Entregadores fazem segunda paralisação no Rio

Greve de entregadores reivindicam melhores condições de trabalho meio à pandemia do novo coronavírus

Bolsas dos entregadores empilhadas com cartazes de protesto.

No último sábado (25), entregadores de aplicativos como Ifood, UberEats e Rappi realizaram a segunda Greve Nacional, chamada de “Breque dos APPs”, por melhores condições de trabalho, atos ocorreram em várias regiões do país.

O processo de precarização da mão de obra no Brasil se desenvolve com a crescente crise econômica derivada da pandemia do novo coronavírus. Segundo pesquisa divulgada no dia 16 de junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), temos um total de 28,6 milhões de desempregados no país, com uma crescente de um milhão de pessoas desde o começo da quarentena, em março. 

De acordo com os dados divulgados, cerca de 29 milhões de brasileiros trabalham sem o uso da CLT, “a informalidade funciona como um colchão amortecedor para as pessoas que vão para a desocupação ou para a subutilização. O trabalho informal seria uma forma de resgate do emprego”, afirmou o diretor adjunto de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo, em coletiva de imprensa no dia de divulgação da pesquisa. 

Com o aumento do desemprego e consequentemente a falta de novas oportunidades no mercado formal de trabalho, aplicativos de delivery estão se tornando a única alternativa para pessoas que perderam seus empregos na pandemia. Vale ressaltar o recorte social dos entregadores e entregadoras, sendo em sua maioria homens jovens negros das periferias das grandes capitais. 

Bolsas de entrega empilhadas com faixa ao fundo que diz “Pelo fim da escravidão moderna”

Para o entregador Ralf Alexandre, 40 anos, foi depois da pandemia que os valores das corridas diminuíram, “eles estão colocando todo mundo em uma escravidão moderna sem pensar em ninguém”, explica em entrevista ao Repórter Popular. Os trabalhadores reivindicam o fim dos bloqueios feitos pelos aplicativos, que segundo Ralf acontecem sem que exista um canal de comunicação direta dos entregadores com as empresas. “Não tem como se defender, os aplicativos te bloqueiam sem dar oportunidade de se justificar já que as empresas sempre respondem os e-mails com respostas automáticas”, continua. 

“Existem bloqueios por vários motivos, por deslocar rota, por demora ao ponto de coleta, por acariação de pacote, além do bloqueio por questionamento, vários entregadores não tiveram coragem de aderir aos atos no sábado por medo de retaliação dos aplicativos”, conta Ralf. 

Faixa pendurada pelos entregadores que diz “Pelo fim da escravidão moderna”

Os entregadores reinvidicam o aumento da taxa por quilômetro rodado e garantias de segurança por parte das empresas, em casos de acidentes e para o combate à pandemia. “O Ifood disse que entregou EPI’s, mas na verdade só entregou uma vez e para um número muito pequeno de trabalhadores, não é o suficiente”, explica entregador ao Repóter Popular. Sem se identificar, o entregador denuncia, um colega se acidentou recentemente, e a empresa disse que forneceu ajuda. A ajuda, no caso, foi mandar outro entregador para terminar o serviço”.

Em meio à manifestação, um dos entregadores que compareceu estava de muletas, pois havia se acidentado recentemente. Um dos organizadores da manifestação não pôde comparecer devido um recente acidente em Niterói. 

Além dos entregadores, muitos usuários compareceram à concentração na Candelária em apoio à paralisação, um grupo de manifestantes distribuiu quentinhas para fortalecer a mobilização.Eles não tem patrão, não tem nada, mas ao mesmo tempo os caras falam que empregam 40 milhões de brasileiros. Só que aí quando um indivíduo vai reivindicar o seu direito, os caras falam ‘não, eu não sou patrão de vocês não, afirma Janderson em entrevista ao Repórter Popular, que compareceu à manifestação em apoio a luta dos entregadores. 

Moto de um dos entregadores com um cartaz com os dizeres “Nossa vida vale mais que o lucro deles”

Segundo relatos de trabalhadores da categoria, um dia de trabalho pode chegar à 12 horas, com um ganho de mais ou menos 50 reais. Muitos entregadores não conseguem se alimentar durante a jornada de trabalho, pois o gasto com alimentação nas grandes cidades é muito alto, e o dinheiro ganho com as entregas muitas vezes não é o suficiente.

A uberização do trabalho dissolve qualquer tipo de direito trabalhista e vínculo empregatício, o que deixa esses trabalhadores completamente desamparados. Esse regime de trabalho pode ser comparado às exaustivas jornadas de 12 horas com baixa remuneração do início do século XX, e novamente nos coloca o desafio de construir uma luta capaz de conquistar as demandas dessa nova categoria de trabalhadores e trabalhadoras por vida digna e avançar na construção do poder popular. Os entregadores do Breque dos Apps estão mostrando o caminho: é só com luta que se enfrenta a exploração dos de cima.

Matéria de Júlia Aguiar e Alê pelo Repórter Popular.