1° de maio: Nossos direitos foram conquistados com sangue e luta!

Editorial da Campanha de Luta por Vida Digna

“Nós queremos construir um mundo de festa, trabalho e pão. Para isso não há dúvidas, quanto a necessidade urgente de criticar a concepção de trabalho alienado que vivemos – essa que gera riqueza para outros e que, em muitos casos, nos adoece, nos afasta de nossa família, de nossos amores. Mais que uma crítica, é preciso forjar uma concepção outra de trabalho.” (Por Terra e Território, Caminhos da Revolução dos povos no Brasil, 2021).

A luta da classe trabalhadora ao redor do mundo nunca parou. São nossas as mãos que plantam e colhem alimentos, que constroem e operam máquinas, que dirigem e entregam mercadorias, que projetam, fabricam, embalam, distribuem e vendem produtos. Palavras como estas, presentes no manifesto do lançamento da Campanha de Luta por Vida Digna, celebram a existência e resistência de trabalhadoras e trabalhadores em sua luta histórica por melhores condições de trabalho e vida. O 1° de Maio é uma data para lembrarmos, reafirmarmos e celebrarmos essa luta, que nos mantém em movimento.

Há um ano a Campanha de Luta por Vida Digna vem atuando em todo o território nacional com os de baixo, fortalecendo e exaltando a luta de quem com sua força move e constrói o mundo. E essa luta por vida digna atravessa o tempo: ela é sobre aqueles e aquelas que lutaram e lutam pelo seu pão, sua casa, sua terra e por uma educação que represente o povo. É sobre aqueles e aquelas que nos ensinaram e ensinam a não obedecer e ser explorados, a não aceitar viver como miseráveis enquanto os ricos vivem em nossas costas. É sobre acreditar que esse sistema não nos serve enquanto explora e mata os que trabalham na terra e nas cidades, assim como contamina nossas águas e deixam as matas desertas e inférteis. Não somos apenas o que os ricos criaram sobre nós, somos força e sabedoria, coragem e trabalho para erguer e sonhar um mundo melhor. Por isso saudamos todas e todos os trabalhadores que nunca desistiram da vida digna. E afirmamos que, mais do que nunca, a luta pela vida digna é uma emergência.

A pandemia vem escancarando problemas sociais que há séculos afetam a vida de quem trabalha, em um sistema que serve apenas aos ricos e patrões e se baseia na desigualdade e exploração da força de trabalho e precarização da vida da classe trabalhadora. Temos que nos submeter a deslocamentos em ônibus e metrôs lotados, a exercer nosso trabalho sem receber os EPI’s necessários e com salários que não nos garantem nosso sustento básico ou sem um auxílio digno de renda para enfrentarmos a pandemia. O desemprego só cresce, o custo de vida só aumenta e nos semáforos nos deparamos com mais pessoas tentando garantir sua sobrevivência, nas ruas dirigem sonolentos ubers e motoboys, enquanto os de cima seguem precarizando nossa vida, juntamente com nosso trabalho.

Desde o último 1° de Maio vimos a pandemia se agravando e suas consequências se escancarando. Não temos dúvidas de que o plano de gestão da pandemia em nosso país é um plano de extermínio da população e que essencial pros de cima é manter o lucro dos ricos. É uma afronta à saúde e à vida de trabalhadores e trabalhadoras que neste período de crise estejamos voltando ao mapa da fome enquanto temos novos bilionários acumulando às custas de nossas vidas. Não distante, fica evidente como as estruturas que mantêm os ricos estão diretamente ligadas ao racismo, machismo e ataque aos povos originários. São as mulheres negras as mais afetadas, seja pelo desemprego ou com empregos informais e precários em funções domésticas, ou ainda enquanto profissionais da saúde. Além disso, são principalmente elas que lidam com o crescente índice de violência em suas casas, consequência do distanciamento social, que mantém homens em casa e em muitos casos alcoolizados, gerando ambientes inseguros para estas mulheres e mães. Fica evidente que os pilares desse projeto de extermínio são o genocídio de vidas pretas, indígenas e dos de baixo, que regam as estruturas com seu sangue enquanto o lucro enraiza, cresce e sufoca os oprimidos.

Não temos mais tempo a perder, nossa luta é urgente, desesperada e justa. Vamos seguir nos organizando em sindicatos de luta, coletivos, associações de moradores, grupos e comitês de solidariedade e apoio mútuo nas comunidades, quilombos e aldeias para o enfrentamento da pandemia e pela superação das situações de opressão que o capitalismo nos impõe. A Campanha de Luta por Vida Digna segue com suas ações em 2021, pautando saúde e renda digna para o povo e buscando impulsionar e fortalecer a luta daquelas e daqueles que fazem o mundo girar e que sabem o que significa ter uma vida digna. Convidamos todas e todos a seguirem nessa luta e fazendo perguntas como as de Brecht em seu poema, que encerra este texto: Quem entrega os lanches em nossas casas? Quem nos atende quando temos algum problema na internet? De quem é tirado o direito de plantar? Quem dirige o ônibus? Quem embala nossas compras no mercado? Quem fez a geladeira de nossa casa? São tantos quem e tantas questões…a resposta tá na mão de quem peleia, pois o mundo existe porque existe a força de quem trabalha. Nossos direitos foram conquistados com sangue e luta. Viva o 1° de maio!

PERGUNTAS DE UM TRABALHADOR QUE LÊ

Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?

Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram pedras?

E Babilônia, tantas vezes destruída, quem a reconstruía sempre?

Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a edificaram? No dia em que a Muralha da China ficou pronta, para onde foram os pedreiros?

A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo: quem os erigiu?

Quem eram aqueles que foram vencidos pelos césares? Bizâncio, tão famosa, tinha somente palácios para seus moradores?

Na legendária Atlântida, quando o mar a engoliu, os afogados continuaram a dar ordens a seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho?

César ocupou a Gália. Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro?

Felipe da Espanha chorou quando sua frota naufragou. Foi o único a chorar?

Frederico Segundo venceu a guerra dos sete anos. Quem partilhou da vitória?

A cada página uma vitória.

Quem preparava os banquetes comemorativos?

A cada dez anos um grande homem.

Quem pagava as despesas?

Tantas informações.

Tantas questões.

Bertolt Brecht (1935)