícia.
Mas sabemos que não estamos sozinhos nessa situação. Somos um jornal feito por trabalhadores e para trabalhadores. Não somos jornalistas profissionais, somos comunicadores populares. Falamos desde nossos locais de trabalho, estudo e moradia. Temos lado, pois somos povo.
Contamos as histórias de nossos irmãos e irmãs de classe e cor que não conseguem achar emprego, da dificuldade de conseguir remédio barato para nossos familiares doentes. E também contamos histórias de luta de quando temos de ir pra rua nos manifestar. Essa é a missão do Repórter Popular: contar a nossa historia para que ninguém se sinta sozinho, e para que todos saibam que os problemas pelos quais passamos não são individuais, mas sim sociais, e que por isso precisam ser resolvidos por quem move a sociedade, o povo!
Sabemos faz tempo que promessas de melhora de vida, que se renovam a cada eleição, nunca chegam. Os políticos mentem para se eleger e não podemos confiar o destino de nossas famílias nas mãos dessa gente, que só beneficia os poderosos de sempre.
Precisamos confiar em nós mesmos! Precisamos olhar para nossos vizinhos, colegas de trabalho e estudo, e todas essas pessoas que vemos de manhã cedo nos ônibus indo trabalhar e saber que NÓS SOMOS A FORÇA QUE MOVE O MUNDO E POR ISSO MERECEMOS VIVER COM DIGNIDADE.
Diante disso, mais do que contar histórias, nós queremos produzir encontros, para pensarmos saídas para a situação difícil em que os políticos nos colocaram. E que tal ler essa carta em voz alta? Quem no seu trabalho, escola ou bairro você irá chamar para conversar sobre os problemas que o aumento do custo de vida vem trazendo para sua família? É hora de superar o isolamento, pois, se sofremos juntos, precisamos lutar juntos!
Se você leu essa carta, junte duas ou três pessoas no seu intervalo do trabalho, da aula ou nas ruas do seu bairro, converse com elas e pensem no que fazer; pense em ações e mobilizações coletivas para lutarmos por uma vida digna. O povo do Chile, do Equador e do Haiti são exemplos bem próximos de iniciativas de apoio mútuo e mobilização coletiva para enfrentar na prática o aumento do custo de vida provocado pelas políticas econômicas dos atuais governos.
O QUE PODEMOS FAZER?
Fazemos algumas sugestões, que podem e devem ser enriquecidas e melhor pensadas nas reuniões que você e seus vizinhos e colegas irão fazer.
– Mutirões de ajuda mútua;
– Caixas coletivos para ajudar um vizinho ou vizinha desempregado;
– Cooperativas de consumo;
– Reuniões e encontros coletivos para conversar sobre os problemas que temos em comum;
– Estudar coletivamente por que a vida tá ficando mais cara e quem tá lucrando com isso;
– Manifestações públicas coletivas (caminhadas, ocupações, paralisações) para pressionar os governos e exigir que nossos direitos sejam garantidos e que não sejamos nós, o povo, a pagar a conta dos ricos e poderosos.
Quer nos contar sobre iniciativas de apoio mútuo e de luta popular que você e seus colegas de trabalho, de escola ou de bairro estão vivendo? Grave um vídeo, tire algumas fotos e nos escreva!
Contato: (51) 989606682 📲
Repórter Popular