Conheça os grupos que lutam por vida digna na Grande Florianópolis

Desde o mês de junho, organiza-se no território da Grande Florianópolis um Comitê Local da Campanha de Luta por Vida Digna (CLVD). As ações na região envolvem diferentes frentes, vinculadas aos distintos eixos que a Campanha considera fundamentais para uma vida digna

Ações contínuas no campo do Abastecimento Popular buscam dar uma resposta à crise econômica e ao desemprego que atinge o povo com mais força durante a pandemia – envolvendo a coleta e distribuição de roupas, entrega de centenas de marmitas,  distribuição de cestas básicas, coleta de óleo e produção de sabão artesanal, entre outras ações descentralizadas organizadas após a publicação do Manual de Abastecimento. No eixo de Educação, foi produzido um conjunto de entrevistas com educadoras de diferentes espaços e redes da região. O eixo de Saúde foi contemplado com a produção de uma áudio-peça de valorização e defesa do SUS, projetando um futuro ideal para esse sistema que acaba de fazer 30 anos. A publicação da primeira cartilha de uma série destinada a abordar as diversas faces da violência doméstica e o seu enfrentamento também é resultado do trabalho junto ao eixo de Combate à Violência Contra a Mulher. O centro da cidade também foi palco de uma ação do eixo de Renda Digna, onde membros do Comitê Local dialogaram com as trabalhadoras da cidade sobre as suas dificuldades econômicasAlém disso, a Campanha já realizou a pintura de murais, colagens, panfletagens e prepara novas ações ao passo que vai crescendo com a adesão de outros coletivos.

Segundo o Comitê Local, embora os grupos já tivessem afinidades entre si e algum nível de contato, a participação na CLVD foi um momento de aproximar os laços e conhecer melhor a história e os objetivos de cada coletivo. A partir do debate realizado dentro da Campanha, o Repórter Popular convidou os grupos para uma breve apresentação.

Barraco Rap

Somos um projeto coletivo de comunicação e arte que tem sua vida gestada pelas trajetórias de seus membros e da união em torno do programa de rádio “O retorno do Barraco”, iniciada em 2019 e que segue até o presente. Pesquisa, música, arte-educação, rádio comunitária, audiovisual, novas plataformas digitais e jornalismo são pontos importantes de nossos interesses de trabalho. Nossos objetivos vão pelo fortalecimento da cultura Hip Hop; contribuição e criação de vínculos saudáveis para a juventude que cresce; construir visões e oxalá visionárixs que transformem a si mesmxs e o mundo pelos elementos da música e do conhecimento.

Coletivo Ka

O Coletivo Ka é um grupo autônomo de artistas de Florianópolis que busca dar uma resposta à eminente emergência alimentar. Organizado em ações emergenciais e ações de autonomia alimentar, o grupo distribui alimentos e kits de emergência às pessoas em situação de rua e vulnerabilidade, e viabiliza a possibilidade de xs vizinhxs gerarem seu próprio alimento através de práticas diretas como biblioteca de sementes, células de mudas, construção de hortas, oficinas de reconhecimento de PANCs (plantas alimentícias não convencionais) e jardinagem de guerrilha, isto é, plantação de hortas e jardins em locais públicos como parques, canteiros e terrenos abandonados. Como artistas, é nossa proposta planejar situações e expor possibilidades, a fim de fortalecer o movimento de luta a favor da segurança alimentar e nutricional para todxs.  Ações simples como deixar frutas ou mudinhas em uma caixa na frente de sua casa contribuem para promover diálogo e solidariedade com xs vizinhxs e passantes, além de criar um movimento livre e autônomo para a manutenção da vida.

Coletivo Pintelute 

O Pintelute é um coletivo de muralismo militante que visa apoiar visualmente os movimentos populares através de uma comunicação simples e direta de rua, levando aos muros as diversas lutas locais e nacionais. Inspirades na estética e ações de propaganda e agitação política popular das brigadas muralistas chilenas, o Pintelute nasce na cidade de Joinville-SC em 2013 e, em 2016, cria seu segundo núcleo em Florianópolis-SC.

Suas atividades consistem na confecção de murais realizados preferencialmente através de oficinas, sempre gratuitas e aberta a todas as idades. As propostas de criação do desenho até a sua finalização são debatidas e executadas de forma coletiva nas oficinas, ou, na falta delas, são conversadas junto ao local onde irá se inserir. Sem quaisquer intenções comerciais ou partidárias, o coletivo realiza murais apenas em espaços públicos e se mantém de forma autônoma através de doações.

Por conta da pandemia, as atividades presenciais têm sido evitadas e o coletivo vem se dedicando às artes digitais para fortalecer as diversas campanhas de solidariedade e construir a Campanha De Luta Por Vida Digna, mobilizada localmente em suas cidades e a nível nacional. Atualmente, compõe a comissão de comunicação da campanha, realizando as artes da mesma.

Feijovegan

A Feijovegan surgiu em 2018, é um coletivo antifascista de autogestão e ação direta. Não temos nenhum vínculo com partidos políticos, entidades de classe, instituições governamentais, religiosas ou iniciativa privada. Nossa conduta é baseada na liberdade dos indivíduos, na solidariedade e coexistência harmoniosa através da cooperação e apoio mútuo. Nosso objetivo é o resgate da dignidade, da identidade e do pertencimento, ocupando o espaço público para a partilha do alimento saudável e do lazer. A exclusão e a fome são mazelas causadas por uma sociedade exploratória e geradora de injustiças, uma realidade que precisa ser transformada com urgência. Convidamos vocês para ampliarmos a abundância existente e fazermos chegar à TODAS(OS) esse direito fundamental e inalienável para a manutenção da vida: o alimento!

GOTA

GOTA é o Grupo Organizado de Teatro Aguacero, um coletivo que se identifica com o anarquismo e faz teatro político e amador. O grupo teve origem a partir do curso livre oferecido por uma das nossas integrantes na UDESC, em 2018, sobre teatro e anarquismo. Foi daí que, depois de terminado o curso, algumas participantes decidiram constituir o grupo, nesse verão entre 2018-19. Desde então elas têm continuado a pensar e experimentar as possibilidades da relação entre esses campos. 

A principal via de colocar isso em prática tem sido a militância das integrantes em outros espaços, especialmente no movimento comunitário e estudantil. Nessas oportunidades procuram usar o teatro como meio de enriquecer a luta política de uma perspectiva anarquista, trabalhando principalmente com a memória das lutas por autoemancipação dos povos latino americanos. Buscam irmandade com as diversas expressões libertárias da cultura desse continente que tem uma história comum de exploração, de forma crítica mas sem sectarismo. Nos interessa o sentido comunal e a vontade de liberdade, principalmente enquanto expressão dos movimentos populares organizados; mas também quando são cantados numa pajada ou num repente por homens e mulheres do campo; ou quando são observados nos modos de vida nas aldeias ou nos quilombos; etc.

Resistência Popular Estudantil – Floripa

A Resistência Popular Estudantil – Floripa é uma tendência estudantil que nasce das ocupações estudantis na UFSC do final de 2016, com a recusa de fazer a luta estudantil servir a estratégias eleitorais ou projetos de conciliação com nossos inimigos de classe. Somos fruto daquela rebeldia estudantil que marcou o país, insurgência que semeou novas concepções e práticas para a luta popular.

A partir de seus princípios  anticapitalismo, autonomia e compromisso coletivo, autogestão, construção pela base, ação direta, autocrítica e combate às opressões estruturais  a RPE-Floripa busca mobilizar estudantes de graduação e pós-graduação, além de somar esforços junto a outros movimentos sociais e manifestações da cidade para lutar por uma universidade que sirva aos interesses do povo.

Teatro Comunitário Vermelho Riu

O Grupo de Teatro Comunitário Vermelho Riu se inicia em 2018 com a junção de pessoas do bairro Rio Vermelho, de Florianópolis, que tinham um desejo em comum: fazer teatro no bairro com nossas vizinhas e vizinhos. O grupo montou a peça “Greve das Inquilinas” e apresentou em vários lugares, como em escolas para as EJAs, ocupação Marielle Franco e no Sarau Vermelho. Mas a gente queria que mais gente participasse do grupo, então, em 2019 começamos a dar oficinas de teatro gratuitas no bairro, para todas as idades. Assim crescemos, brincamos e construímos com crianças, mães e quem mais quisessem chegar. Nós acreditamos que qualquer pessoa tem essa essência teatral dentro de si e pode sentir a alegria de fazer teatro, de uma maneira horizontal, divertida e política.

Batalha do Norte – Zona Norte Solidária

A Batalha do Norte é uma batalha de MCs e um movimento cultural fomentador da história e da cultura do Hip-Hop no Norte da Ilha. O movimento começou nos Ingleses e, depois, passou pro trapiche de Canasvieiras, acontecendo aos domingos, às 18hrs, desde 2012. Desde o começo da pandemia, se encontra com as atividades presenciais suspensas.

O objetivo da Batalha é a interação social saudável com todos os agentes da rua presentes: o público, MCs, quem está em situação de rua, os moradores dos bairros, etc.  Tendo seus pilares na cultura Hip-Hop, a batalha busca integrar todo os elementos da cultura para além dos duelos de MCs, trazendo grafiteires, bboys e bgirls, pixadores, DJs, beatboxers, etc., para junto dos eventos e agregar na vivência de geral que participa do movimento. Além disso, também procuramos levar a Batalha para diversos espaços, como escolas, centros de assistência social, eventos beneficentes, e etc., não só em Canasvieiras mas em outros bairros também, sendo esses espaços organizados ou não pela Batalha do Norte, com a intenção de espalhar as ideias e vivências do Hip-Hop pela Ilha, porque acreditamos na força que o movimento tem de transformar vidas.

Em todos esses quase 9 anos de BDN, o movimento vem crescendo, se transformando e amadurecendo pra cada vez mais estarmos ativos e podendo agir a favor da população do norte da ilha. A campanha Zona Norte Solidária, criada no começo da pandemia, vem, não como primeiro passo, mas talvez com o mais relevante nesse momento, com o objetivo de alcançar algumas famílias aqui do norte com cestas básicas, roupas, marmitas e kits de higiene, com o foco para a distribuição de marmitas, kits, e roupas para a população em situação de rua, que sempre fez e faz parte da história da Batalha Do Norte, pois a rua, além de ser o nosso espaço de encontro nos domingos, sempre foi a morada de muitos.