A música ajuda a viver: a luta de uma categoria e seu sindicato para sobreviver

A pandemia da Covid-19, além dos seus efeitos para a saúde, tem causado um grande dilema para a sobrevivência dos profissionais da música no Brasil. Arrastados por anos para uma condição de trabalho precarizada, a maioria dos músicos vive na informalidade, na qual o artista só recebe quando se apresenta. Os teatros, casas de show e demais espaços de espetáculos foram os primeiros a fechar em decorrência da pandemia e muito provavelmente serão os últimos a abrir no final, o que leva a maioria dos profissionais da música para uma situação de miséria. Para o percussionista Anjo Caldas, da banda da cantora Elba Ramalho, o momento da pandemia mostra a fragilidade da profissão do músico: “O músico dependerá a partir de agora da vontade dos outros, da ajuda do governo ou de quem de alguma forma usa e se beneficia do seu trabalho, porque ele se encontra totalmente sozinho e abandonado”.

Déborah Cheyne, violista e vice-presidenta da Federação Internacional dos Músicos (FIM), relata que: “numa recente reunião virtual com a Federação, recebemos os informes de sindicatos de músicos mundo afora. Estes sindicatos criaram planos de emergência para seus associados e discutem com as autoridades políticas públicas direcionadas para os trabalhadores da cultura. Apesar de constrangida, relatei o que acontece no Brasil. Nossos sindicatos foram massacrados e hoje, além de campanhas, pouco podem fazer diretamente para suas categorias. E como se não bastasse, nossos canais de comunicação com o governo são desbotados”.

Tendo em vista a importância do apoio mútuo entre as classes oprimidas e tentando minimizar esse estado de abandono em que se encontra o músico neste momento crítico, o Sindicato dos músicos do Rio de Janeiro (SINDMUSI-RJ) colocou no ar uma campanha com o lema A música ajuda a viver, ajude quem vive de música com o objetivo de proporcionar um auxílio financeiro para os cem primeiros músicos inscritos. Os músicos, associados ou não, se cadastraram em um formulário divulgado pelo sindicato em seu site e redes sociais. A meta de inscrições e arrecadações na primeira fase foi ultrapassada de forma significativa, atingindo assim mais de 130 profissionais e suas famílias, demonstrando que é possível alcançar a tão almejada unidade nas ações da categoria junto ao sindicato – trincheira que é na luta pelos interesses dos músicos.Fundado em 1907 como Centro Musical do Rio de Janeiro, o SINDMUSI é um dos mais antigos sindicatos em funcionamento no Brasil, com uma atuação relevante para o reconhecimento,dignidade e regulamentação da profissão de músico no Brasil, historicamente estigmatizada.

No entanto, a crescente desmobilização da categoria, decorrente do discurso do“empreendedorismo” e da doutrina da meritocracia, atomiza o trabalhador da música e fragiliza ainda mais as suas entidades de classe. Em relação aos recentes acontecimentos, Anjo Caldas espera que “os músicos nesse momento difícil entendam e vejam a importância de uma categoria ter sua profissão regulamentada e com entidades que possam representá-lo, caso contrário estarão sozinhos, o que torna muito mais difícil superar e vencer a pandemia e todos os problemas da nossa profissão”.

Quem quer doar para a campanha “A música ajuda a viver, ajude quem vive de música”, pode utilizar os seguintes dados bancários:

Bradesco

Ag: 2545

Conta Corrente: 9480-3

CNPJ: 27.903.624/0001-75

Sindicato dos músicos do estado do Rio de Janeiro