14 anos de resistência serigráfica!

São 14 anos de uma experiência de trabalho, formação e elaboração serigráfica coletivas. E o Repórter Popular quis conhecer um pouco mais dessa história e trajetória e compartilha agora com seus leitores a conversa que tivemos com o Ateliê de Serigrafia da Restinga, zona sul de Porto Alegre.

 

RP: Qual a história do Ateliê e quando ele iniciou suas atividades?

Seria interessante despessoalizar esta entrevista. Os frutos dessa breve história resultam de uma parcela de pessoas que de alguma forma passaram por este espaço de produção visual e de ofício. Quem vai responder simbolicamente sobre esta trajetória será um elemento fundamental no ofício de uma serigrafia: o Rodo. Testemunha ocular e partícipe desta história e amigo de toda e qualquer pessoa que se aventure a ser protagonista deste ofício. Eis o próprio:

Começamos este projeto aqui no Bairro Restinga em maio/abril de 2003. A ideia era elaborar um ateliê de serigrafia voltado ao suporte das demandas de propaganda da Resistência Popular. Mas também fazer parte de um projeto do comitê de Resistência aqui da Restinga que era o de formar e capacitar pessoas naquilo que chamávamos de frentes de emergências de trabalho. Passado o período de formação, constituímos uma Cooperativa de Serigrafia formada por mulheres aqui do bairro. Esta cooperativa teve duração de dois anos e após esse período, acabou por reduzir o seu numero de participantes e ficar voltada apenas para elaboração e execução da demandas da Resistência Popular e seus aliados nas frentes de luta. Desde então passamos por diversas experiências que nos oportunizaram o aprendizado de técnicas e modelos distintos no campo das arte/gráficas e que nos permitiram colaborar nas lutas que travamos desde então: laboratório de criação do Coletivo Muralha Rubro Negra; oficinas de formação para coletivos simpatizantes e aliados da Resistência; elaboração de campanhas em solidariedade a companheiras e companheiros em luta; forte campanha de denúncia e de memória aos desaparecidos e assassinados políticos; presença do ateliê instantâneo em atividades de debate, formação e mobilizações na rua, etc.. Enfim, uma ferramenta viva, formativa e produtora de sentido das nossas demandas.

RP: Porque manter um ateliê de serigrafia ao invés de utilizar os serviços de uma empresa de comunicação?

Quando um rodo imprime uma camiseta ou um cartaz, essa ação é aplicada por um conjunto de procedimento que não se resume ao ato de imprimir. O debate que decide a linha de intervenção da propaganda, a síntese visual da peça que vamos reproduzir – seja um cartaz, uma camiseta ou um mural – a impressão em si, a vinculação na rua, todo esse processo é coletivo e não individual. Delegar a um terceiro que não compartilhou toda essa trajetória é perder esta oportunidade de debate, formação e intervenção. Entregar esta tarefa a um empreendimento não vinculado à luta é desperdiçar a oportunidade de vivenciar um caminho muito rico da formação e protagonismo daqueles e daquelas diretamente vinculados a uma demanda. Além do mais, é tradição de uma fração de lutadores e lutadoras, marca da matriz libertária, a responsabilidade militante de elaboração e execução, da forma de pensar e colocar na rua a sua propaganda.

RP: São realizadas oficinas no Ateliê?

Hoje estamos operando de uma forma distinta. Temos um companheiro que se dedica exclusivamente a receber companheiros e companheiras no ateliê onde este percorre cada passo da elaboração execução de uma peça de propaganda. Não são aceitas encomendas. É oportunizado que estes, sob orientação, elaborem a síntese da arte final, a gravação de telas, a impressão, a limpeza e o reaproveitamento da matriz serigráfica. Também deslocamos parte do aparelho serigráfico em determinadas situações e conforme a necessidade para fazer aquilo que chamamos de Serigrafia Instantânea, onde proporcionamos a elaboração de arte final por recorte e a impressão de imagens pré gravadas.

RP: Quem financia o espaço?

O sustento fica por conta da cotização de companheiros e companheiras vinculadas a uma determinada frente de luta que recorre ao ateliê, ou a colaboração de frentes em unidade nas lutas. Ainda assim, alguns serviços de serigrafia são prestados aqui na região do sul e extremo sul de Porto Alegre com foco nas demandas e insumos do ateliê.

RP: Agradecemos pela entrevista e desejamos vida longa ao projeto.

Pintar e Lutar… até o inferno se preciso for!!!