Nota da Comissão Organizadora do VI ELAOPA sobre o ato na Conferência Mundial das Cidades (2008)

Tarde de 6ª, 15 de fevereiro. Quando a Marcha do 6º Elaopa enfrenta repressão do tenente-coronel Bordan da Silva e a Conferência dos tecnocratas contra os pobres.

Há uma semana, os mais de 150 militantes sociais participantes do 6º Encontro Latino-Americano de Organizações Populares Autônomas (6º Elaopa) fizeram uma manifestação de frente à Conferência Mundial das Cidades. Partimos da Restinga em 3 ônibus e um carro de som. Paramos na 3ª Perimetral, entre as Avenidas Bento Gonçalves e Ipiranga. Cortamos a rua para fazer valer nosso direito de protesto perante uma coordenação de ladrões de dinheiro público, organizando um evento tecnocrático onde muito se fala nada se decide. Vínhamos em clima de tranqüilidade, entoando gritos de guerra e canções da luta popular. A meta era simples: dentro da PUC-RS, fazer uma intervenção de teatro popular através da participação do Grupo de Autuadores Oi Nóiz Aqui Traveiz.

Marchamos ao longo da Ipiranga sendo somente acompanhados por brigadianos montados a cavalo. Os cavalarianos pertenciam ao 4º Regimento de Polícia Montada (4º RPMont) e logo tiveram o reforço de soldados e sargentos do 19º BPM. Este batalhão estava de prontidão na PUC, cuidando da segurança da Conferência. Chegamos até o portão da principal entrada da PUC-RS e a Brigada fechou o portão por ordens da governadora Yeda Crusius e do prefeito José Fogaça. No picadeiro da Conferência, os únicos palhaços vestiam ternos e gravatas importados. Para romper o silêncio da mídia mentirosa, o povo usou da coragem para fazer a sua voz.

Fechado o portão, os companheiros do Teatro começaram a apresentação ali mesmo. Os militantes mantiveram meia pista cortada e tudo se desenrolava na tranqüilidade. Perto do final da apresentação, eis que chega uma viatura da BM transportando um clone de Paulo Roberto Mendes. O coronel Mendes, subcomandante e porta-voz da repressão, é possível e provável candidato a deputado federal. Além de papagaio da grande mídia, faz escola. Um de seus alunos resolveu impor a ordem a qualquer custo. Deu no que deu.

Naquela tarde, o Comando de Policiamento da Capital estava sob as ordens do Tenente Coronel Carlos Roberto Bordan da Silva. Foi ele, do alto de sua patente, que deixou o carro aos gritos, dando mijada nos soldados do local e desautorizando o oficial de dia do 19º BPM. Desfez a meia pista, empurrou os cavaletes, incitou a tropa a bater até que resolveu dar voz de prisão para os manifestantes. Ninguém obedeceu e a companheirada ainda reagiu à violência oficial da BM. O “valente oficial” então se escondeu atrás da cola dos cavalos e deu a ordem para bater e atirar.

Toda a militância do 6º Elaopa fez valer na rua o direito inegociável de liberdade de expressão, manifestação e reunião. No meio do conflito, com brigadianos e militantes feridos, José Fogaça parou seu discurso e Yeda Crusius foi ver a tudo pela janela. O dinheiro da Caixa Econômica Federal, patrocinadora da Conferência ridícula, desceu ralo abaixo diante da garra do povo em luta. Na luta direta com a repressão da BM sob o comando de um oficial covarde deu empate.

Na política, na motivação, nos brios, na identidade de gaúchos e latino-americanos, a vitória foi nossa. O Corpo Auxiliar de Polícia Imperial, inimiga dos farrapos e assassina do povo, a instituição que atende as ordens do fascista coronel Mendes e do covarde tenente-coronel Bordan da Silva, foi derrotado pelos herdeiros da lança de Sepé Tiaraju e do Corpo de Lanceiros Negros. Após o ato político, saímos em marcha, cortando  meia pista da Avenida Ipiranga, indo até os ônibus e retornando para a querida Restinga, para o local do 6º Encontro.

Mais uma vez ficou provado que o povo em marcha traça seu caminho. Quando peleamos com nossas próprias armas – a garra, a palavra, o amor à bandeira, à classe, ao povo e à terra nativa – temos chances de vitória.

A luta popular se decide na base, no pau, no barro e na rua!

Comissão Organizadora do 6º Elaopa