Com o cancelamento da exposição Queermuseu, ativistas organizam ato pela Liberdade

Após Receber diversas críticas e ataques de movimentos cristãos e do MBL – Movimento Brasil Livre, a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira foi encerrada neste domingo (10/09), um mês antes do previsto pelo Santander Cultural. Dentre as críticas voltadas à exposição, estão blasfêmia e incitação à zoofilia e pedofilia.

Com um acervo de mais de 270, a exposição era um espaço de visibilidade LGBT+ e trazia à tona a reflexão e discussão, não apenas sobre gênero e sexualidade, mas também sobre o preconceito e a luta diária da comunidade. Uma das obras mais criticadas nas redes sociais leva a imagem de crianças com inscrições como “Criança viada travesti da lambada” e “Criança viada deusa das águas”. Esta obra (imagem principal), de acordo com os grupos que se opõem à exposição, faz “apologia à pedofilia”.

Em forma de repúdio à decisão do Santander Cultura de retirar a exposição, ativistas estão organizando o “Ato pela Liberdade de Expressão Artística e Contra a LGBTTFobia” para a próxima terça-feira (12), às 15h30min em frente ao prédio da Rua Sete de Setembro, 7, no Centro Histórico de Porto Alegre. O ato sairá em defesa da liberdade de expressão artística, das liberdades democráticas e contra os retrocessos políticos que limitam o exercício de cidadania da população LGBTT.

Para o curador Gaudêncio Fidelis, a decisão de cancelar a exposição foi arbitrária e parcial. “Não fui consultado pelo Santander sobre o fechamento. Fiquei sabendo pelo Facebook. Logo em seguida, recebi uma rápida ligação da direção do museu, em que fui comunicado da decisão. Perguntaram se eu queria saber a opinião do banco sobre o assunto. Respondi que não precisava, uma vez que a nota divulgada já dizia tudo”.

A nota a que Fidelis se refere, foi publicada pelo Santander por meio sua página no Facebook. Na nota oficial, o banco pede “sinceras desculpas” a todos que se sentiram ofendidos com a mostra. O banco afirma também que tem o objetivo de “incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo” mas, que diante às criticas, foi decidido o cancelamento da exposição.

“Já fiz duas bienais do Mercosul, nunca tinha visto algo parecido. As manifestações foram muito organizadas e se debruçaram sobre algumas obras muito específicas, que não dão a verdadeira dimensão da exposição. Esses grupos mostraram uma rapidez em distorcer o conteúdo que não é ofensivo”, conclui Fidelis.

“Todo mundo perde muito”

Douglas Reis, é Publicitário, Drag Queen e ativista LGBT+,  tem 26 anos e prestigiou a exposição. A notícia do cancelamento veio acompanhado de surpresa e revolta. “O cancelamento da exposição Queermuseu foi mais uma oportunidade perdida. A arte abstrai o literal e essa é uma forma saudável de iniciar um debate acerca de qualquer temática. Com a diversidade não precisava ser diferente. Mas parece que um grande número de pessoas não está disposto a refletir sobre os seus privilégios e considerar realidades distintas da sua”.

Em seu depoimento, Douglas critica o cancelamento da exposição e afirma que essa é uma decisão que prejudica a todos. “Não são só as pessoas LGBT+ que perdem. Todo mundo perde muito. Perde a oportunidade de entender que dentro de cada um dos nossos umbigos egoístas há muito mais cor do que podemos enxergar”.

Mesmo lamentando, Douglas não vê motivos para recuar na luta. “Essa exposição poderia sido um passo para que cada vez menos pessoas fossem covardemente assassinadas. Uma pena que vá acabar. Mas a diversidade não vai. Ela está em todos os lados e ela não vai evaporar porque um grupo de pessoas privilegiadas resolveu bater o pé. Vamos enaltecer a cultura LGBT+. Vamos enaltecer a cultura não-branca. Vamos dar voz a quem sempre foi silenciado. Se não for no museu, que seja na rua. Mas que seja”.