A pandemia provocada pelo novo coronavírus está ampliando ainda mais a desigualdade social, com mais de 50 milhões de desempregados e milhares de pessoas à deriva de um estado fascista que fecha hospitais públicos em meio à maior pandemia que o Brasil já enfrentou.
O distanciamento social, que é veementemente refutado por Jair Bolsonaro com a desculpa de que essa medida irá “quebrar o país”, obriga a população mais pobre a sair de casa para trabalhos que muitas vezes já tinham condições insalubres, e atualmente são as mais vulneráveis para contrair o vírus. Essas pessoas não têm o privilégio da quarentena. “As atividades que continuam a funcionar só mantêm a vida dos mais ricos confortáveis, e caso não concordamos recebemos a dispensa dos nossos trabalhos”, dizia o panfleto entregue para as pessoas junto com as cestas básicas.
No último domingo (28), o Movimento de Organização de Base (MOB), Resistência Popular Estudantil (RP), Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ), Mulheres na Resistência-RJ e Ação solidária Entre Amigos entregaram mais de 60 cestas a famílias e moradores do morro dos Macacos no Centro de Cultura Social (CCS), localizado em Vila Isabel, zona norte da capital carioca, e mais 240 foram distribuídas simultaneamente em outra localidade do bairro através dessa parceria.
A iniciativa começou com a organização dos moradores do morro dos Macacos para levar consciência e condições para medidas de higiene que previnem contra a covid-19, entregando álcool em gel e máscaras na comunidade. A ação solidária Entre Amigos se uniu com os movimentos para mobilizar em prol de levar alimentação para famílias fragilizadas pela pandemia. Foi feito um mapeamento para identificar quantas pessoas estavam passando fome e dificuldade na comunidade, e assim, começaram o processo de arrecadar doações para as cestas básicas.
“Eu sinto um enorme alívio em saber que essas pessoas vão poder se alimentar e ter condições de reutilizar o pouco dinheiro que tem, quando fomos colher os depoimentos vimos que a própria comunidade estava se apoiando como dava, vizinhos que estavam dividindo suas comidas para que ninguém passasse fome”, conta Fabiana de Paula, 45 anos, uma das organizadoras da ação solidária Entre Amigos em entrevista ao Repórter Popular.
Com lágrimas nos olhos e pedindo desculpas por estar emocionada, dona Dalva Maria da Silva, de 56 anos e faxineira, conta que até hoje divide todos os alimentos que recebem com sua vizinha, “ela é mais pobre do que eu, então metade eu dou tudo pra ela, que é alcoólatra e tem filho pequeno. Eu não posso deixar o menino passar fome, sabe? Deus tá vendo que eu to fazendo minha parte, eu divido porque faz parte da solidariedade, da mesma forma que eu ganho aqui, eu ajudo lá”, conta emocionada.
O estudante Alexandre, de 20 anos, que participa da organização através da Resistência Popular explica que “a conjuntura da pandemia nos impulsiona a garantir uma mobilização de classe, não estou no grupo de risco então o mínimo que posso fazer é participar de ações como essa. Precisamos fortalecer a solidariedade em um momento crítico como esse, a classe trabalhadora organizada tem que estar na linha de frente da solidariedade”, conta ao Repórter Popular.
Para a maior parte das pessoas, o movimento é motivo de esperança já que muitas pessoas não foram aprovadas no auxílio emergencial, como explica Stefanny, de 27 anos, que está desempregada desde o começo da pandemia, “eu tô a 3 meses em análise do auxílio emergencial e sem emprego desde o começo da pandemia, então as cestas realmente ajudam muito na minha casa, quem faz essa ação por favor continue! E quem puder fazer pelo próximo, é só isso que eu peço”.
Já dona Conceição, de 73 anos conta que tem 3 bisnetos e 2 adultos em casa, e que para ela o importante é ajudar, “tinha que ter mais ações como essa, fico feliz quando eu vejo essas coisas acontecerem e eu gosto de ajudar apesar da minha idade”.
A ação faz parte da Campanha Nacional de Luta por Vida Digna, e longe de uma perspectiva assistencialista busca reforçar as redes de apoio mútuo e solidariedade apontando para a construção de poder popular, aonde na ausência de um auxilio concreto por parte dos patrões e donos de supermercados apenas o povo ajuda o povo, já que todo o dinheiro para a compras das cestas básicas tem sido coletado autonomamente.
Nossa força move o mundo!
Texto de Julia Aguiar