Em Porto Alegre, trabalhadores da saúde relatam péssimas condições e descaso da prefeitura

Enquanto o sistema de saúde se aproxima do colapso em Porto Alegre, que está com quase 100% de taxa de ocupação dos leitos de UTI, os trabalhadores do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS) reclamam de péssimas condições de trabalho e da dificuldade de atender a alta demanda de pessoas que têm procurado o serviço. Mais conhecido como Postão da Cruzeiro, a unidade é um dos postos de saúde mais movimentados da capital, com grande importância estratégica para o combate à pandemia. Na última segunda-feira (22) foi realizado um protesto reivindicando pautas que visem a melhora nas condições de trabalho e nas próprias condições de infraestrutura do Postão (confira as pautas reivindicadas neste link).

Os profissionais denunciam falta de testagem para Covid-19, pois têm enfrentado um surto da doença no local, por onde passam muitos pacientes infectados, o que tem contagiado muitos trabalhadores, colocando suas vidas em risco e os afastando do trabalho. Os trabalhadores alertam que essa falta de condições de trabalho afeta não só eles, mas a população usuária do sistema  de saúde, que sofre com a falta de infraestrutura também. A fila de espera para testagens só aumenta e o número de pacientes na fila para internação só cresce, os 4 leitos destinados para Covid-19 estão atendendo 14 pacientes que necessitam de internação. Há relatos de uma grande fila de espera, com muitas pessoas tossindo enquanto aguardam para ser atendidas.

A Tenda Covid, que foi montada ano passado para realizar testagem da população, está funcionando com número defasado de profissionais por conta da demissão de servidores e falta de repasse de verbas para os profissionais que estão sendo terceirizados depois da demissão dos servidores. E os usuários do sistema às vezes aguardam cerca de 12 horas para realizar o teste. Os servidores municipais relataram que os trabalhadores terceirizados contratados recentemente para atuar na tenda não estão familiarizados com a rotina de trabalho, muitas vezes faltam por conta da falta de repasse de verba, e também não há fiscalização efetiva do quadro de terceirizados. Os profissionais de saúde do PACS já sugeriram à Secretaria de Saúde do município a absorção dos servidores do IMESF pelas Unidades Básicas de Saúde do território, pois estes servidores já conhecem a comunidade do entorno, o território e a rotina de trabalho, coisa que os terceirizados ainda não desenvolveram. Mas a sugestão não foi atendida.

Há uma grande demanda de usuários com sintomas de Covid-19 e poucos profissionais para atender. Falta servidores e o direito à saúde dos usuários é vilipendiado, desprezado de forma criminosa pelo município. Tudo isso reflete em um clima tenso, em que os usuários do sistema se voltam contra as pessoas erradas e direcionam sua indignação aos profissionais de saúde, que já estão enfrentando péssimas condições de trabalho e um ambiente de extremo estresse e desgaste psicológico. No começo da tarde de hoje houve um princípio de confusão no Postão, usuários reagiram à longa espera pelo teste, e seguranças patrimoniais do posto tiveram de conter os mais exaltados.

Confira abaixo um registro do momento da confusão:

Os profissionais da saúde pública, que estão há quase um ano na linha de frente no combate à pandemia, continuam tendo seus direitos atacados pelo poder público municipal, que trocou de prefeito, mas segue atacando o funcionalismo público neste momento tão delicado, fazendo pouco caso com a saúde do povo, negligenciando a bandeira preta por meio de decreto da Lei Orgânica do Município, fazendo com que entre em vigor as medidas adotadas da bandeira vermelha, que são mais brandas, em meio ao caos sanitário. A falta de compromisso da prefeitura não é apenas com os profissionais de saúde, mas com a saúde pública, com a vida da população, pois um gestor que trata desta forma os  profissionais da linha de frente e a população enquanto leva em frente projetos de lei de destruição do funcionalismo público, propostos por seu antecessor, não é um gestor da vida, é um gestor da morte.

O Repórter Popular está em contato com alguns profissionais do PACS, para acompanhar o desenvolvimento futuro da situação neste posto de saúde.

A foto da capa é de Lucas Leffa/Sul21.