Posicionamento da FAG diante da criminalização

Dia 26 de Outubro de 2017, fim de tarde no Ateneu Libertário A Batalha da Várzea – local público que comporta uma biblioteca, atividades de cultura e estudo e debate político. Em entrevista a mídias independentes (Repórter Popular, Sul Vinte e Um e Coletivo Catarse), a Federação Anarquista Gaúcha – FAG​, por meio de representante delegada para a função, expressou seu posicionamento diante da criminalização orquestrada pela Polícia Civil com apoio da grande mídia na operação chamada “Ébora”.

Prestando solidariedade à Parrhesia (cujo mandato se destinava também à FAG) e à Ocupação Pandorga, que tiveram seus espaços invadidos pela polícia, Lorena Castillo, retomou o histórico de perseguição sofrido pela FAG. É a quarta investida de repressão que sofre a organização desde 2009. Nos governos Yeda, Tarso e Sartori houve perseguição. Neste contexto de ajuste fiscal e golpe nos direitos, a representante da FAG afirma que a organização está inserida em frentes de luta popular, seja ela comunitária, sindical ou estudantil, e não precisa se esconder. Ao afirmar a atuação pública, a FAG defende o direito à livre associação sem medo. Conforme Lorena, ao contrário das organizações neonazistas que comumente o Delegado Jardim vinha investigando, a organização anarquista não se esconde, pois luta por justiça, combatendo as opressões, os ataques dos patrões sobre trabalhadores e a violência do Estado. A representante da FAG sugeriu ainda que o delegado volte às suas investigações sobre o nazismo ou investigue um clube de tiro que reproduz discursos de ódio defendendo o político Bolsonaro. Essas sim, verdadeiras ameaças à liberdade e à justiça. Para ela, uma operação e todo seu alarde, capitaneada pelo mesmo delegado que investigava grupos neonazistas em Porto Alegre, só existe por ignorância ou por má fé, uma vez que não há sustentação para as ações da investigação.

A ideologia do anarquismo reivindicada pela organização existe há mais de 150 anos no seio de lutas sociais ao redor do mundo. Ainda que haja diferenças no campo libertário, o ataque ao anarquismo de forma geral, segundo Lorena, abre o flanco para a criminalização de toda esquerda que não se adéqua ao jogo político das elites. Segundo a FAG, muitos grupos e organizações políticas têm enviado notas de apoio e solidariedade, ultrapassando as divergências no âmbito da esquerda em prol do embate contra a repressão.

Na interpretação da organização, a operação policial se baseia na produção ficcional de um argumento que junta ações isoladas, pessoas e grupos políticos de matriz libertária. É tão frágil a investigação que não foram encontrados artefatos como imaginados e se sabe que todos os pedidos de prisão foram negados pela Justiça. No entanto, fica evidente que a investida contra grupos que não se baseiam na institucionalidade parlamentar e, portanto, possuem menos defesas, tem como foco amedrontar um conjunto maior de organizações e grupos. Especialmente os mais combativos que se encontram em processos de lutas contra a retirada de direitos.

A motivação ideológica da operação, segundo a organização, fica ainda mais explícita quando se trata do papel da grande mídia. A RBS ajudou a criar a narrativa dos “maus” contra a sociedade, apresentando na TV máscaras de fantasia, livros e materiais recicláveis como provas de crimes. Outros programas de TV e reportagens que apresentaram a operação não perderam a chance de tentar conclamar uma suposta opinião pública contra um grupo difuso que sequer a polícia consegue provar existir. A grande mídia, segundo a representante da FAG, historicamente comprometida com os interesses de empresários e governos, mantém seu caráter anti-povo, produzindo terreno para a repressão àqueles que lutam.

A FAG iria promover um debate sobre a Revolução Russa, mas irá adiar a atividade, dando lugar a um ato público anti-repressão. O evento ocorrerá às 18h30 no Ateneu A Batalha da Várzea na Rua Lobo da Costa, 147 – POA/RS (https://www.facebook.com/events/488376668195823).