A Associação Ecológica dos Catadores Recicladores de Joinville (Assecrejo), nasceu em 2001. Na época eram duas associações, se formou quando catadores precarizados trabalhando no aterro sanitário da cidade se alojaram no galpão. Ela possui um gestor atualmente, o Severino Nunes. Também chamado de Primo Severino, é um ex aposentado da fundição Tupy e que está há doze anos no espaço.
O local veio através do programa minha casa minha vida, o galpão é do município e eles têm a concessão de uso. Pretendem uma grande reforma ano que vem, atualmente há outros cinco locais como este na cidade, onde são controlados pelas secretarias: Secretarias de Assistência Social, Infraestrutura Urbana e Meio Ambiente.
Funcionamento e de onde vem os materiais
Para entrar na cooperativa a pessoa tem que ter um currículo, exige-se um pouco de estudo, já que a visão do gestor é que todos tenham um mínimo de escolaridade, após isso são noventa dias de experiência, ganhando um pouco menos do que os associados, e se a pessoa se adequar passa a ganhar o mesmo que eles. Atualmente trabalham dezesseis pessoas, cerca de dez a doze horas por dia, no regimento interno eles têm direito a um período de descanso, porém, como não é remunerado o pessoal não o faz e trabalha direto. O pagamento é feito duas vezes ao mês da seguinte forma: pega-se todas as vendas, subtrai-se as despesas; caixa, e o valor final é rateado entre todos. Cada reciclador tem uma função: uns trabalham na esteira separando os materiais; outros na prensa; um que coloca os materiais na esteira; há ainda uma mulher responsável pelo setor do bazar onde é separado roupas, calçados e acessórios em bom estado que futuramente irão para vendas ou para doação. Há também as atribuições de serviço: como uma pessoa ficar cobrando a produção; outra verifica como está o estado do portão; outra é responsável por verificar se as portas estão trancadas e outras funções.
Atualmente o local recebe 4 caminhões por dia, com uma meta neste ano de 70 toneladas por mês, porém, dificilmente conseguem pois falta material reciclado pela falta de consciência da população em separar e também pelo problema dos caminhões clandestinos que recolhem o lixo reciclado antes dos caminhões oficiais da coleta seletiva. O gestor aponta ainda problema que é em relação ao óleo usado de cozinha, que antes chegavam de 1000 a 1200 litros por mês, o que gerava uma renda mais fácil, agora com a colocação de tambores de recolhimento em diversos lugares, a quantidade que vai é cerca de 200 litros por mês, o que gera uma crítica e este tipo de campanha e também a falta de consciência por parte dos moradores, pois poderiam estar beneficiando muitas pessoas com a reciclagem deste.
Escolaridade,Treinamentos e Previdência
Primo Severino aponta a baixa escolarização como um grave problema nos galpões de reciclagem, pois a maioria dos que ali trabalham já tem entre 40 e 50 anos, e com pouquíssima escolaridade o trabalho na diretoria fica complicado, muitas vezes ele o tendo que realizar sozinho. Outro ponto abordado é os que conseguem aumentar seus conhecimentos ou ter algum curso como o de operador de empilhadeira, deixam o local e procuram trabalho fora devido às melhores condições econômicas. Um ponto importante é de que todos contribuem com o INSS, assim podendo talvez conseguir sua aposentadoria.
Saúde e segurança
Foi dito que os problemas mais comuns na questão da saúde são os machucados por vidro causados pela falta de saber do povo, pois se esquecem que há pessoas reciclando seu lixo. Uma melhoria foi a utilização de luvas e aventais durante o trabalho, mas ainda faltam melhorias neste campo. Primo comentou que diversas universidades fizeram treinamentos no galpão e que são muito importantes para melhorias na associação.
Projetos
Atualmente eles desenvolvem um teatro sobre reciclagem feito pelos associados, que apresentam em escolas e outros locais onde forem chamados. Outro projeto é o bazar que é feito com peças de roupa, acessórios e outros itens encontrados durante a separação. O lucro dele varia de dois há a três mil reais e com tendência a ter um faturamento maior.
Assecrejo:Nosso vídeo Reciclar é Para Todos
Posted by Assecrejo – Associação Ecológica de Recicladores e Catadores de Joinville. on Wednesday, August 14, 2019
Dificuldades
Uma das dificuldades é a falta de incentivo da prefeitura, citando que há resistência de alguns vereadores para fazer leis que beneficiem os catadores e as cooperativas. Severino deu um exemplo da cidade de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, onde há leis que beneficiam muito quem trabalha reciclando. Outra situação é a falta de cooperação da população que coloca os materiais recicláveis e não recicláveis junto com orgânicos, o que dificulta muito a triagem. Há uma necessidade de educação ambiental na comunidade para combater este problema.
Uma dificuldade já mencionada é a falta de união de todas as cooperativas da cidade, que se fossem unidas formariam uma grande cooperativa e também teriam muita força para lutar por seus direitos e, consequentemente, um salto no trabalho ecológico e na preservação do meio ambiente reutilizando o que seria “lixo”.
Outro problema é a utilização dos caminhões clandestinos, além de tirarem material dos separadores, podem atuar na escravização de pessoas, principalmente os dependentes químicos que recebem um valor baixíssimo por dia de trabalho e, por outro lado, os donos dos caminhões trabalham poucas horas por dia, ganhando sozinhos o que iria para os recicladores.
A discriminação, conforme palavras do gestor e de um dos trabalhadores, é outra adversidade ao saberem de sua profissão e, também, o preconceito por parte do comércio, pois, muitas vezes, na hora de fazer empréstimos ou compras ao informarem seu trabalho, sofrem com os mesmos negados e, possivelmente, com o preconceito velado de quem os atendeu.
É um trabalho duro, com jornadas longas, baixa remuneração e uma enorme falta de incentivo. A comunidade também deveria ter criticidade e ação positiva ao separar o lixo, além de realizar campanhas de reciclagem. Não só os que trabalham neste meio, mas o meio ambiente também podem ter ganhos financeiros e ecológicos necessários à nossa história atual.