Manifestantes são agredidos e reprimidos no 24 de Julho do Rio de Janeiro

Por Repórter Popular – Rio de Janeiro

Neste sábado, 24 de julho, milhares de pessoas se reuniram no Busto de Zumbi, no Rio de Janeiro, para protestar contra o governo de Jair Bolsonaro, responsável por pelo menos 549.924 mortes (até esse momento) por conta de sua política embasada pela teoria da imunização de rebanho, medicamentos sem eficácia comprovada, dentre outras medidas negacionistas. O protesto começou por volta das 10 horas e fez parte de um dia nacional de luta contra o governo e por aceleração na vacinação e medidas eficazes de combate à pandemia.

A manifestação caminhou do Busto do Zumbi até a Candelária, e se encerrou por volta das 13 horas. Ao final do ato, manifestantes queimaram um boneco em alusão a Bolsonaro na Presidente Vargas. A polícia acompanhou de perto esta intervenção, e logo após o término da manifestação, seguiu um grupo de pessoas que estava indo embora até a Rio Branco, onde realizaram uma abordagem truculenta já fora da manifestação, chegando a arremessar bomba de efeito moral em quem estava ao redor. Na ocasião, um artista de rua foi detido arbitrariamente e encaminhado à 5ª Delegacia de Polícia, na Lapa, onde manifestantes fizeram uma vigília até que o rapaz fosse liberado.

Apesar da grande importância que teve a presença do povo na rua, a partir de diversos movimentos sociais, organizações de base, sindicatos e coletivos, a manifestação deste sábado no Rio também foi marcada por um conflito inaceitável iniciado por militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), sendo vários organizados em sua juventude, a União da Juventude Comunista (UJC), contra militantes da Frente Internacionalistas dos Sem Teto (FIST), da Casa Nem, e da Flamengo Antifascista, que estavam próximos ao chamado Bloco Autônomo. Militantes do PCB chegaram a agredir uma midiativista, uma militante da FIST e pisotearam uma faixa da Casa Nem que carregava a imagem de Marielle Franco.

“Agrediram mulheres que estavam na frente, pisotearam a bandeira de Marielle Franco. Pisaram com força, jogaram no chão só porque estávamos tentando passar com o nosso movimento. E a gente não tem sangue de barata, não é?” – Disse Colle, militante da Casa Nem, em entrevista para o Repórter Popular. – “Isso foi programado para que o nosso bloco saia de linha, e para dizer que a correria independente, que o bloco autônomo que vem na rua é bagunça, é baderna.”

 

O conflito começou quando a FIST, a Casa Nem, o Bloco Autônomo e o bloco da Campanha de Luta por Vida Digna moveram-se para a pista do meio. Até então, esses grupos estavam caminhando pela pista do canto, sendo seguidos por um forte contingente policial e prestes a entrar em uma área de estacionamento, que poderia acarretar em riscos de agressões por parte da Polícia. Os manifestantes, então, foram para a pista do meio. A agressão, por sua vez, não veio da Polícia Militar (naquele momento), mas do PCB, que por alguma razão, tentou impedir que os grupos ocupassem o espaço (que estava vago) atrás de seu bloco. Militantes do PCB, então, tentaram expulsar do ato a Casa Nem e a FIST, que estavam na frente naquele momento e, por sua vez, não aceitaram a intimidação violenta e permaneceram. O conflito só esfriou após intervenção da Polícia Militar, que jogou spray de pimenta na direção das pessoas da Casa Nem atingindo uma militante, que passou muito mal.

“Quando a gente vai para um ato, a gente fica esperando que a Polícia Militar vá fazer alguma coisa, a gente fica esperando que vai ter infiltrados de direita, sabe? Mas realmente você não vai esperar que vai ter um confronto direto com outros militantes.” – disse Andreia, militante da FIST em entrevista ao Repórter Popular. Andreia chegou a ser agredida pelo PCB com empurrões, socos e chutes.

Muitos partidos parecem apostar em um esvaziamento político do Fora Bolsonaro, tentando transformar as manifestações unificadas em verdadeiros comícios eleitorais de enfraquecimento da imagem abstrata de Bolsonaro enquanto secundarizam as pautas concretas do povo, que vão não apenas contra Bolsonaro, mas contra toda sua agenda política. Por isso, para alguns partidos é preferível a aliança com setores “moderados” da direita, como o PSDB, do que com organizações autônomas, que não apostam na mobilização de fins eleitoreiros. Então, além de se reunirem com forças de repressão para garantir a presença de partidos de direita nos protestos, estes grupos tentam a todo custo expulsar, até mesmo violentamente, manifestantes independentes ou organizados em coletivos autônomos, e também organizações e movimentos de base combativos como é o caso da FIST e da Casa Nem. Estes, por sua vez, seguem organizando diariamente as lutas nos bairros, locais de trabalho e ocupações a fim de não apenas tirar Bolsonaro da presidência, mas derrubar de uma vez por todas o neoliberalismo e o governo militar miliciano.