19J mostra a potência das ruas contra o genocídio

Texto de opinião de Rafael Morais

Sábado, dia 19 de junho, amanheceu como uma manhã inicialmente nublada em Maceió (Alagoas). Apelidado pelos movimentos e grupamentos que retomaram as ruas como 19J, foi mais uma manifestação de insatisfação com a gestão do governo Bolsonaro nos últimos anos, agravada pelo desastre anunciado pela pandemia.

Ao longo da manhã um sol intenso se instalava e sentíamos a vontade de lutar expressada pelas lutadoras que se agrupavam abaixo das árvores da Praça Centenário, cenário de diversas manifestações ao longo dos últimos 10 anos. As manifestantes se organizavam em diversas comissões, a infraestrutura trouxe os materiais necessários para a organização do ato; a comunicação repassava informações essenciais e realizava filmagens e entrevistas; a da saúde prestou atendimento de urgência, distribuiu máscaras, álcool em gel e dialogou a importância do distanciamento físico de um metro e meio.

Em meio às preparações, diversas intervenções artísticas ecoavam na praça, como a música potente dos tambores do AfroDendê, composto por crianças e adolescentes periféricos de Alagoas, que batia no compasso do coração das lutadoras e lutadores naquela manhã.

O professor Luciano Amorim, membro da Federação Anarquista dos Palmares e da Frente Comunitária da Resistência Popular Alagoas, conta como se sentiu em meio ao movimento:

Meu sentimento de estar nas ruas foi de inúmeras revoltas. Revolta pelos meus que se foram. Revolta pelos tantos que irão desfalecer nas mãos deste estado. Mas, revolta de força ao ver que apesar de tudo, a rua é potente, gigante e que nunca estive só.

Explica ainda a importância que o ato teve para os setores populares em luta. “O ato conseguiu dar ignição ao processo de organização da luta popular neste período pandêmico. A possibilidade de estar nas ruas outra vez, de forma organizada, é uma resposta aos setores conservadores e negacionistas de que não permitiremos mais sermos o alvo.”

Mostrando a força das ruas, o povo reunido em diversos agrupamentos, com suas bandeiras e demandas comuns como vacinação para todas e todos, comida no prato quem tem fome e auxílio emergencial suficiente para se proteger contra a COVID-19, demonstrou toda a capacidade de lutar e acender a fagulha necessária para transformar um período de dor e sofrimento em uma luta cada vez maior por uma vida digna.