“Uber covarde! 5 anos sem reajuste”; Motoristas organizam nova paralisação nacional

Após o sexto aumento anunciado pela Petrobras neste ano, o avanço desfreado da pandemia, o colapso do sistema de saúde e o aumento do custo de vida, motoristas de aplicativo de todo o país fortalecem o chamado de mobiliação para o próximo dia 17 de março por redução dos preços do combustível e tarifas mais justas no aplicativo.

A categoria extremamente afetada pelo aumento dos combustíveis vem se mobilizando, e já realizou um ato na sede da Uber ainda em fevereiro (23) deste ano. Entre as pautas estavam o fim das promoções na 99, o 99poupa, e na Uber, o Uber promo. Além disso, outra revindicação era pelo fim da taxa que é paga para a empresa de aplicativo a cada corrida. Foi realizada uma conversa e entregue um documento à representantes da Uber, com as revindicações dos motoristas. A empresa teria se comprometido em dar uma reposta ainda na outra semana, porém até agora não o fez.

Conversamos com alguns motoristas de Porto Alegre e da região metropolitana sobre a pandemia, sobre combustíveis, tarifas e a nova mobilização nacional do dia 17.

Trabalhando na pandemia

No momento em que o Brasil segue batendo recordes de morte e infecções por Covid-19 a mais de 15 dias seguidos, motoristas de aplicativo além de correrem mais riscos, estão precisando trabalhar ainda mais, como afirmou Fábio Lima, 38 anos, que trabalha como motorista da Uber e 99, há pelo menos 4 anos:

“Tem sido complicado, pois nos estamos trabalhando muitas horas e não está rendendo em função dos valores (das taxas do aplicativo). Nós não temos um suporte das plataformas para falar nesse momento de crise. A ideia das plataformas é colocar mais carros, ao invés de se preocupar com os motoristas que estão trabalhando nela.”

A maioria dos entrevistados comentou sobre o aumento da quantidade de horas trabalhadas e a perda de rendimentos, principalmente nesse último ano. Já Cristiano Tibes, de 33 anos, diz que diferente de alguns colegas que optam e podem trabalhar todos os dias, ele em função da família e dos afazeres de casa, se foca nas longas jornadas de trabalho mais aos finais de semana, principalmente a partir de sexta até domingo, quando trabalha “cerca de 12 a 14h” chegando “a fazer as vezes 16 a 18h”. E como “na Uber só posso trabalhar 12h, no final migro para a 99”. Cristiano afirma que devido a aumento dos custos sem um reajuste das tarifas do aplicativo, teve uma perda de 50% do seu rendimento.

Carina Trindade, de 41 anos, que também trabalha há pelo menos 4 anos na Uber e 99, relata que “na bandeira preta especificamente, temos que nos cuidar ainda mais. Não podemos levar mais de dois passageiros e não podemos levar sem mascara”. Carina também afirma que durante o período da pandemia já pegou Covid, estando agora pela terceira vez infectada.

Estando assim tão expostos ao vírus, muitos relatam se sentirem inseguros, mas afirmam não poderem parar de trabalhar. Como José Carlos, de 56 anos, motorista há pelo menos 3 anos da Uber e 99, afirma que ainda não pegou Covid porém sente que o vírus “está cada vez está mais próximo”. José Carlos também fala que vem mantendo ao máximo a higienização do carro, porém vem enfrentando problemas de conscientização com os passageiros sobre o uso de máscaras.

“Alguns não usam ou deixam ela no queixo. Muitos afirmando que esqueceram em casa ou de que vão colocar a gola da camisa no rosto, uma série de desculpas esfarrapadas. Ultimamente eu tenho endurecido com esse comportamento, não arranco o carro sem que coloque a máscara.”

5 anos sem reajustes

Quando questionamos os entrevistados sobre o impacto do aumento dos combustíveis no trabalho, é unânime entre todos de que isso os tem afetado, porém, aqueles que usam GNV, apontam que sofrem um pouco menos, como é o exemplo de Carina, mas afirma que “dos meu colegas, muitos que trabalham com carro locado estão devolvendo os veículos a locadora, pois não estão conseguindo pagar seus alugueis, e sobreviver ao mesmo tempo”.

As opiniões sobre o aumento do combustível e sobre a resolução do problema podem divergir. Alguns apontam para a necessidade de reduzir os impostos sobre o combustível, principalmente o ICMS cobrado pelos estados que compõem praticamente 1/3 do valor do combustível, enquanto outros apontam para a necessidade de acabar com a política de preços da Petrobras ligada ao dólar, a PPI (Preço Paridade de Importação), política implementada em 2017 pelo então governo Temer. Porém, é unânime a necessidade de reajustes nas tarifas e o fim de algumas promoções.

Sobre promoções como a Uberpromo e a 99poupa, José Carlos critica e aponta que as promoções são:

“uma espécie de promoção que a Uber faz com o dinheiro do motorista. Ela reduz a cobrança do passageiro mas ela não retira dos seus cofres, ela tira do bolso do trabalhador. Ou seja, ela da o desconto sem dizer de onde, mas pra nos está implícito que ela tira do nosso bolso”.

Ainda sobre as tarifas do aplicativo, é unanime de que elas não tem sido justas para os motoristas e podendo representar até perdas em algumas viagens. Atualmente, a tarifa da Uber, por exemplo, é composta por três elementos: Kms rodado + minutos na corrida+ deslocamento (tarifa base variável por regiões), essa só começa a ser contabilizada quando ultrapassa o valor mínimo, atualmente de R$ 5,20, que representa uma viagem média de 3 km.

No entanto, como explicado por Fábio, há problemas nessa conta:

“A taxa que a Uber hoje nos oferece é R$ 0,90 por Km rodado (líquido), R$ 0,14 (líquido) por minuto e uma tarifa base variável, que ela chama de deslocamento, que é fake. Isso é uma das coisas que nos estamos reivindicando que saía e volte a tarifa base (dinâmica). A tarifa base, de antes, era R$ 1,72 (líquida) e nos estamos pedindo pra que ela suba para R$ 2,73”.

De acordo ainda com Fábio, “isso que nós estamos fazendo é pra ficar, pelo menos justo, porque hoje nós temos um custo de R$ 1,10 por km rodado e recebemos R$ 0,90 por km rodado, a gente fica em deficit de R$ 0,20 centavos por km”. Ele explica também que esses números foram calculados levando os principais indexadores, e que foram feitos enquanto a gasolina ainda custava em média de R$ 4,70, ou seja, que possivelmente hoje esse valor seria ainda maior.

Mobilização 17 de março

O movimento de motoristas vem construindo no último mês várias paralisações regionais, porém a organização também está crescendo e agora estão chamando por uma paralisação nacional, para amanhã (17), pela união de todos motoristas. Os entrevistados, participantes de vários grupos explicam que as pautas seguem sendo as mesmas: o fim das promos (Uberpromo e 99poupa), reajuste das taxas, diminuição do valor do combustível entre outras.