Trabalhadores da saúde no Rio seguem em greve contra o sucateamento do serviço público

Texto do Movimento de Organização de Base (MOB-RJ)

A greve dos trabalhadores da saúde da cidade do Rio de Janeiro caminha para o seu nono dia, incluindo enfermeiros, servidores, médicos da prefeitura que estão sem receber seus salários desde outubro. Além da falta de insumos e materiais para o funcionamento dos serviços dos hospitais municipais, que é uma infeliz realidade já conhecida por aqueles que utilizam o serviço público de saúde.

Os mais afetados com o descaso da prefeitura de Marcelo Crivella são os trabalhadores contratados por OS (Organizações Sociais), uma espécie de terceirização que já domina alguns hospitais da cidade como, por exemplo, o hospital Albert Schweitzer de Realengo. Albert Schweitzer é um dos maiores hospitais públicos da cidade e foi municipalizado no governo anterior justamente para lidar com a crise financeira estadual do Rio de Janeiro e, neste mês de dezembro, o hospital fechou as portas. Grande parte dos trabalhadores do hospital são contratados por OS e estão sem receber há meses e sem insumos para realizar os atendimentos. Desse modo, o hospital não consegue funcionar, deixando a população trabalhadora carioca sem atendimento.

Os trabalhadores da saúde, com o apoio da população que utiliza e necessita dos hospitais públicos, têm puxado atos e mobilizações para chamar atenção para essa situação insustentável que foi criada no Rio de Janeiro. O prefeito Marcelo Crivella se recusa a receber os representantes da categoria e muito menos a resolver a questão dos salários atrasados e da precariedade dos hospitais municipais. Enquanto isso, trabalhadores morrem na espera de atendimento, peregrinando de hospital em hospital, desamparados pelo Estado e os funcionários se desesperam, passam necessidade, sem ter condições de pagar as contas ou mesmo de se alimentar. Afinal, a prefeitura atrasa os salários, mas os boletos do aluguel, da luz, do gás dos trabalhadores nunca atrasam.

Não bastasse essa situação de calamidade geral que a população carioca tem enfrentado nesses últimos meses, na terça-feira (17 de dezembro), a prefeitura anunciou a suspensão dos pagamentos dos servidores municipais, afetando o 13º pagamento da categoria. A absurda justificativa dada pela prefeitura foi que “o cobertor é curto” e, não tendo dinheiro, não teria outra opção senão suspender os pagamentos e os serviços municipais de saúde. As mobilizações prosseguem, assim, pois em hipótese alguma é aceitável que uma categoria de trabalhadores fique meses sem receber por seu trabalho e hospitais públicos fiquem sem funcionar enquanto a população padece sem atendimento. Não há sossego, o sofrimento é cotidiano e o desespero cada vez mais geral.

O projeto que essa prefeitura representa não garante vida e saúde para a população trabalhadora. Ao não oferecer condições para que um serviço público de saúde seja realizado, a prefeitura de Crivella está matando aqueles que não tem condições de recorrer ao serviço privado. Afinal, como alguém que ganha um salário mínimo no Rio de Janeiro teria possibilidade de pagar 1000 reais num tratamento médico e mais uma fortuna em remédios?

A população já sofre com os altos preços dos alugueis, da conta de luz, dos alimentos que não cabem no orçamento do trabalhador que vive com um salário mínimo e, se adoece, não tem amparo. Os direitos aos salários e à saúde pública são conquistas históricas de muita luta dos trabalhadores, mas essas conquistas estão em cheque hoje no Rio de Janeiro. É necessário neste momento reforçar a solidariedade de todas as categorias de trabalhadores com os companheiros servidores municipais e com a população que padece e morre sem atendimento. O governo de Marcelo Crivella não cansa em atacar e precarizar os trabalhadores por meio das terceirizações, dos atrasos de salários, do fechamento hospitais, desamparando completamente a população, diferente do tratamento dado aos seus aliados políticos, para os quais “é só conversar com a Márcia” que qualquer problema se resolve, como declarou o prefeito em reunião junto a pastores evangélicos em julho de 2018. Para nós, não há a quem recorrer senão a nós mesmos, nos restando apenas a solidariedade entre os debaixo e a luta contra os de cima para conquistar e garantir os nossos direitos.