Em ato, comunidades da Grande Florianópolis exigem testes

No dia 26 de maio, o Comitê Popular Brejaru e Frei Damião, com o apoio solidário da Ocupação Marielle Franco e do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), realizou um ato em defesa da vida e da saúde, denunciando a situação da pandemia nessas comunidades.

As moradoras partiram das suas casas, na Palhoça, percorrendo quatro quilômetros em caminhada até a Ponte do Imaruim. Todos os cuidados de segurança sanitária foram observados durante a manifestação, que ostentou uma faixa de impressionantes 25m x 2,8m, com os dizeres: “Não ao genocídio! Testes já! Nossas vidas importam!”.

O protesto exigia a urgente realização de testes para covid-19. Segundo Vladimir Ribeiro, presidente da Associação de Moradores do Frei Damião, a comunidade é um dos maiores bolsões de pobreza do estado de SC e os moradores temem pelos riscos de contaminação por meio dos casos assintomáticos da doença. Segundo ele, “a gente exige porque tem testes no posto de saúde, mas os testes não são feitos em todos”.

Ouça o áudio de relato de Vladimir cedido ao Repórter Popular.

Ainda de acordo com Vladimir, depois da confirmação do primeiro caso, a comunidade já apresenta outros casos positivos para a covid-19 e continuam desassistidas tanto pela Assistência Social quanto pela Secretaria de Saúde da Palhoça. O atendimento às famílias da comunidade está sendo realizado de forma autônoma através da associação de moradores e ONGs. Essas entidades se mobilizam para fornecer cestas básicas, produtos de higiene e equipamentos de proteção individual para os moradores, além de atuar na organização do isolamento social dentro da comunidade.

O avanço da covid-19 sobre áreas urbanas periféricas e precarizadas já não é um triste privilégio das grandes cidades brasileiras, atingindo agora a Grande Florianópolis. Apenas no município de Florianópolis, há 80 áreas de vulnerabilidade. No dia 11 de maio foi confirmado o primeiro caso de covid-19 na maior área de ocupação urbana da Grande Florianópolis, com uma população superior a 10 mil pessoas. Elisa Jorge, militante do Movimento Nacional de Luta por Moradia e do Coletivo Ocupações Urbanas de Florianópolis, em um podcast organizado pelo PET Geografia da UDESC, relata que esse caso é de uma mãe do bairro do Brejaru, Palhoça. Dessa mulher, chefe de família, que cuida sozinha de seus filhos, dependem, direta ou indiretamente, cerca de 20 a 30 pessoas da família.

A Prefeitura da Palhoça confirmou que a mãe está doente, mas realiza seu atendimento apenas por telefone; nas palavras de Elisa, “ela está jogada às traças em relação ao poder público”. Ela também considera as propagandas veiculadas via rádio e televisão inefetivas e diz que “é preciso existir um trabalho educativo para que as pessoas entendam o quanto é perigoso esse vírus. (…) Da forma que o Estado trabalha, cria a ideia de que não existe tanto perigo. (…) Isso é recorrente em todas as prefeituras da Grande Florianópolis”.

Militante pelo direito à cidade, Elisa fala de casos confirmados, também, no maciço do Morro da Cruz, além de potencialmente muitos outros não identificados pela falta de testes. Ela afirma que nessas condições, “as famílias continuam interagindo porque as relações de amizade, as relações de vizinhança são, muitas vezes, o que salvam as famílias pra poder sobreviver nesse mundo cruel, em que o lucro é a principal fonte de políticas públicas do Estado”.

No dia do ato, os dados do Painel do Coronavírus Brasil registravam para o Brasil 391.222 casos confirmados e 24.512 mortes desde o início da pandemia. Segundo o Boletim Novo Coronavírus do Governo de SC, a data registrava 7.016 casos confirmados e 121 mortes apenas para o estado. Apesar dos números assustadores e da irresponsabilidade social das autoridades locais e estaduais, o poder público municipal de Florianópolis, de onde irradia a rede de transporte urbano e interurbano da região metropolitana, dá indicações de retorno às atividades do setor para o dia 1º de junho, menos de uma semana após a denúncia das comunidades. Com essa medida, ensaia atender às demandas de entidades patronais como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), enquanto deixa de lado as preocupações populares com a saúde.