Por Repórter Popular RS
Professores dos Neejas de Porto Alegre foram surpreendidos pela Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul (SEDUC) na primeira semana do ano letivo. Com proposta de drástica redução do quadro de professores nas escolas e sem diálogo com a categoria, a Secretaria exige o comparecimento imediato da maioria dos professores à 1ª CRE para remanejamento forçado. Enfrentando esses ataques, a categoria se mobilizou nessa tarde (23), em frente à SEDUC, pela permanência dos Neejas e por abertura de dialogo com o Estado.
Conversamos com o professor de história, Sílvio, do Neeja (Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos) Paulo Freire, localizado no início da Zona Norte de Porto Alegre. Ele relata que os Neejas vêm sofrendo nos últimos anos. O professor diz que esses ataques vem ocorrendo pelo menos “desde 2016, ainda lá no governo Sartori, e agora no governo Eduardo Leite”.
“A secretaria de educação desses dois governos foram desestruturando os Neejas, buscando deixar apenas aplicadores de provas. O que para nós é precarizar ainda mais a educação pública, e é algo que não concordamos”.
Sílvio conta que esse novo ataque começou na última quinta-feira (17), quando foi enviado um ofício da 1ºCRE aos cinco Neejas de Porto Alegre, exigindo o comparecimento de diversos professores à CRE para serem remanejados imediatamente. Na proposta da secretaria:
“ficariam três ou quatro professores apenas, sendo um professor para abarcar toda área de linguagens, um professor para ciências humanas e um para matemática. Todos só com 20 horas, para aplicar prova e dar aula de tudo”, explica Silvio.
Atualmente o Neeja Paulo Freire conta com 17 professores, um por disciplina, dando aulas e aplicando as provas para formação do ensino fundamental e médio. Os alunos do Neeja, são em geral trabalhadores, desempregados e/ou mulheres com filhos e netos que não conseguiram completar o ensino básico no tempo regular. As pessoas em geral que buscam o Neeja, precisam da flexibilidade de horários que esse modelo proporciona para retornarem aos estudos. Por isso a escola sempre funcionou nos três turnos, visando proporcionar o máximo de horários possíveis.
De acordo com Silvio, “o Neeja Paulo Freire, antes da pandemia, recebia em média 2500 inscritos por ano. Desses inscritos, em um ano, 700 a 800 alunos concluíam seus estudos”. E ainda segundo o professor, seria possível atender mais pessoas, porém o caminho para isso seria aumentar a carga horária dos professores, e não o inverso.
Os professores então, vêm buscando formas de reverter essa decisão autoritária e dialogar com a secretaria, o que levou ao ato de hoje (23), em frente a SEDUC, em Porto Alegre, exigindo a abertura de diálogo sobre a situação.
O grupo se reuniu na entrada da secretaria, e após tensionamentos conseguiu uma conversa com a chefe do RH, porém, nenhuma garantia de reversão foi dada. Por isso, amanhã às 11h, será realizada uma nova reunião com o coordenador da 1º CRE, Alaor Baptista Chagas, buscando reverter essa situação.
Tudo isso ainda acontece em um cenário de evasão escolar no Estado, aprofundada pelos últimos anos da pandemia. Como apontado pelo professor Sílvio:
“A pandemia só piorou a coisa, porque agravou esses problemas que já existiam antes. Crianças e jovens adultos estão deixando de estudar para ajudar suas famílias no sustento, para comprar comida”.
O governo Eduardo Leite, através da SEDUC, aplica assim um duro golpe ao ensino de jovens e adultos que, caso percam esses professores dos Neejas, terão ainda menos possibilidade de retomar os estudos.