Grupo de Maracatu “Baque Mulher” ocupa praça no carnaval de Joinville (SC)

No sábado de carnaval (10), antes mesmo de iniciar a programação oficial da Prefeitura Municipal de Joinville, na Avenida Beira Rio, a Praça Tiradentes, no bairro Floresta, recebeu o Baque Mulher para fazer uma apresentação popular. Sem cordão de isolamento, polícia, governantes e patrões, o grupo tocou e foi prestigiado pelas pessoas que passavam pelo local.

Em 2017, o coletivo Baque Mulher tem realizado ensaios semanais e rodas de conversas mensais na Sociedade Kênia, localizada na Rua Botafogo, também no Floresta, clube este que é uma referência no combate ao racismo e na defesa do carnaval
como uma atividade cotidiana das classes populares.

Por uma hora e trinta minutos, crianças, juventude, trabalhadores, trabalhadoras de todas as idades, entre imigrantes haitianos e senegaleses, ocuparam o espaço como uma manifestação de resistência. Para uma das participantes do coletivo, Aliusha Martins, professora de história na rede municipal, é importante que o carnaval aconteça também nos bairros longe do centro, pelo fato da festa ser tradicionalmente feita na rua.

No ano de 2017, a prefeitura da cidade cancelou o carnaval e não disponibilizou nenhum recurso público para a tradicional festa brasileira. “A cultura popular é tratada como se precisasse de autorização, como se pudesse ser institucionalizada”, diz Aliusha. Por conta disso o carnaval foi comemorado também no último ano com festa na rua, organizada pelo povo da cidade.

Para a batuqueira Sara Silva, trabalhadora do comércio e moradora do bairro, a ocupação de um espaço como a Praça Tiradentes também tem conexão emocional.

“Estar compartilhando de um carnaval de rua com a comunidade do Floresta, num espaço tão representativo na história do bairro, me traz um sentimento de muita
felicidade”.

Para Josenita Lima, trabalhadora do comércio, participante do Baque Mulher e criada no bairro, é essencial que o maracatu, como brincadeira de rua, esteja próximo da comunidade, ainda mais na praça, que é ponto de encontro do Floresta.

Rosimar Rohregger, aposentada, assistiu a apresentação do coletivo. “Achei muito bonito, me comoveu e reflete a cultura”, diz, essa foi a primeira que ela viu a filha Sara Silva tocando. Para ela, ter esse tipo de evento é bom para o acesso das pessoas, “ainda mais numa praça ao ar livre, onde pode levar as crianças”, explica.

Josi finaliza: “nós, do Baque Mulher Joinville, como fazedoras de uma cultura de rua, achamos importante e essencial estar presentes nesse processo e ajudando a ocupar esse espaço, e de quebra, aproximando a comunidade local.”

Texto por: Selena Goldman e Flávio Solomon
Fotos: Flávio Solomon